
Evento é visto como uma oportunidade para fortalecer a posição do país nas negociações climáticas internacionais O Brasil precisa levar à COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025, que acontece em novembro em Belém (PA), uma mensagem coesa sobre o papel do agronegócio na agenda climática. Essa foi a mensagem de participantes do encontro “Rumo à COP30”, realizado nesta quarta-feira (23/4) em São Paulo pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag). O evento reuniu especialistas, representantes do agronegócio e formuladores de políticas públicas com o objetivo de alinhar estratégias e fortalecer a posição do Brasil nas negociações climáticas internacionais.
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O embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, comentou sobre a percepção da agricultura nas conferências climáticas. Para ele, o setor é tradicionalmente visto como “uma vítima das mudanças do clima dentro das negociações” das COPs, mas acredita que a agricultura “tem que aparecer como um dos principais elementos das consequências, mas também o que ela pode trazer de positivo em relação a toda a dimensão de captura de CO2”. Segundo o diplomata, a próxima conferência representa uma oportunidade para o setor demonstrar seu potencial.
“O governo não é único e o setor privado também não. Ambos têm várias vozes. Como harmonizamos isso tudo e apresentamos uma única visão?”, questionou Roberto Azevêdo, ex-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC). “Se formos incapazes de demonstrar como agro brasileiro está fazendo a diferença nas pautas de sustentabilidade, essa oportunidade da COP30 será perdida. Essa verdade não será assimilada se não for bem contada”, afirmou.
Ele também comentou sobre a mudança de foco nas recentes Conferências das Partes (COPs), que, segundo ele, passaram a enfatizar o agronegócio, muitas vezes com distorções. “O foco saiu das causas óbvias de emissão e veio para o agronegócio com distorções”, disse, citando como exemplo a não contabilização da capacidade de sequestro de carbono pelas atividades agrícolas. Ele alertou ainda para a predominância de narrativas que desconsideram a realidade de países emergentes e da agricultura tropical. “Quando chega a um nível político, prevalece uma narrativa que ignora a situação desses países”, declarou.
Azevêdo destacou o atual cenário de incertezas, tanto no comércio internacional quanto nas políticas ambientais. “Os Estados Unidos se retiraram de alguns acordos ambientais, e a Europa está revendo o timing de políticas como o Green AgroDeal e o EUDR, avaliando o momento, uma vez que essas medidas têm custos”, afirmou.
O ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues também afirmou que o setor do agronegócio precisa apresentar uma comunicação unificada. “É preciso existir harmonia dos discursos do agronegócio. É preciso convergir para uma posição só”, declarou.
Segundo Rodrigues, a articulação entre os diferentes atores do agronegócio é importante, mas não suficiente. “Só que não adianta, porque quem decide é o governo. Esse discurso integrado e articulado deve ser levado ao governo e convencido ao governo”, afirmou.
Protagonismo
Representando o governo federal, Alessandro Cruvinel, diretor de Apoio à Inovação Agropecuária do Ministério da Agricultura, reforçou o protagonismo brasileiro na agenda ambiental deste ano. “Esse ano o Brasil tem um protagonismo importante e a possibilidade de se posicionar, propondo agendas para que outros países embarquem na nossa agenda. E vamos aproveitar essa oportunidade”, afirmou.
Cruvinel também anunciou que o país está estruturando uma iniciativa voltada à recuperação de áreas degradadas, com foco em segurança alimentar e mudança climática. “É uma agenda de ação que precisa ter uma envergadura que atenda o Brasil, mas também atraia outros países”, explicou. Segundo ele, a nota conceitual da proposta já está em fase final de elaboração e será apresentada oficialmente durante a COP30.
O deputado federal Arnaldo Jardim (CD-SP), vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), defendeu que a COP 30 não é um evento apenas ambiental, mas deve tratar de outros setores, como o agro.
“Numa situação inicial de defensiva, nós temíamos que a COP fosse entendida simplesmente como uma COP da Amazônia e como um evento ambiental”, mas afirma que o evento aborda também a vida das cidades e outros setores econômicos, como o agro. Por isso, Jardim também considerou uma conquista a nomeação do embaixador André Corrêa do Lago como presidente da COP30. “Ele tem uma visão próxima à nossa, que queremos ver [o agronegócio] de uma forma mais ampla”, afirmou.
Jardim afirmou que alguns setores, tanto nacionais quanto estrangeiros, veem a COP como uma oportunidade para criticar o setor. “Consagrar o papel de vilão” ao agronegócio, segundo ele, é uma interpretação adotada “alguns por equívoco e outros por interesse comercial”. Ele complementou: “Não vou, de forma nenhuma, dizer que há uma grande conspiração pelo Brasil, mas há interesses comerciais a serem enfrentados que, muitas vezes, se apresentam travestidos de preocupação ambiental”.
O deputado ainda afirmou que a exploração de petróleo na margem equatorial “vai acontecer”, e que os combustíveis fósseis ainda farão parte da matriz energética por algum tempo. “Até porque a questão dos combustíveis fósseis não se decide do dia para a noite. Mas temos que passar a iniciativa pedindo a relevância dos biocombustíveis”, declarou.
Embrapa
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) confirmou que participará da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), com a instalação de um espaço temático denominado “Casa da Agropecuária Brasileira”, também chamado de “agrizone”. A iniciativa foi anunciada pela presidente da instituição, Silvia Massruhá.
De acordo com Massruhá, o objetivo é apresentar o setor agropecuário nacional a comitivas internacionais por meio de dados, informações técnicas e vitrines tecnológicas. Segundo a dirigente, a proposta é demonstrar como práticas agrícolas baseadas em ciência podem contribuir para o sequestro de carbono e integrar esforços de transformação ambiental.
A Embrapa também informou que lançará, no dia 7 de maio, um relatório do programa Jornada Pelo Clima. O documento reúne dados voltados à adaptação e resposta às mudanças climáticas. Após o lançamento, estão previstos seis eventos regionais, um em cada bioma brasileiro, a serem realizados ao longo do ano.