Os produtos biológicos, que ganham cada vez mais espaço no Brasil, devem ser o destaque entre as inovações do agronegócio em 2026, avaliam especialistas em tecnologia e em empreendedorismo no setor.
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Como exportador global relevante de vários produtos agropecuários, o Brasil tem visto a exigência por sustentabilidade aumentar ano após ano, o que abriu espaço para a adoção de bioinsumos e produtos biológicos dentro das fazendas, avalia Aurélio Favarin, analista de inovação aberta da Embrapa e editor técnico do Radar Agtech Brasil. “As tecnologias biológicas são eficazes, e o trabalho da Embrapa comprova isso”, diz.
De acordo com Favarin, o mercado de startups de biológicos já está bastante aquecido no Brasil. “Notamos que empresas tradicionais do agro migraram para atuar com biológicos, comprando startups para se posicionar no mercado”, observa.
Dirceu Ferreira Júnior, sócio-líder da PwC Agtech Innovation também destaca a área de bioinsumos. Segundo ele, o Brasil é o país com mais empresas de biológicos no mundo.
Com um olhar próximo às startups que operam dentro do espaço da PwC, o especialista afirma que o setor tem experimentado um surgimento até “fora do normal” de empresas iniciantes de bioinsumos, e que naturalmente não há espaço para todas. “Isso gera movimentos de fusões e aquisições, com empresas sendo absorvidas ou compradas, o que é normal”.
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Outro destaque entre as inovações no próximo ano devem ser as startups ligadas à mitigação de risco climático — as chamadas “climate techs”. O termômetro da PwC, que conecta grandes empresas e startups, indica que devem ganhar força em 2026.
Segundo Ferreira, existem investimentos robustos acontecendo nas startups com serviços voltados ao clima, “porque é um problema real que se agrava ano após ano e afeta o mundo inteiro, especialmente o agronegócio, que depende de algo que não controla”, afirma o especialista.
Favarin, da Embrapa, concorda: “Tudo que melhore previsibilidade e controle de produção terá espaço no mercado, que se preocupa cada vez mais com isso [clima]”.
Ainda que seja um setor mais conservador e que demore mais a adotar inovações, a pecuária também deve ser alvo de novidades em 2026. Para Antonio Chaker, fundador do Instituto Inttegra e especialista em tecnologia e gestão, a tecnificação dos currais é iminente.
“O pecuarista não quer mais montar no cavalo, ele quer montar em um quadriciclo”, diz.
Para o especialista, a proximidade das novas gerações de pecuaristas com tecnologias como inteligência artificial, sensorização, drones e maquinários com tecnologias embarcadas, é a grande mudança que pode melhorar a produtividade e a rentabilidade das fazendas de gado.
Segundo Chaker, os pecuaristas sucessores se mostram menos satisfeitos com os baixos desempenhos do que as antigas gerações. “Não há tanto apego emocional com a área de sua fazenda como o pai e o avô, são mais pragmáticos com o resultado, e até menos presentes na fazenda”, exemplifica.
Além disso, as novas gerações são mais entusiastas de sistemas de gestão remotas das propriedade por não passarem todo o tempo nas fazendas.
Chaker também afirma que o acesso a tecnologias tem promovido transformações entre os técnicos agropecuários. Mas destaca um desafio para 2026: falta de mão de obra qualificada. “As fazendas têm que estar preparadas para receber as novas gerações de pecuaristas, e o produtor tem reclamado muito do apagão na mão de obra”, acrescenta.
Para Caroline Badra, vice-presidente e sócia da FESA Group com foco em agronegócio, a mão de obra qualificada para operar novas ferramentas não cresce no mesmo compasso das próprias tecnologias disponíveis para operação. Segundo ela, o futuro do agro depende menos de máquinas e mais da qualidade das pessoas que estão por trás delas. “O bom profissional que sabe utilizá-las tem lugar garantido. Os que pararem no tempo e não souberem, vão ficar para trás”