
Produtores de café robusta do Acre viveram uma experiência inédita na última semana de setembro: eles apresentaram seu produto na Lavazza, uma das maiores torrefadoras do planeta, com sede em Turim, na Itália. A missão internacional, organizada pelo governo do Acre, por meio da Secretaria de Estado de Agricultura (Seagri), em parceria com o Sebrae, buscou apresentar o café amazônico aos compradores italianos.
Leia também:
Café é a segunda bebida mais consumida no Brasil; veja curiosidades
Chuvas animam produtores de café, que aguardam a florada das lavouras
Segundo maior produtor de café robusta da Amazônia, o Acre colhe cerca de 50 mil sacas por ano, atrás somente de Rondônia, cuja produção é de cerca de 3 milhões de sacas. Embora a região não produza safras volumosas, há um esforço na melhoria dos atributos do grão que começa a ser reconhecido.
No ano passado, por exemplo, quatro produtoras do Acre foram selecionadas no Concurso Florada Premiada, promovido pelo Grupo Três Corações, por meio do Centro Rituais de Cafés Especiais, em parceria com a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA). Agora, essas mesmas produtoras levaram suas amostras de café para serem avaliadas na Europa.
A missão incluiu visitas à Ballario Trasporti, empresa de logística com foco na cadeia do café, em Trinitá, à Universidade de Ciências Gastronômicas, em Pollenzo, à Fundação Lavazza e à Universidade de Turim, entre outras. “Levamos amostras de café torrado e cru, que foram muito apreciadas”, conta Marivânia Nascimento Mendes, cafeicultora do município de Epitaciolândia, que trabalha com café há quatro anos e com grãos especiais há três.
Missão internacional
Os seis produtores que participaram da missão, dos quais quatro são as mulheres que tiveram seus cafés premiados em 2024, voltaram da viagem com propostas concretas: “A Ballario Trasporti fez o pedido de um contêiner, 320 sacas, da safra 2026”, conta a produtora Antonia Kurzvski, de Brasileia. Segundo ela, os compradores italianos não tinham conhecimento que na Amazônia se produzia um café de tão boa qualidade e sustentável.
Nos últimos anos, o Acre tem apostado na qualidade de seus cafés, com adoção de variedades mais adaptáveis ao clima amazônico e uso de técnicas de manejo que valorizam os atributos da bebida, como a colheita seletiva e a fermentação. São cerca de 1 mil hectares cultivados por aproximadamente mil famílias, que hoje trabalham a cadeia produtiva do café.
O nosso café não é apenas um produto, é a história do povo acreano, que começa a ser internacionalmente reconhecida.
Desde 2013, o Acre tem fomentado a transição das lavouras seminais para as clonais, que são materiais mais produtivos e com maior qualidade da bebida, com a introdução dos clones de robusta amazônico, um híbrido produzido a partir do cruzamento do robusta com o conilon desenvolvido pela Embrapa para a região amazônica. “O cultivo do café é compatível com a floresta”, conta a agrônoma Michelma Lima, responsável pelo Núcleo da Cafeicultura da Secretaria de Agricultura do Estado (Seagri).
Produção sustentável
Em visita à Lavazza, empresa com atuação em mais de 100 países e referência na produção mundial de café espresso, a missão foi recebida por Mário Ceruti, diretor de Relações Institucionais e Sustentabilidade. “Ele ficou entusiasmado tanto em conhecer o café da Amazônia como com as histórias das produtoras, e pediu para que enviássemos novas amostras de cafés crus. Eles gostam do perfil fermentado”, conta a agrônoma.
Cerutti destacou que o Acre pode se tornar um exemplo mundial de agricultura sustentável, acrescentando que a Lavazza tem interesse em apoiar o desenvolvimento local, investindo em qualidade, laboratórios e capacitação.
A cafeicultora Antônia Kurzvski, que fez parte da missão, cultiva café robusta há sete anos em uma área de dez hectares. Ao lado do marido, ela produz em média 200 sacas por ano e, além de ser premiada nacionalmente no Florada Premiada, da Três Corações, também figurou entre os destaques do concurso estadual Quali Café. Para ela, a viagem à Itália foi decisiva. “Voltei muito confiante. Saber o que procuram e como posso me preparar para exportar foi muito importante”, diz.
Neste contexto, a união entre pequenos e médios produtores se tornou um tema central durante a missão. “Nós não temos como exportar sozinhos. A ideia é nos organizarmos em grupo para enviar juntos. Essa viagem mostrou que há espaço para o nosso produto, e também que precisamos estar preparados”, disse a produtora Marivânia, que cultiva 7 mil pés de café em uma área de dois hectares.
Além da visita à Lavazza, a agenda incluiu encontros com compradores de robusta interessados em conhecer o café acreano, visitas a cooperativas e universidades italianas, onde os produtores puderam conhecer laboratórios de análise, métodos de classificação e cursos voltados à formação de baristas e especialistas em café.
A troca de experiências mostrou, segundo os participantes, que a cadeia do café pode crescer no Acre de forma estruturada, combinando qualidade, inovação e sustentabilidade. “Na Universidade de Turim foi assinado um termo de cooperação para estudo das composições químicas dos cafés canéforas”, conta Michelma.
A expectativa é que, nos próximos meses, sejam enviadas amostras adicionais às torrefadoras internacionais para análises químicas e sensoriais mais aprofundadas. “A exportação poderá se tornar uma realidade já no curto prazo”, diz a agrônoma.