
Caminho mais seguro para proteger os interesses brasileiros na UE é se antecipar à agenda de sustentabilidade, afirma diplomata Em consequência ao “tarifaço” do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que aplicou taxas de importação contra diversos países do mundo, os EUA e União Europeia (UE) podem chegar a um acordo de comércio em algum momento, com potencial para afetar indiretamente o agronegócio do Brasil, disse nesta terça-feira (6/5) o embaixador do Brasil junto à União Europeia, Pedro Miguel, durante evento.
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Falando em vídeo direto de Bruxelas, na Bélgica, sede da Comissão Europeia, o embaixador ressaltou que a situação do Brasil é diferente da de outros países que se relacionam em negociações com a UE.
“O Brasil tem um espaço fantástico aqui [em fornecimento de produtos agropecuários], mas ao mesmo tempo em que temos esse êxito, isso gera um temor nos europeus. Temos uma imagem negativa que não reflete a realidade [do agronegócio brasileiro] e é uma imagem muito difícil de combater”, afirmou Miguel.
Ele explicou que, no caso da visão europeia sobre os EUA, a “relação tem um componente de segurança”, devido à influência americana sobre as movimentações na guerra entre Rússia e Ucrânia. Isso significa que os europeus pretendem preservar a segurança da região e este fator seria considerado com relevância na construção de acordos, e não somente as relações comerciais.
“Por exemplo, eu diria que os americanos vão ser classificados como risco baixo na lei antidesmatamento da UE”, cita o embaixador.
Na percepção de Miguel, três grandes conflitos vão determinar para onde vai a União Europeia: a guerra na Ucrânia, o novo momento comercial com os EUA, e a relação comercial também difícil com a China.
“Falam muito em autonomia e soberania, e isso inclui a agricultura. Há um aumento da polarização, emergência de novos partidos políticos e dos partidos que favorecem a agenda do protecionismo europeu”, ressaltou.
“Há uma ambição que [os europeus] buscam mudar o comportamento de outros países. A lei antidesmatamento tem claramente a intenção de controlar um pouco o uso da terra em outros países”, acrescentou.
Neste contexto, o agronegócio brasileiro sai em desvantagem. A EUDR, conhecida como lei europeia antidesmatamento, evitará a importação pela UE de uma lista de produtos agrícolas que tenham relação com qualquer tipo de desmatamento. Porém, um dos conflitos é que no Brasil é permitido o desmatamento legal, contanto que um percentual de áreas designado por lei nacional seja preservado dentro das propriedades rurais.
Para o embaixador, o caminho mais seguro para, então, proteger os interesses brasileiros na UE e combater a imagem negativa do agronegócio é se antecipar à agenda de sustentabilidade, proteção ao meio ambiente, direitos humanos, terras indígenas, entre outros fatores nesta linha. Isso porque qualquer infração deixada pelos brasileiros nesses quesitos poderá ser usada pelos europeus contra o Brasil.
Outro ponto favorável foi o fechamento do entre acordo UE e Mercosul, que retira parte das desvantagens que o Brasil tinha em relação a outros países que têm acordos com a União Europeia fechados anteriormente.