A demanda por novas tecnologias no campo é crescente, mas o custo do investimento, muitas vezes, é um impeditivo. Diante disso, empresas que atuam no segmento estão recorrendo à oferta de serviços de aluguel de seus produtos tecnológicos para eliminar o custo de investimento inicial.
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Esse modelo de negócio é conhecido como Farming as a Service (FaaS), e funciona como um serviço “em domicílio”, em que as empresas ofertam ao produtor rural sua experiência com o controle de drones, pulverizadores e outras máquinas, por exemplo.
A companhia paranaense Hural Dynamics é uma das que buscam avançar com esse tipo de serviço. Segundo Michell Jabur, principal executivo da empresa que atua com equipamentos agrícolas, há uma tendência no mercado de “asset light” — estratégia de minimizar a posse de ativos físicos. “Vimos isso no crescimento de locadoras de carros no Brasil. Boa parte é frota corporativa. Em vez de comprar, as empresas passam a alugar”.
Em setembro deste ano, a Hural assinou seu primeiro contrato de aluguel, no caso um serviço de locação do Hural Rover TRP200, um pulverizador 100% elétrico e autônomo. O foco agora é avançar em mais contratos, afirma Jabur.
“A nossa ideia casa com o interesse de despertar a curiosidade de pequenos produtores que não têm capital para comprar um equipamento de alto valor, mas podem alugar e experimentar a tecnologia para entender se faz sentido para sua fazenda”, acrescenta.
Segundo ele, antes do serviço de aluguel, os produtores menores não mostravam interesse nos equipamentos agrícolas da Hural, mas ele disse acreditar que essa mudança é questão de tempo. “A ideia do aluguel é penetrar nesse perfil de cliente.”
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Esse modelo de negócio pode ser favorável sobretudo para os pequenos produtores, já que ter uma máquina com alta tecnologia exige disponibilidade de recursos para arcar com um custo fixo e manutenção, observa Marcos Milan, professor de mecanização agrícola da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP).
Já outros perfis de produtores podem não ter interesse pelo serviço. “O agricultor capitalizado compra para ter segurança de ter a máquina à disposição sempre”, diz.
No entanto, não basta ter o equipamento, mas não saber manuseá-lo, observa o especialista da Esalq. “É preciso ter conhecimento aprofundado para fazer pulverização com um drone, fazer cálculos que, muitas vezes, não são feitos”, acrescenta.
“O que adianta comprar um robô tecnológico se [o produtor] não souber operá-lo nem [souber] fazer a manutenção da parte eletrônica e mecânica dele? Alugar pontualmente é sempre uma saída”, avalia.
A chinesa Shennong Tech, empresa de drones localizada em Uberaba (MG), presta serviços e aluga drones para pulverização, com foco em pequenos e médios produtores. Segundo Diogo Neto, supervisor de operações da empresa, os alugueis já representam 45% do faturamento da companhia. “Atende um interesse crescente por tecnologia sob demanda, sem necessidade de investimento direto por parte do cliente”, afirmou.
De acordo com Neto, a demanda varia ao longo do ano, com crescimento em períodos de colheita.
Para ele, o principal argumento para o produtor adotar a tecnologia via aluguel é de que “a conta fecha”, já que não há custo com manutenção, treinamento nem licenciamento. “O ponto mais importante é que o aluguel se paga com o ganho de produtividade e economia gerada”, afirma.