Após a abertura do mercado argentino para importações e a redução das restrições cambiais, a AGCO vê o país como estratégico para a expansão das marcas Fendt, Massey e Valtra na América Latina, enquanto ajusta custos globais para compensar as tarifas impostas pelos EUA.
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Em entrevista durante a Agritechnica 2025, feira de máquinas agrícolas que ocorreu durante a última semana na Alemanha, o CEO do grupo, Eric Hansotia, afirmou que, assim como o Brasil, a Argentina é uma potência na produção mundial de alimentos e tornou-se amigável para os negócios.
“Estamos muito animados com a Argentina. Houve várias mudanças no último ano ou dois que tornaram o país mais fácil para empresas como a AGCO fazer negócios. O país tem um enorme potencial de crescimento, com clientes muito grandes, altamente produtivos e exigentes”, afirmou.
O vice-presidente sênior da AGCO para a América Latina, Luís Felli, destacou que o mercado argentino como um todo cresceu cerca de 50% neste ano em tratores e colheitadeiras, e que os produtores agora têm mais confiança para investir em tecnologia, mesmo diante de juros ainda altos.
“Os agricultores agora conseguem liberar dólares e estão investindo para ganhar competitividade”, explicou.
Segundo ele, a estabilidade política e a vitória recente de Javier Milei no Congresso consolidam expectativas positivas para os próximos anos.
Na América Latina e no Brasil, a AGCO observa uma retomada gradual das atividades, ainda que o mercado global de máquinas agrícolas permaneça abaixo dos picos de 2023.
“O próximo ano deve ter uma pequena recuperação nas vendas e ser levemente melhor do que 2025. O motivo desses períodos de baixa é a rentabilidade reduzida dos produtores, com preços dos grãos em queda e aumento nos custos de insumos, fertilizantes e combustível. Mas os argentinos, assim como os brasileiros, conseguem navegar bem nesse cenário”, comentou Hansotia.
Biocombustíveis no radar
No Brasil, o crescimento da produção de etanol de milho abre oportunidades para tratores movidos a biocombustíveis, que devem chegar ao mercado nos próximos dois anos.
“Se o agricultor consegue ter acesso ao etanol que ele mesmo produz, o custo por hectare pode ser significativamente reduzido, tornando a tecnologia mais competitiva que o diesel”, explica Felli.
Ainda em relação ao Brasil, Hansotia ressaltou que em 2026, apesar do ano eleitoral e da manutenção da taxa de juros, os programas de crédito rural e subsídios históricos devem continuar, garantindo suporte ao setor agrícola.
“Não importa que seja ano de eleições, o setor agrícola é estratégico e terá apoio. Nossa prioridade é ajudar o agricultor a ser mais produtivo e rentável, oferecendo produtos, serviços e tecnologias que garantam retorno sobre o investimento, independentemente do período”, disse.
Em nível mundial, a estratégia da AGCO é apostar em biocombustíveis, autonomia das máquinas e inteligência artificial. “O futuro são ecossistemas inteligentes, em máquinas com sensores para otimizar seu próprio desempenho e que permitam aos agricultores usar dados para otimizar como a fazenda”, afirmou Hansotia.
Impacto do tarifaço
Quanto ao impacto das tarifas de importação criadas pelos EUA, Hansotia destacou que a AGCO está focada no controle de custos globais, replanejando compras, produção e logística. “As tarifas nos atingem de maneiras diferentes. A primeira que consideramos é o lado do custo, onde componentes e as máquinas vindos de diferentes lugares são taxados. Temos uma planilha enorme, mostrando onde compramos uma peça e para onde a enviamos, onde construímos uma máquina e para onde a exportamos.”
O segundo ponto, explica ele, é o custo com fornecedores. Muitos deles têm filiais em diferentes partes do mundo, com tarifas diferentes, e é preciso fazer uma redistribuição das compras. “Temos um projeto chamado reimagine, com 700 iniciativas para minimizar o impacto das tarifas sobre o agricultor, mantendo preço competitivo e mantendo nossa alta eficiência”, afirmou Hansotia.