Em seu primeiro balanço financeiro pós-aprovação de seu plano de recuperação judicial, o grupo Agrogalaxy apresentou números de uma empresa consideravelmente menor, ainda com dificuldade de diluir custos fixos mesmo com uma melhor margem do trading de grãos, mas com um endividamento já 60% inferior ao patamar de antes da recuperação judicial, além de uma melhor capacidade de recuperação de créditos com produtores rurais.
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No lado financeiro, a dívida líquida contabilizada agora a valor presente somava, no fim do segundo trimestre (encerrado em 30 de junho), R$ 1,6 bilhão, dos quais R$ 933,9 milhões com empréstimos e R$ 848 milhões com fornecedores, menos um caixa de R$ 149,8 milhões.

Do montante, 87% está alocada no longo prazo, conforme pactuado com os credores na recuperação judicial. Essa negociação foi crucial para que o índice de liquidez corrente (ativos de curto prazo menos passivos de curto prazo) saísse do perigoso patamar abaixo de 1 vez registrado no primeiro trimestre de 2025 para 3,09 vezes no segundo trimestre deste ano.

Do valor total da dívida restante, ainda haverá uma redução de ao menos R$ 280 milhões que serão convertidos em participação após a emissão de debêntures conversíveis, conforme previsto no plano de recuperação judicial. Essa conversão, que pode chegar a R$ 300 milhões, deve ocorrer em até três anos.

O processo que culminou na aprovação do plano, que incluiu o fechamento de lojas e o cancelamento de compras por parte dos produtores, resultou em uma receita líquida no segundo trimestre deste ano 76,2% menor na comparação com o mesmo período da safra passada, de R$ 251,2 milhões. A empresa ainda registrou no trimestre prejuízo líquido, com resultado negativo de R$ 136,1 milhões, mas 62,5% menor que o prejuízo registrado um ano antes.

O fato de a empresa ter se ocupado no segundo trimestre com as negociações a respeito de seu plano de recuperação judicial — que foi aprovado em abril e homologado em maio — fez com que muitos produtores não negociassem seus grãos com o Agrogalaxy, o que fez a receita receita com grãos sofrer um tombo de 84%, para R$ 137,1 milhões.

Com isso, ainda que o negócio de grãos dê uma margem consideravelmente melhor, a receita não foi suficiente para diluir o montante de custos fixos da companhia, explicou Conrado Sunfeld, diretor financeiro da companhia, em entrevista coletiva.

Já a receita com insumos caiu 43,2%, para R$ 114 milhões. O desempenho do negócio ainda foi afetado pela estratégia de escoamento dos estoques antigos, o que comprimiu as margens operacionais.

A companhia ainda continuou em sua trajetória de redução de despesas administrativas, embora a fase de grandes cortes tenha ficado para trás. Mesmo assim, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado do trimestre foi negativo em R$ 96,9 milhões ante um Ebitda negativo de R$ 83,4 milhões no mesmo trimestre do ano anterior.

Eron Martins, CEO do Agrogalaxy, ressaltou que a companhia também conseguiu melhorar a recuperação de seus créditos junto aos produtores com “maior rigor no processo de crédito” e “cobrança ativa”. O indice de inadimplência acumulado desde o início do ano caiu 14 pontos percentuais na comparação com o fim do segundo trimestre de 2024 e encerrou o segundo trimestre deste ano em 5,4%. “Focamos nos clientes com meno exposição de risco de crédito e climático”, afirmou Martins.

Houve também uma mudança no comportamento do produtor, que neste ano segurou a venda de sua soja e quando comercializou, o fez “para poder liberar as pendências de pagamento”, observou Sunfeld.

Segundo Martins, o Agrogalaxy voltou a apostar na maior independência de seus funcionários de concessão de crédito. “Quando damos autonomia para a pessoa de crédito [na empresa] ser soberana, isso se reflete em menor inadimplência”, defendeu.

No acumulado dos dois primeiros trimestres do ano, o Agrogalaxy teve uma receita líquida de R$ 592,4 milhões, e Martins espera que a meta apresentada no plano de recuperação judicial de encerrar o ano com R$ 1 bilhão de receita se cumpra. No fim do segundo trimestre, a companhia tinha uma carteira de pedidos de R$ 325 milhões, dos quais mais de um terço já foram entregues nos 40 primeiros dias do terceiro trimestre, antecipou Martins. Embora seja metade do valor da carteira que a empresa tinha um ano atrás, o CEO comemorou o número. “Voltamos para o jogo cumprindo os combinados, vendendo e entregando o que cumprimos com eles”, ressaltou.