O presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Roberto Perosa, afirmou nesta sexta-feira (14/11) que, apesar das dúvidas sobre o alcance da isenção tarifária anunciada pelos Estados Unidos para a venda de carne bovina para lá, a medida é uma sinalização positiva de que há margem para entendimento com o governo americano e para a retomada normal do fluxo comercial para aquele país.
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A dúvida é se a isenção anunciada hoje será aplicada à tarifa de 10%, e que vale para todo o mundo, ou também sobre os 40% adicionais específicos ao Brasil.
“Essa medida, apesar de ainda estar sendo estudada, se é sobre os 10% ou os 40%, a princípio parece que é só nos 10%, já é uma sinalização do governo americano da necessidade de [adotar] medidas para combater a questão inflacionária americana, sobretudo de produtos que não tem tanta oferta hoje no mercado americano”, afirmou em entrevista à CNN.
Ele afirmou que torce para que a medida seja esclarecida em breve e que contemple a retirada da tarifa de 40%. Com o tarifaço, a carne bovina brasileira é taxada em 76,4% nos EUA.
Perosa afirmou que a formalização da retirada da tarifa total sobre a proteína brasileira vai gerar a retomada da produção de cortes específicos para os americanos na indústria nacional. Os frigoríficos vendem, principalmente, cortes do dianteiro bovino, usados pelas processadoras americanas para fabricação de hambúrgueres.
“Assim que for determinada a redução da tarifa total, haverá aumento da produção específica para os EUA. Tão logo esse mercado seja retomado, as indústrias voltarão a produção para esse mercado”, disse na entrevista.
Segundo ele, os frigoríficos precisam de uma sinalização. “Essa sinalização ocorreu hoje, de que há margem para redução das tarifas e de que, provavelmente, há um entendimento para os EUA reduzirem as tarifas. As indústrias optarão a retomar o diálogo com os importadores dos EUA para poder começar a produção das carnes e voltar a enviar carnes para lá”, completou.
Perosa atribuiu a medida a junção dos esforços dos setores privados em mostrar os impactos do tarifaço aos americanos e da negociação formal do governo brasileiro.
“Acho que é uma medida positiva, fruto da negociação governamental e das ações dos privados (…) É inegável que após o encontro do [presidente dos EUA, Donald] Trump e [do presidente brasileiro] Lula as conversas se destravaram. Teve um momento em que até achávamos que ia demorar mais um pouco”, explicou na entrevista.
“Houve movimentação dos privados de explicar às autoridades americanas a respeito do efeito das tarifas sobre as exportações aos EUA, mas, de fato, a negociação é sempre conduzida pelo governo. O grande trunfo foi do governo brasieiro que conseguiu fazer essa negociação e chegar a essa primeira redução. Não é o ideal ainda, mas é a primeira sinalização de que pode ser retomado o fluxo comercial normal com EUA”, completou.
Perosa explicou ainda que os EUA eram o segundo maior mercado de exportação do Brasil e que o ritmo das vendas caíram cerca de 60% desde agosto, quando as tarifas de 40% foram implementadas.
Apesar da capacidade de redirecionar as cargas, ele salientou que o país é “insubstituível”, por conta da rentabilidade dos embarques para lá, a facilidade logística, por ser “perto” do Brasil em comparação com a Ásia, e pelo fato de a carne brasileira ser usada como ingrediente na indústria americana, o que não gera uma concorrência direta com a pecuária de lá.
“É um mercado muito importante. Pelo ciclo pecuário que eles vivenciam, há competitividade grande e rentabilidade para exportar para EUA, por isso é importante a retomada do mercado, para trazer dividendos para o Brasil e remuneração para o produtor, para a indústria, toda a cadeia pecuária”, disse.
Segundo ele, nesse período, o Brasil incrementou as vendas para China e novos mercados, como Indonésia, Malásia e Vietnã. “É importante ter diversificação de mercados, que nos dá a oportunidade nesses momentos de tensão de enviar para outros destinos, mas nada substitui o mercado americano, que é grande e com alta rentabilidade”, concluiu.
Diálogo
“A medida reforça a confiança no diálogo técnico entre os dois países e reconhece a importância da carne do Brasil, marcada pela qualidade, pela regularidade e pela contribuição para a segurança alimentar mundial”, pontuou a Abiec, em nota.
Para a Abiec, que representa gigantes da indústria como JBS, MBRF e Minerva, a redução tarifária devolve previsibilidade ao setor e cria condições mais adequadas para o bom funcionamento do comércio.