Receita líquida da companhia, que está em recuperação judicial, caiu 78,5% no primeiro trimestre, para R$ 341,2 milhões O Agrogalaxy, que atua no varejo de insumos agrícolas, registrou um prejuízo líquido ajustado de R$ 153 milhões no primeiro trimestre deste ano, segundo balanço que a companhia divulgou na noite desta segunda-feira (9/6), um mês depois do prazo inicialmente previsto. No mesmo intervalo de 2024, a empresa, que está em recuperação judicial, teve lucro de R$ 250 milhões.
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Na mesma base de comparação, a receita líquida caiu 78,5%, passando de R$ 1,59 bilhão para R$ 341,2 milhões. O presidente da distribuidora, Eron Martins, atribuiu a queda ao cancelamento de pedidos no fim de 2024, quando a companhia não conseguiu negociar insumos para a segunda safra de milho.
Na avaliação do executivo, deixar de negociar na safrinha 2024/25 significou cancelar pedidos de clientes, já que não havia fluxo de caixa para entrega de insumos. Se tivesse conseguido vender durante a safrinha, a rede poderia ter faturado 30% a mais.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado passou de R$ 70 milhões negativos para R$ 59 milhões negativos, também no comparativo anual. A diminuição da perda, segundo a empresa, deveu-se à queda expressiva, de 64,7%, nas despesas com vendas, gerais e administrativas, que passaram de R$ 153,9 milhões para R$ 54,3 milhões.
Os números do primeiro trimestre mostram que a empresa segue operando no vermelho, enquanto tenta cumprir os termos homologados no processo de recuperação judicial. Os executivos, no entanto, projetam resultados mais positivos até o início de 2026.
Martins afirma que a nova estrutura da empresa, mais enxuta, e a redução de custos operacionais, da ordem de R$ 99,6 milhões — contando fechamento de lojas, cancelamento de contratos e demissões — ajudaram a recompor o caixa. Em janeiro de 2024, o grupo tinha 169 lojas em operação. Hoje, são 65.
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“É uma empresa diferente, de um tamanho distinto, o que [se vê nos] atuais resultados”, disse Martins. “Apesar de faturar menos, a nossa margem bruta está melhor e saudável”, acrescentou.
A estratégia comercial também passou por ajustes. “Estamos voltando a acessar um segmento de clientes com os quais não operávamos, que são os capitalizados”, disse o presidente. O grupo está preferindo vender à vista, mesmo que com margens de lucro apertadas.
O principal ramo da aposta comercial continua sendo o de defensivos agrícolas e especialidades, produtos de composição mais complexa, e, assim, de valor agregado maior. Na contramão, o grupo tira o pé do acelerador das vendas de fertilizantes, e, com isso, evita a necessidade de importar commodities.
Segundo o diretor financeiro da empresa, Luiz Conrado Sundfeld, os estoques estão sob controle, e a estrutura, adequada ao novo negócio após a homologação da recuperação judicial. Das despesas que a companhia cortou, 67% eram de custos fixos. Com a redução, ele espera um caixa mais saudável nos próximos meses e vislumbra sair do vermelho no primeiro trimestre de 2026.
Os efeits da recuperação judicial deverão aparecer no próximo trimestre, embora os executivos afirmem que, dada a safra recorde e a atual taxa de câmbio, estão otimistas com a possível entrada de pagamentos. A empresa seguirá sem formação de estoques, em “ritmo de maratona, mas devagar”, classificou Martins.
Ele explicou que a estratégia é vender de forma intensiva para um grupo menor de clientes, “o que cabe na estrutura atual da empresa”. Se, por um lado, o volume de vendas cai, de outro, o valor agregado aumenta, o que pode ajudar na recomposição da receita.
De acordo com os executivos, o modelo de negócios do Agrogalaxy vai se consolidando em um quadro de faturamento mais enxuto, Ebitda menor e controle nos custos operacionais. Martins afirmou que a fase é de “vigilância” sobre as margens e o mix de produtos. “O trabalho de redimensionamento da empresa necessita menos capital de giro”, enfatizou.
O Agrogalaxy obteve aprovação para seguir com o processo de leilão de sua carteira de recebíveis vinculada ao fundo de investimento em direitos creditórios (FIDC), de R$ 700 milhões, com expectativa de conclusão do leilão até a última semana de junho. Após concluir a estrutura de debêntures, os recursos passarão para o caixa da empresa.
O objetivo do leilão é permitir a qualquer outro credor participar da compra da carteira, mas preservando o direito do atual comprador, que são os fundos, de fazer a última oferta. Além disso, a parcela remanescente dos créditos que estão judicializados já se encontra na fase final de negociação, e a monetização desses ativos deve ocorrer no curto prazo, conforme explicou o diretor financeiro.
A previsão da companhia é que toda a liquidez que essa operação gerar esteja concluída até o terceiro trimestre deste ano e que o dinheiro do leilão entre no caixa da empresa em julho.