
Ao longo das últimas décadas, o Brasil tornou-se referência mundial em florestas plantadas O mundo está diante de duas crises que podem ter um enorme impacto na sociedade: perda de biodiversidade e mudanças climáticas. Já se sabe que soluções baseadas na natureza, como restauração e reflorestamento, podem contribuir com 30% da solução dessas crises.
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Nesse sentido, o Brasil está diante de uma oportunidade histórica: consolidar-se como uma verdadeira potência florestal, unindo sua incomparável biodiversidade à sólida experiência adquirida com a silvicultura de espécies exóticas.
É bem conhecido que o país abriga uma enorme diversidade de espécies arbóreas nativas que não encontra paralelo no mundo. Essa riqueza, se bem manejada, pode alavancar um novo ciclo de desenvolvimento sustentável, geração de renda, conservação da biodiversidade e protagonismo global na produção de madeira tropical.
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Ao longo das últimas décadas, o Brasil tornou-se referência mundial em florestas plantadas, especialmente com espécies exóticas como o eucalipto e o pinus. Isso só foi possível graças ao esforço conjunto de universidades, instituições de pesquisa e grandes empresas, que investiram em ciência, tecnologia e inovação. Essa rede de excelência foi responsável por grandes avanços em produtividade, manejo sustentável, melhoramento genético e aproveitamento industrial da madeira.
Nos últimos 15 anos, surgiram alguns investimentos privados em silvicultura de espécies nativas com plantio em escala comercial, com várias espécies. Em 2023, foi dado o primeiro passo para implantação de um Programa de Pesquisa e Desenvolvimento em Silvicultura de Espécies Nativas (PP&D-SEN), com apoio da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, Parque Científico Tecnológico do Sul da Bahia (PCTSB) e Bezos Earth Fund.
Agora, é hora de dar um passo além. É o momento de direcionar essa mesma força — de pesquisa, investimento e conhecimento técnico — para o desenvolvimento de uma nova economia florestal baseada na silvicultura com espécies nativas brasileiras. A crescente demanda internacional por madeira tropical para diversos usos, incluindo as novas tecnologias de madeira engenheirada, mostram o enorme potencial para aumentar a escala do reflorestamento com espécies nativas no país.
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Além disso, a silvicultura de espécies nativas pode contribuir para o sucesso na implementação de diversas políticas públicas, planos e programas de governo, como o Plano Nacional para Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg), o Plano Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas (PNCPD), o Plano Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC+), o Programa Floresta+ Sustentável, os Planos Estaduais de Recuperação da Vegetação Nativa e muitos outros.
Temos à disposição um patrimônio genético valioso, com espécies de alto valor ecológico, econômico e cultural. Potencial não falta: madeira nobre, óleos essenciais, frutos, resinas e uma infinidade de serviços ecossistêmicos podem ser explorados de forma sustentável, impulsionando cadeias produtivas regionais e promovendo inclusão social.
Mas, para que essa transformação aconteça, é preciso um chamamento coletivo. Precisamos de políticas públicas robustas, de incentivos à pesquisa aplicada, de marcos legais claros e eficientes e, sobretudo, de visão estratégica. É essencial que setor privado, academia, organizações da sociedade civil e poder público se unam e atuem em sinergia para fortalecer o setor de florestas nativas plantadas.
O Brasil tem a chance de liderar uma nova revolução florestal — uma que valoriza nossa biodiversidade e o conhecimento tradicional, que fortalece a economia verde e promove o bem-estar das futuras gerações. O mundo clama por soluções sustentáveis, e o Brasil tem a resposta em seu próprio nome.
*Nelson Barboza Leite é agrônomo e silvicultor. Daniel Piotto, Miguel Calmon e Samir Rolim são coordenadores do Projeto Bezos Earth Fund – Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Silvicultura de Espécies Nativas (PP&D-SEN)
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