O ano de 2025 pode ser o pior da história para o mercado de seguro rural no Brasil. O congelamento de R$ 445 milhões do orçamento do programa de subvenção federal, cerca de 42% da verba total de R$ 1,06 bilhão, vai reduzir a área segurada para menos de 5 milhões de hectares — algo inédito em sete anos — e deixar milhares de produtores sem acesso a apólices, principalmente para a cobertura da safra de soja, que pode enfrentar o fenômeno La Niña em fevereiro de 2026, na época da colheita.
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Sem a garantia de recursos para a subvenção, a comercialização de apólices para a safra de verão está quase paralisada. O cenário de juros altos e margens espremidas no campo também afeta a venda de seguros, cuja contratação fica inviável para muitos produtores.
Seguradoras já estimam perdas de receita de 30% a 40% do previsto para 2025 com a arrecadação de prêmios com seguro rural. Para piorar o cenário, o governo ainda não pagou R$ 129 milhões relativos a apólices do ano passado, o que atrapalha o fluxo de caixa das companhias em um momento em que já precisam desembolsar sinistros de geadas na safra de inverno.
Glaucio Toyama, presidente da Comissão de Seguro Rural da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), diz que o setor se programou para cobrir até 20 milhões de hectares em 2025, com aporte de capital de risco das resseguradoras, mas os planos foram frustrados. A área segurada deve ficar entre 4 milhões e 5 milhões de hectares, desempenho semelhante ao de 2018 (4,6 milhões de hectares).
“Se não tiver o descontingenciamento, com certeza esse será o pior ano para o mercado de seguro rural depois que as coisas começaram a se encaixar”, afirma. Em 2021, a área segurada chegou a 13,6 milhões de hectares. Nos últimos anos, porém, ficou em torno de 7 milhões.
O orçamento do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) em 2025 era de R$ 1,06 bilhão. Desses, R$ 67 milhões foram usados para pagar apólices contratadas em 2024. Dos R$ 992 milhões restantes, houve congelamento de R$ 445 milhões em junho, diante da necessidade do governo de controlar gastos.
O Ministério da Agricultura ainda não sabe se o recurso do seguro será liberada após melhora nas contas do governo. “As informações sobre o desbloqueio deverão ser divulgadas pelo Ministério do Planejamento e Orçamento após o dia 30 de julho”, disse, em nota.
A verba disponível para aplicação até agosto é de R$ 547,7 milhões, sem previsão de recursos para os grãos de verão, como a soja, principal produto atendido pelo programa. Em 2024, dos 7,1 milhões de hectares segurados, 4,7 milhões foram da oleaginosa.
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Tarifaço dos EUA, custos de produção em alta, margens apertadas e juros nas alturas foram a “espiral negativa” para o mercado segurador, nas palavras de Toyama. “O custo do seguro é a última linha do produtor. Se tiver que abrir mão de algo e tomar risco, ele não compra o seguro”, diz.
Baixa aderência
Na avaliação do vice-presidente da Newe Seguros, Rodrigo Motroni, as seguradoras vão sentir um “baque” neste ano. “A contratação de seguro para a safra de verão está pífia. Todo mundo está muito assustado com a baixa aderência”, diz. Segundo ele, o mercado já considera como definitivo o corte na subvenção.
Os R$ 445 milhões congelados no orçamento poderiam alcançar até R$ 37 bilhões em importância segurada se fossem destinados apenas para seguro de soja no segundo semestre, cuja taxa de prêmio é de 6%, calcula Motroni.
Para ele, o corte na subvenção vai limitar a receita das seguradoras a 60% ou 70% do projetado no início do ano. De janeiro a maio, a arrecadação de prêmios de seguro agrícola e pecuária já caiu quase 18%, para R$ 1,6 bilhão, segundo a Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg).
Empecilhos
Outro problema é a dívida de R$ 129 milhões que o governo tem com apólices contratadas em 2024 com subvenção. “Nunca vimos um prazo tão dilatado de pendência de pagamentos. Isso afeta e desestimula toda a cadeia”, diz Toyama. A subvenção de R$ 179 milhões para apólices contratadas para a safra de inverno também não foi paga até agora.
Também há preocupação com a janela de contratação do seguro. Para o verão, as vendas começam em maio e vão até meados de setembro. “Há um atraso na comercialização. Deveria estar no auge e está só no começo, justamente pela falta de subvenção, que afeta a decisão do produtor”, diz Leonardo Paixão, CEO da Sombrero Seguros. A empresa esperava alcançar até 400 mil hectares por ano. “Esse patamar vai diminuir. A competição está mais acirrada. Todo mundo vai perder um pouco”. A subvenção federal banca entre 20% e 40% do valor do prêmio.
Outro problema para este ano é a “anti-seleção” que a escassez de recursos para a subvenção causa, afirma Toyama. A percepção de agentes financeiros é que produtores menos tecnificados e com menor nota de crédito precisam da proteção. O cenário aumenta o risco das seguradoras. Ao mesmo tempo, agricultores do Centro-Sul “machucados” com as perdas das últimas safras tentarão garantir suas apólices, com produtos mais baratos e menos cobertura.
O Ministério da Agricultura disse que “as contratações continuam, pois há expectativa de desbloqueio do orçamento” até o fim do ano. A Pasta prevê quitar os pagamentos pendentes de 2024 até agosto. Sobre os R$ 179 milhões de subvenção de apólices da safra de inverno, não há previsão de desembolso para as seguradoras.