
Alimento ganha cor, textura, aroma e sabor dependendo da planta escolhida pelas abelhas durante a florada A apicultura, técnica de criação de abelhas do gênero Apis, ou seja, com ferrão, resulta em um alimento secular e muito apreciado no mundo: o mel. Mas engana-se quem pensa que o produto é o único relacionado aos insetos voadores. Além do líquido doce, saboroso e de propriedades terapêuticas, as abelhas são responsáveis pelo própolis, geleia real, cera, pólen e apitoxina.
Confira abaixo dez curiosidades sobre a produção de mel, o único alimento fabricado por insetos e consumido pelos humanos:
Initial plugin text
1 – Quem é o apicultor?
O profissional, também chamado de “guardião das abelhas”, é o responsável por todas as funções necessárias para a atividade da apicultura, como instalação e manutenção das colmeias, coleta do mel, processamento e venda, etc.
Segundo Armindo Vieira Júnior, professor, apicultor, gestor de sistemas de produção apícola e fundador da Escola de Apicultura e da Cia da Abelha, ele também protege as abelhas, acompanha os ciclos florais ao redor da propriedade, promove uma alimentação equilibrada aos insetos, trabalha com equipamentos adequados e se preocupa com o ciclo natural da colônia.
2 – O mel tem validade?
O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) determina que as empresas indiquem no rótulo o período de até dois anos para que o produto seja consumido, porque, mesmo resistente à proliferação de bactérias, não está livre de riscos de contaminação.
No entanto, o especialista ouvido pela Globo Rural explica que o mel puro não estraga. O que pode acontecer é a cristalização associada ao baixo teor de água, acidez natural e presença de substâncias antimicrobianas.
Na Instrução Normativa nº11, de 20 de outubro de 2000, o Mapa estabelece que o mel “deve ser acondicionado em embalagem apta para alimento, adequada para as condições previstas de armazenamento e que confira uma proteção adequada”. A Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) completa que locais com pouca luminosidade, baixa umidade e temperaturas amenas são os ideais dentro de casa para manter a qualidade.
3 – Qual é a quantidade de mel produzida por uma abelha?
A produção do alimento exige um trabalho coletivo movido por uma precisão quase mágica, define o apicultor. De acordo com ele, uma abelha precisa visitar entre 3 mil a 5 mil flores em um único dia para fabricar uma colher de mel. “A operária, que vive apenas 45 dias, produzirá apenas meio grama ao longo de toda a vida. Ou seja, são necessárias, aproximadamente, 12 abelhas da casta para encher uma única colher (sopa)”.
4 – Por que o mel tem cores, sabores e aromas diferentes?
Os méis não são todos iguais e fazem parte de um universo onde a região das colônias de abelhas e as plantas presentes influenciam o produto final. As floradas de laranjeira e marmeleiro, por exemplo, originam mel mais claro e aromático. Já as flores de eucalipto garantem um alimento de coloração escura.
“O mel pode ter cores que variam do quase transparente ao âmbar escuro, com sabores e aromas que refletem as flores mais visitadas pelas abelhas”, diz.
Initial plugin text
5 – O que é a safra do mel?
O período é definido como o momento certo para a colheita e é determinado diretamente pela florada, variando conforme a estação do ano e as condições climáticas de cada uma das cinco regiões brasileiras. No Sul, por exemplo, a florada de uma planta pode ser intensa no verão. Já no Nordeste, o ápice será no inverno.
Apicultura começou no Brasil em 1839
Canva/Creative Commons
6 – Quando iniciou a apicultura no Brasil?
A técnica da criação de abelhas com ferrão começou com o padre Antônio Carneiro, que decidiu importar 100 colônias da espécie Apis mellifera de Portugal. Na chegada da encomenda, em 1839, o religioso observou que apenas sete delas estavam intactas e as instalou no Rio de Janeiro.
Nos anos seguintes, a mesma espécie criada no Sudeste foi introduzida no Sul por imigrantes alemães e italianos, mas com a finalidade, principalmente, de coletar cera. A produção de mel aumentou apenas a partir de 1960, após a introdução da abelha apis mellifera scutellata, originária da África, por meio do pesquisador Estevan Warrick Kerr.
