Os países árabes podem ser alternativas para parte das exportações de setores do agronegócio do Brasil atingidos pela tarifa de 50% dos Estados Unidos. É o que aponta um levantamento da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB), que promove as relações comerciais entre o Brasil e as nações que integram a chamada Liga Árabe.
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“O cenário comercial atual apresenta oportunidades para diversificação da pauta brasileira exportadora para os árabes, bem como crescimento do mercado brasileiro atuante nesses países”, resume a Câmara, no documento, que sugere ações de ganho de mercado para produtos brasileiros.
A entidade considera o cenário favorável para um redirecionamento de parte das exportações destinadas inicialmente aos americanos, porque os embarques para países árabes estão aumentando e esses mercados estão ganhando cada vez mais importância na pauta comercial do Brasil.
O agronegócio acompanha a tendência. Em 2024, o setor representou 75,67% das exportações do Brasil para a Liga Árabe. Foram US$ 17,92 bilhões, 30,42% a mais que no ano anterior, quando os embarques geraram uma receita de US$ 13,74 bilhões. Em 2019, o valor foi de US$ 8,06 bilhões, com trajetória de crescimento desde então.
Nas importações, os fertilizantes são o segundo principal item da lista, atrás apenas de combustíveis, com liderança de ureia e fosfato monoamônico (MAP).
Exportações do Brasil para países árabes – destaques agro
Para mapear as opções aos Estados Unidos, o estudo usa dados de 2020 a 2024. Considera os principais produtos que o Brasil vende para os americanos e que estão sob a tarifa de 50%. Dessa lista, seleciona os que têm potencial nos mercados árabes.
“Para cada produto, apresentamos a alíquota ad valorem aplicada pelos Estados Unidos para o Brasil (adicionando 50% à atual) e a alíquota ad valorem média cobrada pelos países árabes do Brasil, que, na maioria dos casos, é mais vantajosa”, diz o estudo. Produtos incluídos na lista de exceções ficaram de fora do mapeamento.
Café e carne bovina
O estudo da Câmara Árabe indica que o café é um dos produtos que podem ter países árabes como alternativas aos Estados Unidos, ainda que em volumes menores. Os americanos são o principal comprador. No ano passado, importaram mais de 8 milhões de sacas de 60 quilos.
Os exportadores brasileiros de café ainda trabalham com a possibilidade de o produto brasileiro entrar na lista de exceções ao tarifaço. Ao mesmo tempo, a presença nos mercados árabes é crescente, informa a Câmara, especialmente na Arábia Saudita, Egito e Argélia.
“O Brasil já possui uma presença significativa e crescente em todos, indicando um claro potencial para aumentar as exportações e absorver parte do volume que seria destinado aos Estados Unidos”, avalia a CCAB, ressaltando que, nos países árabes, o café brasileiro entra sem cobrança de tarifa.
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A carne bovina congelada é outro produto que pode ter parte dos seus volumes redirecionados. Os Estados Unidos são o segundo maior cliente do setor no Brasil, atrás apenas da China. Emirados Árabes Unidos, Egito e Arábia Saudita também estão entre os 10 maiores compradores, ocupando as posições 3, 8 e 9, respectivamente.
O documento da CCAB destaca que, a depender do destino, a taxa de importação entre os membros da Liga Árabe varia de zero a 6%. Mesmo onde há cobrança, portanto, o mercado é mais atrativo do que o americano para o produto brasileiro.
Na região, os Emirados Árabes já são um mercado consolidado, em que o Brasil tem uma ampla liderança e negócios em rápida expansão. A Arábia Saudita é considerada promissora e com crescimento sólido.
Já o Egito, apesar de o Brasil ainda ser um importante fornecedor, requer atenção dos exportadores. Entre 2020 e 2022, pelo menos, o país era o terceiro principal destino da carne bovina brasileira. “A recente queda nas importações totais e nas exportações brasileiras sugere a necessidade de reavaliar a estratégia para este mercado”, destaca a Câmara Árabe.
Carne bovina recebeu a tarifa de 50% dos Estados Unidos. Produto congelado pode ser exportado aos países árabes
Jaelson Lucas/AEN
Entre os produtos de madeira, Emirados Árabes, Arábia Saudita e Marrocos são países que vêm aumentando as importações. No entanto, a participação do Brasil é “pequena ou nula”, o que abre oportunidades para abertura de mercados, especialmente para produtos de maior agregado, como portas e compensados.
No segmento, também há cobrança de tarifas de importação, que variam de zero a 30% conforme o produto. A CCAB pondera que, a depender do país de destino, a cobrança reduz a atratividade dos negócios, ainda que as taxas sejam inferiores à cobrada pelos Estados Unidos.
Promoção comercial
A Câmara de Comércio Árabe Brasileira observa que são necessárias ações de promoção comercial dos produtos brasileiros para aproveitar tais oportunidades. A entidade sugere um trabalho conjunto com autoridades e empresas, para o fortalecimento das relações diplomáticas e adaptação a exigências, como a certificação halal, para a produção que segue os preceitos do islamismo.
Nesta semana, representantes da CCAB apresentaram o estudo aos Ministérios da Agricultura (Mapa) e das Relações Exteriores (MRE). A entidade sugeriu a formação de um grupo de trabalho que inclua os adidos agrícolas nas embaixadas dos países árabes para verificar oportunidades de negócios.
Café é visto como um dos principais produtos brasileiros para os mercados árabes
Toni Cuenca/Pexels
O secretário-geral da CCAB, Mohamad Mourad, reforça que a carne bovina congelada e, principalmente, o café são os produtos com maior potencial de redirecionamento de exportações dos Estados Unidos para os países árabes.
“Elencamos as oportunidades de exportação de produtos que os árabes importam de outras partes do mundo e importam menos do Brasil, aproveitando essa diferença (de tarifas de importação). E apareceram, principalmente carne bovina congelada e café”, diz ele. “Os árabes, como um todo, importam de café quase o mesmo valor que os Estados Unidos”, observa.
Mourad avalia que o mel brasileiro – outro produto que tem nos Estados Unidos o principal destino – também pode ter acesso aos mercados árabes. Mas seria necessário fazer adequações, porque o mel vai para os americanos a granel, enquanto os árabes demandam já envazado.