A carinata, planta “prima” da canola e uma das promessas para a produção de combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês), passou com louvor no primeiro ano de testes comerciais de cultivo no Brasil. Com a colheita realizada nas últimas semanas, os índices de produtividade superaram com folga as projeções iniciais, abrindo a perspectiva de fortes avanços nos próximos anos.
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Os plantios comerciais foram feitos em 100 mil hectares por produtores que fecharam parceria com a australiana Nufarm, que forneceu as sementes. A empresa também garantiu contratos de compra firme por parte da BP, que utiliza o óleo de carinata em suas biorrefinarias de SAF na Europa.
Em Mato Grosso do Sul, que liderou o plantio no país com 10 mil hectares e já está com a colheita praticamente encerrada, a produtividade média ficou em 30 sacas por hectare. Embora tenha sido uma das menores entre todos os Estados que realizaram o cultivo, o resultado ficou bem acima da expectativa da Nufarm, que projetava um rendimento médio nacional entre 20 e 25 sacas por hectare.
Foram feitos plantios em oito Estados. Nas áreas de Cerrado, todas tiveram resultados acima das expectativas. Em Mato Grosso, a produtividade oscilou entre 30 e 30 sacas por hectare, e em Goiás ficou em 33 sacas por hectare.
No Paraná, o resultado ficou perto de 37 sacas por hectare. A colheita ainda não foi encerrada no Rio Grande do Sul — onde houve a segunda maior área plantada do país, com 7,5 mil hectares. Para Phillipp Minarelli, gerente de carinata da Nufarm Brasil, os resultados acima do esperado refletem o perfil dos produtores selecionados para realizar o cultivo neste ano.
“Nós brincamos que não é o produtor que escolhe a carinata, é a carinata que escolhe o produtor”, disse. Isso explica-se porque a carinata é adequada para servir de cultivo de cobertura, ou seja, após as duas primeiras safras de grãos (soja e milho), como técnica de conservação do solo que costuma ser adotada por produtores que têm mais cuidado com o manejo. “É um produtor que já se preocupa em não deixar o solo exposto, tem zelo na hora de plantar”, afirmou.
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Em todas as colheitas feitas até agora, segundo Minarelli, as produtividades superaram com folga o mínimo necessário para cobrir os custos de produção, estimado em 15 a 18 sacas o hectare. Em relação a outras culturas que também têm potencial para serem usadas como matéria-prima para SAF, a carinata não apenas tem um custo de produção menor, como também tem uma pegada de emissões de carbono inferior, observou.
Em média, cada megajoule de energia gerada pelo consumo de SAF à base de óleo de carinata emite 14 gramas de gás carbônico, enquanto a emissão do SAF à base de óleo de soja é de 68 gramas de CO2, de acordo com Minarelli. A baixa pegada de carbono deve permitir que o óleo de carinata tenha demanda aquecida para a aviação, setor com metas de descarbonização para cumprir a partir de 2027.
Um dos motivos que fazem a carinata mais sustentável do que a soja é a menor necessidade de fertilização com nitrogenados — o maior fator de emissão de gases na agricultura. “Houve produtor no Paraná que não aplicou nada de nitrogênio e vai colher 30 sacas”, disse o gerente da Nufarm.
Outra vantagem da carinata, segundo Minarelli, é que sua planta gera muita palhada, além de ter raízes que permitem a entrada de mais ar no solo, favorecendo o cultivo seguinte — da soja de verão. “Dá para plantar a soja mais facilmente, gastando menos diesel e pisoteando menos o solo”, afirmou. E, por ser de uma família diferente das oleaginosas e dos cereais, a carinata quebra as doenças existentes nas áreas de grãos, o que pode reduzir o uso de defensivos.
Também há vantagem na parte industrial. A carinata possui uma concentração de óleo que varia de 38% a 45% — o dobro do rendimento de óleo da soja.
A planta ainda sai na frente de outras culturas de inverno pela sua elevada resistência a extremos climáticos. Por ser originária da Etiópia, ela consegue sobreviver sem problemas a temperaturas de mais de 30ºC, e também a geadas. E foi o que de fato ocorreu neste ano, quando algumas lavouras no inverno chegaram a enfrentar quatro geadas e seguiram de pé, enquanto outras culturas também atingidas por geadas, como trigo e cana-de-açúcar, perderam produtividade.
Para 2026, a Nufarm pretende dobrar a área plantada com suas variedades no Brasil por meio das parcerias com os produtores.