
Há exatos 30 anos, a Noruega inaugurou no vilarejo de Borg, no arquipélago de Lofoten, no litoral norte do país, um museu que foi um marco dos estudos sobre a era viking. O local abriga descobertas inéditas sobre um período da História que ajudou a dar forma à própria identidade nacional dos noruegueses, com participação direta do agro.
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Em 1981, o agricultor Frik-Harald Bjerkli preparava a terra em uma área de plantio de batatas com uma regulagem no arado que colocava o equipamento a uma profundidade 5 centímetros maior do que a habitual. Assim que passou com seu trator, desceu da máquina e percebeu que a terra estava muito escura.
Kåre Ringstad, funcionário de telecomunicações e arqueólogo amador, sabia da existência de túmulos da era viking na região. Em uma grande coincidência, ele passou pela estrada em frente às terras de Bjerkli no exato instante em que o agricultor rodava com seu Massey Ferguson 30, um trator fabricado nos anos 1960.
A cor e a textura da terra chamaram a atenção de Bjerkli, mas não foi só isso que pareceu inusitado. Nos sulcos, Ringstad identificou cacos de vidro, um material que inexistia na área nos tempos de domínio viking, e também fragmentos de cerâmica francesa, conforme se soube depois.
A partir dos achados, arqueólogos noruegueses e também suecos, dinamarqueses, finlandeses e islandeses trabalharam em escavações na área, entre 1983 e 1989. Com esses esforços, os pesquisadores encontraram a casa de um antigo chefe local, uma estrutura viria a ser a maior casa de um líder viking encontrada em toda a Escandinávia até hoje.
Parte do acervo do museu de Borg
Patrick Cruz/Globo Rural
Os noruegueses fizeram um museu à altura. O Lofotr Vikingmuseum reúne algumas das peças que os arqueólogos encontraram nas escavações e também uma réplica em tamanho real da casa de Olaf Tvennumbruni, o chefe local. A estrutura tem 83 metros de comprimento (em geral, casas vikings encontradas antes e depois dessa descoberta têm cerca de 20 metros).
As escavações, e a posterior construção do museu, em plena área de produção agropecuária mostram como é possível conciliar atividade produtiva e preservação da História, que não “congelou” a geração de riqueza na área. Encerradas as escavações, áreas bem próximas ao local de instalação do museu voltaram a servir a atividades como agricultura e criação de ovelhas.
E o museu passou a atrair para Borg — um vilarejo que tem 11 mil habitantes — mais de 100 mil visitantes por ano. O rei Harald esteve na inauguração do museu, em 1995, assim como Bjerkli e Ringstad.
*O repórter viajou à Noruega a convite de Yara e Innovation Norway