O vice-presidente de Agronegócios e Agricultura Familiar do Banco do Brasil, Gilson Bittencourt, afirmou que a Medida Provisória 1.314/2025, que autoriza a renegociação de dívidas rurais de produtores afetados por adversidades climáticas nos últimos anos, vai ajudar a reduzir a inadimplência da carteira de agro da instituição, cujo índice está próximo de 5% atualmente.
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Sem citar o número de produtores que serão atendidos, ele estimou que o BB deverá operacionalizar algo em torno de 40% dos R$ 12 bilhões liberados para a renegociação de dívidas, ou cerca de R$ 5 bilhões. A expectativa é que as operações com recursos federais comecem ainda neste mês. Na linha livre, os juros serão mais caros, mas haverá “muito apetite”, disse Bittencourt. No BB, a intenção é oferecer taxa pós-fixada aos clientes, de olho no possível recuo da Selic no médio prazo.

“Imaginamos que a MP ajudará na redução da inadimplência, não só a que já existe, mas também a futura, pois vai abranger a parte dos produtores que estão em dia, mas renegociaram, e estão com fluxo de caixa apertado”, afirmou a jornalistas nos bastidores de um evento na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), na quinta-feira (18/9).

A implementação da MP ainda depende da publicação da regulamentação do Conselho Monetário Nacional (CMN) e da normatização pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

“A partir daí, mais alguns dias, já vamos poder operar as renegociações para atender esses 5% de produtores que estão inadimplentes [na carteira agro do BB]”, acrescentou.
Gilson Bittencourt, do Banco do Brasil: “MP ajudará na redução da inadimplência, não só a que já existe, mas também a futura”
Marcos Oliveira/Agência Senado

Em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo na semana passada, a presidente do BB, Tarciana Medeiros, disse que são cerca de 48 mil clientes inadimplentes no período entre 15 e 90 dias. Ela disse ainda que a MP deve ajudar a acelerar o processo de melhoria do resultado financeiro do banco a partir do quarto trimestre deste ano. A inadimplência na carteira agro e a necessidade de provisionamento maior de recursos por conta das dívidas rurais afetaram os ganhos da instituição nos últimos períodos.

A publicação da MP deu sinalizações mais claras aos produtores. Cientes das condições de prazo e juros para repactuar suas dívidas, muitos credores vão buscar a renegociação e outros, que têm capacidade e liquidez, vão quitar os débitos. Antes, houve uma paralisação nos pagamentos de parcelas de crédito rural em alguns bancos, relataram fontes, pois os agricultores esperavam notícias oficiais de Brasília e até acreditavam na possibilidade de perdão ou securitização. Esse cenário elevou a inadimplência em instituições financeiras.

A linha de crédito para renegociação de dívidas terá limites para pequenos, médios e grandes produtores de R$ 250 mil, R$ 1,5 milhão e R$ 3 milhões, e juros que variam entre 6%, 8% e 10% ao ano, respectivamente. O prazo é de até nove anos para pagar, com um de carência.

Na linha livre, os juros serão mais caros, mas haverá “muito apetite”, disse Bittencourt. No BB, a intenção é oferecer taxa pós-fixada aos clientes. “Como a expectativa é que a Selic caia, vamos estimular que produtores trabalhem com operação pós-fixada”, sinalizou.
“Queremos que possíveis quedas na Selic se transformem em ganho para o produtor e não para o banco. Vamos discutir nosso spread, e ele será definido independentemente se teremos uma Selic de 15% ou de 10%. Se ela cair 5 pontos e puder dar de alívio para o produtor, melhor”, explicou Bittencourt.

Segundo ele, haverá demanda pela linha livre, pois parte importante da inadimplência está com produtores que já operam com juros de mercado, com empréstimos acima dos R$ 3 milhões, que é o limite das linhas tradicionais do recurso equalizado.

“Esses produtores têm boa rentabilidade para taxa livre, mas por algum motivo de quebra, de piora de fluxo de caixa ou pelo aumento da Selic, tiveram esse fluxo prejudicado e gerou inadimplência”, acrescentou. “Se conseguir dar prazo a esse produtor, mesmo a taxa livre, é viável. A expectativa é que durante a carência esse produtor pague os juros e não vá acumulando os juros no valor da dívida”, completou.
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O executivo disse que os R$ 12 bilhões do governo serão distribuídos entre as instituições financeiras de acordo com a participação de cada uma no desembolso de crédito rural nos municípios afetados pelo clima que serão atendidos.
“Acreditamos que vamos ficar abaixo dos 50%, mais perto dos 40% do que dos 50%. As linhas vão nos ajudar, mas o quanto vai impactar, ainda não temos expectativa”, disse o vice-presidente do BB. “Vamos priorizar o produtor inadimplente que ainda tem perspectiva de continuar produzindo”, explicou. A estratégia mira a garantia de recebimento do crédito.
Bittencourt ainda ressaltou que não há nenhum tipo de suspensão de financiamentos a produtores do Rio Grande do Sul, um dos Estados mais afetados pelas adversidades climáticas nos últimos anos.
“As contratações do Rio Grande do Sul estão acontecendo, então não há nenhuma suspensão. Uma parte importante dos produtores gaúchos estão acessando crédito de custeio e, logicamente, assim que sair a regulamentação, o Banco do Brasil está bastante preparado para operar o mais rápido possível essas renegociações para aqueles produtores que estão inadimplentes ou aqueles que fizeram prorrogações e estão com o fluxo de caixa mais apertado, para o mais breve possível poder resolver seu problema e poder contratar”, disse. “Esperamos que isso se dê ainda até o final deste mês, que comecemos a ter uma ação mais efetiva”, acrescentou.