O Ceará pode entrar para a história como o primeiro estado brasileiro a cultivar pistache, fruto altamente valorizado e até agora 100% importado pelo país. A iniciativa é encabeçada por agricultores locais, que apostam na região da Serra da Ibiapaba como possível solo fértil para a adaptação dessa cultura exótica. A proposta, embora promissora, esbarra em desafios técnicos, burocráticos e climáticos.

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Com origem milenar nas regiões montanhosas do Oriente Médio, o pistache sempre dependeu de um ciclo climático específico, que inclui verões quentes e invernos frios, com pelo menos dois a três meses com temperaturas abaixo de 10ºC. A Serra da Ibiapaba, localizada na divisa com o Piauí e com altitudes médias de 900 metros, oferece um clima mais ameno em relação ao restante do estado, mas ainda não alcança os rigorosos padrões de frio exigidos pela planta.

Desde 2022, a Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará (Faec) articula a implementação do projeto, após visita técnica às plantações da Califórnia, maior polo de produção do pistache nos Estados Unidos. A Faec solicitou apoio da Embrapa para importar o material genético da planta e testar sua adaptação no Ceará. No entanto, quase três anos depois, o processo permanece em fase preliminar. O material genético ainda não foi definido e nenhuma parceria formal foi estabelecida para o início das pesquisas.

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De acordo com a Embrapa Agroindústria Tropical, o cultivo do pistache esbarra na ausência de germoplasma, que depende de autorização do Ministério da Agricultura e passa por um processo de quarentena que pode levar até 18 meses. Só após essa etapa seria possível iniciar o plantio das primeiras mudas. Mesmo com sucesso nos testes, a planta leva cerca de dez anos para alcançar seu ciclo produtivo completo.

Apesar da lentidão, os agricultores cearenses mantêm o otimismo. A aposta é abastecer o mercado interno com preços mais competitivos e reduzir a dependência das importações, que triplicaram nos últimos dois anos — passando de 350 para mais de mil toneladas em 2024, segundo dados da Comex Stat. Hoje, 85% do pistache consumido no Brasil vem dos Estados Unidos.

Estudos anteriores do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) apontaram o Nordeste — em especial a região de Petrolina e Juazeiro — como promissora para o cultivo experimental do pistache, principalmente se associado a culturas mais rápidas, como as videiras. No entanto, até o momento, o Ceará segue liderando a frente de inovação.

Caso as condições técnicas e logísticas se alinhem, o estado pode inaugurar uma nova era agrícola no país, transformando a Serra da Ibiapaba no berço nacional do pistache.

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