“Elas cruzaram com abelhas europeias, dando origem à Apis africanizada, extremamente adaptada ao clima tropical do Brasil, além de produtiva e resistente. O resultado foi um mel livre de resíduos e legitimamente orgânico, colocando a apicultura brasileira em forte vantagem competitiva comparada ao resto do mundo”, destaca Armindo.
7 – A produção nacional de mel
O Rio Grande do Sul é o maior produtor do alimento. Em 2023, os apicultores coletaram 9 mil toneladas no Estado gaúcho, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), enquanto a produção nacional foi de 64 mil toneladas.
A safra gaúcha 2024/2025, no entanto, será bem diferente, avalia a Câmara Setorial da Apicultura e Meliponicultura da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), por causa das enchentes ocorridas no ano passado. Com a perda de milhares de colmeias, a previsão é que a produção alcance três mil toneladas.
Quando o assunto é a exportação, quem se destaca é o Piauí, aponta o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, seguido por Minas Gerais, Santa Catarina e Paraná. A procura internacional é grande por dois motivos: produto livre de resíduos e proveniente de uma flora diversificada.
+ Mulheres da Amazônia aprendem a produzir mel de abelhas sem ferrão
8 – A importância da florada
Entender o calendário das floradas é uma forma de gestão para valorizar a produção de mel na apicultura, destaca a Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A.).
A entidade reforça que as colmeias precisam estar populosas e sadias no período de floração da planta que se deseja explorar, porque é a condição que determina consistência, sabor, acidez, aroma, umidade, viscosidade, cor e até o tempo que o mel demora para cristalizar. Veja exemplos de plantas visitadas por abelhas com ferrão:
Bracatinga: a árvore nativa do Sul origina mel não-floral ou melato muito escuro produzido a partir de cochonilhas, inseto que secreta um líquido açucarado no tronco;
Cipó-uva: com produção concentrada em Minas Gerais, o mel é mais transparente e tem aroma agradável;
Eucalipto: o mel mais escuro, rico em minerais e muito utilizado para função expectorante é característico das regiões Sul e Sudeste;
Laranjeira: com floradas intensas em Minas Gerais e São Paulo, o mel produzido é claro e muito valorizado pelo aroma.
No caso das abelhas sem ferrão cultivadas na meliponicultura, as plantas preferidas para a coleta de néctar e pólen são aquelas que apresentam inflorescências e são, normalmente, nativas, como aroeira-vermelha, cosmos, caliandra (esponjinha), pau-brasil e cedro, conta Gabriel Benoski, meliponicultor e fundador do projeto Abelhando Mundo Afora.
“As abelhas precisam de três características para coletar recursos. Eu costumo chamar de pilares para os meus alunos. O primeiro é a quantidade, pois elas querem plantas que oferecem muito alimento. Depois vem a qualidade e, por fim, a acessibilidade”.
9 – A produção de mel orgânico na apicultura
Assim como diversos outros alimentos, o mel também pode ser orgânico. Para isso, as colônias de abelhas devem estar a três quilômetros, pelo menos, de lavouras convencionais e que utilizam defensivos agrícolas, como milho, soja e cana-de-açúcar. A distância garante que os insetos não tenham contato com inseticidas durante a coleta do néctar e pólen.
A produção orgânica é maior na região Nordeste do Brasil. Já no Sudeste, o alto número de habitantes e indústrias dificulta a regra para os apicultores.
“O Brasil produz, legitimamente, mel orgânico em todo o território, dada a qualidade da abelha africanizada de alta resistência às doenças, mas apenas 20% é certificado como orgânico. Ainda assim, o país é líder mundial na exportação, especialmente com colmeias instaladas no semiárido nordestino, onde a vegetação da caatinga fornece florações naturais e livres de contaminação”, explica Armindo Júnior.
10 – A diferença entre apicultura e meliponicultura
Apesar de ambas priorizarem a criação de abelhas, as técnicas de manejo apresentam diferenças. A principal delas é o tipo de inseto. Enquanto a apicultura trabalha com o gênero Apis, que possui ferrão, como a Apis mellifera, a meliponicultura cria abelhas sem ferrão dos gêneros Melipona e Trigona, como jataí, uruçu e mandaçaia.