
Técnica não exige faculdade, mas profissional deve se atualizar com cursos para ter sucesso no negócio A apicultura é a técnica de criação de abelhas do gênero Apis (com ferrão) e pode ser praticada tanto por hobby como profissionalmente. Seja qual for o objetivo, necessita de muito conhecimento para a produção de mel e também na contribuição com a manutenção da biodiversidade no mundo.
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A profissão de apicultor é uma das mais antigas da humanidade e tem registros datados há mais de 4,5 mil anos. O conceito praticado atualmente é chamado de apicultura racional, com colmeias padronizadas e manejo técnico, e consolidou-se no século XIX após surgimento da colmeia padrão Langstroth (ou americana).
No Brasil, a apicultura teve início com o padre Antônio Carneiro, que decidiu importar 100 colônias de abelhas com ferrão de Portugal. Na chegada da encomenda, em 1839, o religioso observou que apenas sete delas ficaram intactas e as instalou no Rio de Janeiro.
Nos anos seguintes, a espécie criada no Sudeste foi introduzida no Sul, mas a finalidade, a princípio, era a coleta de cera. A produção de mel aumentou apenas a partir de 1960, após a introdução da abelha Apis mellifera scutellata, originária da África, por Estevan Warrick Kerr.
Segundo a Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A), o professor e pesquisador viajou ao Continente Africano com o apoio do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) para buscar abelhas-rainhas.
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O que é preciso para começar na apicultura?
Mesmo sem a obrigatoriedade de um diploma de curso superior, como acontece em outras profissões, o apicultor deve sempre se atualizar com informações que possam contribuir com o sucesso do negócio escolhido.
Depois disso, ele parte para a prática, com a construção do apiário e das colmeias, que podem ser compradas cheias de abelhas ou coletadas na natureza. A segunda técnica é mais demorada, porque, além de aguardar a captura, a colônia leva um tempo maior até iniciar a produção de mel.
Entre as ferramentas, as principais da lista são: martelo, alicate, arame, esticador de arame, cera, carretilha, incrustador elétrico, fumigador, formão saca-quadros, vassoura, alimentadores, centrífugas, faca, balde e vidros para o envase do mel. A roupa para o manejo do apiário também é importante e deve ter cores claras no macacão, botas e luvas para reduzir a reação defensiva das abelhas com ferrão.
O cadastro e regularização dos apiários nos órgãos municipais é obrigatório. Desta forma, o governo tem acesso ao número de colmeias e propriedades rurais que trabalham com a atividade no território brasileiro, além de controlar e proteger contra pragas e doenças.
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Quanto custa para iniciar na apicultura?
O valor para montar um apiário depende da quantidade de colônias desejada pelo apicultor e o objetivo, explica Gabriel Benoski, meliponicultor e fundador do projeto Abelhando Mundo Afora.
“Se for uma criação caseira com apenas uma caixa de papelão e atrativa, dá para capturar as primeiras abelhas da espécie apis. Mas se for uma criação de fundo comercial, o criador deverá investir nos ‘starts’ das colônias, que são as rainhas e operárias”.
O especialista destaca ainda a necessidade dos equipamentos de segurança, como macacão e fumigador, para ter contato com as abelhas, além das caixas. “Esses materiais vão necessitar de um investimento inicial de pouco mais de R$ 1 mil para montar de três a quatro colônias”, diz.
Apicultura pode render até R$ 10 mil, a depender do tamanho das colônias
Mbee / Divulgação
O mel brasileiro
Com 14% da produção nacional de mel, o Rio Grande do Sul se destaca historicamente na fabricação do alimento. No entanto, a safra gaúcha deve ser bem diferente em 2025, estima a Câmara Setorial da Apicultura e Meliponicultura da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi).
As enchentes ocorridas em 2024 destruíram de 35 mil a 50 mil colmeias, além de 10% das abelhas, comprometendo o trabalho de famílias dedicadas à apicultura.
+ Como fica a produção de mel com a tragédia no Rio Grande do Sul?
Se no Estado da região Sul a produção é referência, o líder no ranking de exportação fica no Nordeste: o Piauí. O Estado foi responsável por 25% das vendas de mel ao exterior em 2024, com US$ 25,5 milhões, conforme dados do Mapa. Minas Gerais (US$ 21,2 milhões), Santa Catarina (US$ 14,2 milhões) e Paraná (US$ 10,3 milhões) aparecem na sequência.
O principal destino do mel brasileiro no ano passado foram Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Reino Unido e Bélgica, aponta o Comex Stat, portal do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
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Apicultura e meliponicultura
As duas técnicas são responsáveis pela criação de abelhas, mas há uma diferença grande – e básica: enquanto a apicultura diz respeito às variedades originárias da Europa e África e com ferrão, a meliponicultura trata de insetos sem ferrão e nativos do Brasil, como jataí, mandaçaia e uruçu.
A produção de mel também se difere entre elas. Na apicultura, com abelhas em maior quantidade, cada colônia pode oferecer, em média, de 30 a 50 quilos de mel. Já na meliponicultura, a quantidade não passa dos 10 quilos. Neste caso, o preço ao consumidor é mais elevado e pode chegar a R$ 800 o quilo fracionado, dependendo da espécie criada. O mesmo não acontece com a apis, onde o quilo é vendido por, aproximadamente, R$ 50.
Apicultura não trabalha apenas com mel
Apesar do líquido doce e saboroso ser o carro-chefe da atividade, a apicultura é ampla e pode originar outros negócios. A família Raad, de Faria Lemos (MG), é um exemplo e, além de mel e própolis, também oferece o serviço de fecundação de abelhas-rainhas da espécie Apis mellifera.
“A produção é feita por nós mesmos e alguns parceiros que prestam o serviço em seus próprios apiários. Com isso, produzimos de 300 a 400 rainhas e ainda 1 mil rainhas virgens, chamadas de princesas, por mês”, conta Ramon Pacheco Raad, CEO da Apícola Raad, à Globo Rural.
Cada abelha fecundada é comercializada pela empresa a R$ 80, enquanto a virgem, produzida em maior escala, custa R$ 30, e também é negociada com clientes de todo o Brasil.
Outro serviço ofertado no catálogo da empresa é a reprodução de material genético. Neste caso, Ramon não cobra do produtor rural que envia unidades de abelha-rainha os custos de manejo e manutenção, apenas o valor normal pela fecundação, porque ganha o direito de reproduzir o material da matriz com outros apicultores.
Segundo o empresário mineiro, a produção de mel não é o foco do negócio, mas uma consequência do trabalho com abelhas e, por isso, a coleta é de apenas 1 tonelada por ano.
“A apicultura é um meio muito viável de geração de renda para famílias rurais, além de ser uma opção prazerosa para quem tem alguma terra com espaço adequado para trabalhar no fim de semana. E a apicultura também representa inclusão ao agregar famílias que utilizam as abelhas como fonte alternativa de renda. As pessoas passam a ter mais dignidade. Os apicultores, naturalmente, estão preocupados com a preservação da flora, porque dependem desses recursos para criar abelhas saudáveis”, finaliza.