Empresa tem a meta de, em até três anos, fazer com que a Argentina responda por 10% a 15% do seu faturamento global Cinco dias, mais de 1,4 mil quilômetros e incontáveis paradas e empanadas levaram o CEO da Kepler Weber, Bernardo Osborn Nogueira, a uma certeza: é hora de investir na Argentina. A bordo de uma picape, o executivo acompanhou sua equipe comercial em visita a alguns dos principais clientes no país vizinho para entender se valia pena montar um escritório por lá. A resposta, é sim.
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E com a decisão, a Kepler tem a meta de, em até três anos, fazer com que a Argentina responda por 10% a 15% do faturamento global da empresa. Em 2024, a receita foi de R$ 1,6 bilhão.
A maratona rodoviária foi acompanhada pela reportagem do Valor durante o inverno mais rigoroso que a Argentina enfrentou em 60 anos. Nas reuniões com clientes, o frio de rachar deu lugar a uma receptividade calorosa, que deixou clara a animação dos empresários com a recente estabilidade econômica e cambial.
“A Argentina combina dois fatores interessantes: expectativa de melhora econômica e um enorme potencial agrícola, com solos férteis, logística eficiente e tradição exportadora”, afirmou Nogueira. “O país passou por um longo período de defasagem em investimentos, especialmente na última década, e isso cria um cenário de ‘catch up’ tecnológico”.
O interesse do executivo vai além dos negócios. Casado há 20 anos com uma argentina, Nogueira conhece bem o país, suas regiões produtoras e sua cultura. “Passamos de zero faturamento em 2020 para disputar em 2025 o posto de principal mercado externo da companhia”, disse.
Bernardo Nogueira, CEO da Kepler Weber: “A Argentina combina dois fatores interessantes: expectativa de melhora econômica e um enorme potencial agrícola”
Divulgação

Entre os clientes que a Kepler visitou, a Copra, que atua na produção de arroz, gastou, sozinha, US$ 4 milhões em novos silos e sistemas de secagem.
Com centenas de clientes de peso entre os maiores exportadores de soja, arroz e trigo do país, a Kepler Weber atua na Argentina por meio de dois representantes, mas quer ampliar sua presença. E, prestes a completar 100 anos de fundação, a empresa lembra que fez sua primeira exportação para a Argentina há 87 anos.
“Apesar do tamanho e do potencial do mercado, a concorrência local é formada majoritariamente por empresas menores, o que abre espaço para a Kepler se destacar e crescer com força no país”, disse Nogueira.
A empresa vê espaço para crescer tanto no fornecimento de unidades completas quanto em peças e serviços de reposição – especialmente diante do estado de conservação deficiente de parte do parque instalado.
A proximidade geográfica (uma das fábricas da Kepler está em Panambi (RS), a cerca de 200 quilômetros da fronteira) e o acesso facilitado pelo Mercosul também tornam o país atrativo. “Conseguimos chegar com muita competitividade. O próximo passo agora é estruturar um plano para acelerar nossa participação”, afirmou o executivo.
Apesar do otimismo, Nogueira pondera que a retomada depende de variáveis como a rentabilidade do agro global e a continuidade da melhora macroeconômica, com inflação mais controlada, câmbio mais estável e maior abertura para importações. “Se voltarmos a um cenário de restrições à importação, como vimos nos últimos cinco anos, perde o sentido termos presença direta aqui”, afirmou.
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A Argentina não proibia efetivamente a importação de equipamentos agrícolas novos, apenas o fazia para usados, mas o acesso ao dólar oficial para importações era rigidamente controlado. Importadores precisavam solicitar autorização ao Banco Central, o que nem sempre ocorria imediatamente ou era garantida, o que causava atrasos ou até bloqueios nas operações. Em muitos casos, importadores recorriam ao mercado paralelo (dólar “blue”) com taxas muito superiores, encarecendo o custo final dos equipamentos.
Apesar do otimismo, o CEO ainda não tem definida a estrutura do escritório local ou quantos funcionários serão contratados. A certeza é que os representantes comerciais que atuam há mais de 30 anos nessa parceria, continuarão. “O que o nosso conselho de administração vai definir agora é o tamanho e a velocidade do investimento”, afirmou Nogueira.
Também o diretor comercial da Kepler Weber, Ismael Schneider, explica que alguns dos produtos oferecidos pela empresa de soluções pós colheita precisarão ser adaptados. Um exemplo é o uso de gás nos secadores, mais comum no país vizinho, ou a necessidade de equipamentos específicos para arroz. “Esses detalhes técnicos precisam ser incorporados à nossa linha para fornecer de forma adequada”, explicou.
A atuação da Kepler na Argentina tende a se concentrar inicialmente em agroindústrias, mas há potencial para crescer também no atendimento direto a fazendas. A empresa planeja fortalecer ainda a operação de reposição, que hoje conta com apoio dos distribuidores locais, além dos serviços de monitoramento de grãos da Procer.
A jornalista viajou a convite da Kepler Weber