
A relação de troca entre produtos agrícolas e fertilizantes — indicador que mede quantas sacas ou toneladas de uma cultura são necessárias para comprar uma tonelada de adubo — mostra um cenário contrastante entre as principais lavouras brasileiras para a safra 2025/26. Segundo levantamento da consultoria MacroSector, o café é a única cultura com melhora consistente no poder de compra do produtor, enquanto soja, milho, algodão e cana-de-açúcar enfrentam piora nas condições de troca.
O estudo aponta que a relação de troca do café em Minas Gerais deve cair de 1,55 saca de 60 quilos por tonelada de fertilizante em outubro de 2024 para 1,23 saca projetada para outubro de 2025, o que representa uma melhora de cerca de 20% no poder de compra do produtor.
Essa evolução é explicada pela valorização do café arábica no mercado internacional, que deve chegar a US$ 3,749 por libra-peso em outubro de 2025, e pela estabilidade dos preços dos fertilizantes no mercado interno.
Soja e milho perdem fôlego
Entre as commodities de grãos, o cenário é oposto, aponta o relatório assinado por Fábio Silveira, Ícaro Corrêa e Guilherme Garcia. No caso da soja, a relação de troca em Mato Grosso — principal Estado produtor — deve piorar de 19 sacas por tonelada de adubo em outubro de 2024 para 22,4 sacas em outubro de 2025.
A alta nos custos dos insumos e a desvalorização do grão explicam o movimento. A consultoria projeta o preço médio da soja em R$ 111,70 por saca em outubro de 2025, frente a R$ 131,90 um ano antes, pressionado por menor câmbio (R$ 5,35/US$) e recuo nas cotações de Chicago, em torno de US$ 10,13/bushel.
No milho, a deterioração é semelhante. No Paraná, a relação de troca passa de 48,7 sacas por tonelada em outubro de 2024 para 62 sacas em outubro de 2025 — uma piora de 27%. Apesar da leve alta nos preços domésticos (R$ 52,60/saca), o aumento dos custos dos fertilizantes e a perda de competitividade nas exportações limitam o ganho do produtor.
Algodão e cana também enfrentam custos maiores
Para o algodão, em Mato Grosso do Sul, a relação de troca deve subir de 78,7 para 89,6 arrobas de 15 quilos por tonelada de adubo, o que indica maior custo relativo dos fertilizantes. A cotação interna do algodão, segundo a MacroSector, deve cair para R$ 37 por arroba até outubro de 2025.
Na cana-de-açúcar, a relação de troca em São Paulo vai de 18,3 para 24,2 toneladas de cana por tonelada de fertilizante, refletindo o recuo do açúcar no mercado internacional, projetado em 16,10 centavos por libra-peso, e a alta dos insumos (média de R$ 2.877/t de fertilizante).
Fertilizantes tendem à estabilidade
A consultoria projeta estabilidade dos preços médios dos fertilizantes no Brasil ao longo de 2025, após queda acumulada de mais de 10% em 2024. Em dólar, o preço médio deve girar em torno de US$ 524 a tonelada em agosto de 2025, conforme dados do Banco Mundial sobre produtos como ureia, cloreto de potássio e superfosfato triplo.
Mesmo assim, a diferença entre culturas evidencia que a rentabilidade do produtor dependerá fortemente da dinâmica de preços agrícolas — mais favorável ao café, e menos a grãos e fibras.