A deputada federal Luizianne Lins (PT-CE) afirmou, em entrevista à TV Cidade Fortaleza na manhã desta sexta-feira (17), que o acordo mediado pelos Estados Unidos (EUA) para um cessar-fogo na Palestina é “frágil” e não resolve as causas profundas do conflito. Segundo a parlamentar, que integrou uma missão humanitária internacional rumo a Gaza, o verdadeiro objetivo de Israel é manter o domínio territorial. “A gente vê que é um acordo frágil porque eles querem colonizar a Palestina”, declarou ela em entrevista exclusiva ao jornalista Miguel Anderson Costa, no Balanço Geral Ceará Manhã.
Luizianne defendeu que a paz só será possível quando houver reconhecimento pleno do Estado palestino e participação efetiva da sociedade local nas negociações. “O acordo precisa ter essa sintonia de que a população palestina participe de todo o processo”, afirmou. “O povo palestino tem direito ao Estado palestino. Enquanto não tiver criado o Estado Palestino, a paz não será restabelecida”, completou.
A deputada também destacou que o cessar-fogo temporário traz apenas um breve alívio para a população civil. “Você ter três, quatro dias sem aquelas crianças terem que dormir com barulho de bomba só alivia nossa alma, mas é insuficiente”, disse.
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“A gente vê que é um acordo frágil porque eles querem colonizar a Palestina. Penso que o acordo precisa ter essa sintonia de que a população palestina participe de todo o processo. A sociedade palestina tem condições, porque a gente sempre lutou, desde o movimento estudantil, a gente queria a Palestina livre pela autodeterminação dos seus povos. O povo palestino tem direito ao Estado palestino. Enquanto não tiver criado o Estado palestino, a paz não será restabelecida. Porque ali tem um processo de fé muito grande, uma luta histórica, que há muito tempo eles resistem”, pontua Luizianne Lins
Defesa da causa palestina e violações de Israel
Durante a entrevista, Luizianne reforçou que Israel tem descumprido normas do direito internacional, principalmente ao manter o bloqueio à Faixa de Gaza e impedir a entrada de ajuda humanitária. Segundo ela, o país usa a fome como arma de guerra, contrariando tratados internacionais.
“Israel está descumprindo tudo”, afirmou a deputada, ressaltando que as leis de guerra garantem o direito à criação de corredores humanitários. “Todo o povo, inclusive o que está em guerra, pode ter um corredor humanitário criado. Isso é do direito das leis internacionais”, explicou.
Ela relatou que a flotilha da qual participou tinha como objetivo abrir um corredor humanitário para a entrada de alimentos e remédios, mas foi interceptada por forças israelenses antes de chegar ao destino. “O grande desafio era abrir o corredor humanitário, porque, na hora que as embarcações chegam, mesmo sem toda a alimentação que Gaza precisaria, o corredor precisa permanecer aberto”, afirmou.
Ela destaca que Israel está impedindo a chegada de ajuda humanitária à população local, atingida pelos bombardeios. A parlamentar defende que o bloqueio à Faixa de Gaza representa uma violação sistemática de direitos humanos, agravada pelo uso de fome como arma de guerra.
Prisão e maus-tratos durante a missão
Luizianne Lins também relatou detalhes da interceptação e prisão dos integrantes da flotilha por forças israelenses, que os impediram de chegar a Gaza. Ela contou que o grupo foi detido em águas internacionais, levado à força para o porto israelense e posteriormente mantido em um presídio de segurança máxima, sob condições degradantes, ressaltando que chegou a viver privação de sono, de água e de comida enquanto esteve sob poder das forças israelenses.
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Segundo Luizianne, os integrantes da missão foram detidos sob “forte aparato policial” e levados à prisão após cerca de 15 horas de travessia em alto-mar, durante as quais ficaram sob vigilância e sem acesso a água potável.
“Tinham dito que iam nos tratar como terroristas de estado. I,nclusive nós fomos quarta-feira, na quinta amanhecemos lá, passamos o dia inteiro, na quinta-feira, sem comer, sem ir no banheiro, sem tomar água, até chegar à noite no presídio. Chegamos na quinta-feira à noite. E pasmem: na madrugada, primeiro que eles o tempo inteiro faziam terror psicológico e privação de sono, de em uma hora entrava exército israelense na cela, uma cela que era para ter cinco pessoas tinham onze, no meu caso”, narra Luizianne Lins.
A deputada relatou ainda as condições degradantes impostas logo após a chegada ao território israelense. “Fomos obrigados todos a ficar de joelhos com cotovelos no chão, segurando o passaporte na frente, com a cabeça no chão. Ficamos mais de uma hora nessa situação”, disse. Segundo ela, mais de 200 ativistas foram submetidos ao mesmo tratamento e mantidos “debaixo do sol, no asfalto, como forma de humilhação”.
A parlamentar também revelou ter sido pressionada a assinar um documento declarando-se terrorista, o que recusou. “O documento dizia que eu era terrorista e eu tinha que assumir que era terrorista ao assinar”, afirmou, acrescentando que o ministro israelense da Segurança Nacional chegou a visitá-los na prisão acompanhado de câmeras e soldados. “Ele disse: ‘estou aqui para ajudar vocês a saírem daqui, desde que assinem o documento que diz que vocês são terroristas, são ligados ao Hamas’”, contou.
Luizianne classificou a experiência como humilhante, mas destacou que a realidade enfrentada pelos palestinos é ainda mais dura. “Com tudo que a gente passou, eu penso que não chega nem próximo ao que milhares de palestinos passam naquela mesma prisão”, observou, destacando que há 10 mil palestinos presos no local, incluindo 400 crianças.
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Luizianne desembarcou no Brasil na última semana, após ter ficado seis dias detida em Israel. Ela chegou ao Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, tendo vindo para Fortaleza em seguida.
A parlamentar estava em missão oficial da Câmara dos Deputados como observadora internacional na flotilha humanitária que levava alimentação, fórmulas infantis e medicamentos a moradores da Palestina. O grupo foi detido no último dia 2 de outubro, em águas internacionais, enquanto participava da missão humanitária. A interceptação pelas forças israelenses aconteceu fora do mar territorial de Israel.
Após a detenção, a deputada e mais 12 brasileiras e brasileiros foram deportados para a Jordânia pelo Governo de Israel no último dia 7 de outubro.
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