
Marcas oferecem descontos de até 25%, mas juros altos afastam o produtor rural Em Sinop, no meio-norte de Mato Grosso, a temperatura está baixa, diz Marcos Fernandes Esser, gerente de vendas da Amazônia Máquinas, revendedora New Holland. Mas ele não se refere ao clima predominantemente quente da região e sim aos negócios.
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No estande da empresa na Norte Show, feira agrícola que termina hoje em Sinop, o destaque é a maior plataforma de colheita de milho do país, a Evolution de 30 linhas. Esser diz que a marca projetou vendas de R$ 25 milhões a R$ 30 milhões na feira, mas lamenta que a falta de crédito e os juros altos estão levando o agricultor a segurar as compras.
“No ano passado, fizemos R$ 21,5 milhões na feira. Projetamos uma melhora, mas, por enquanto, a maioria está apenas prospectando negócios à espera da definição dos juros do novo Plano Safra, que não devem vir abaixo de 12,5%”.
O gerente ressalta que o preço das máquinas subiu muito no pós-pandemia quando a saca de soja estava sendo vendida a R$ 180. Na época, o produtor não se importava com o preço porque estava com boa rentabilidade, mas há dois anos o preço da soja recuou bastante e o das máquinas não acompanhou esta queda.
Mesmo assim, para atrair os produtores, a loja está oferecendo na feira descontos de até 25% em algumas colheitadeiras menores que saem por R$ 1,2 milhão e em tratores de menor porte. A rede trabalha com as linhas de financiamento do Banco CNH e várias outras, além do consórcio, que tem taxas menores, mas exige um planejamento para a compra porque essa modalidade não tem pronta entrega.
A maior plataforma de milho já teve um comprador na região: Vilmar Giachini, que tem fazenda em Claudia (MT), fez a validação da máquina em sua propriedade, aprovou e ficou com o equipamento.
No estande da Agripart, revendedora das máquinas Khun com quatro lojas na região, a temperatura não era maior na quarta (16/4). O gerente Ivan Bandeira disse que o mercado está em um momento muito delicado, as vendas até apresentam uma reação positiva em relação ao ano passado, mas está “bem longe de bom”.
A empresa gastou R$ 200 mil para participar da Norte Show e tinha uma meta de vender 50% a mais do que no ano passado, quando faturou R$ 8 milhões.
“Vai ser bem difícil alcançar a meta. Faltam clientes no estande até para pesquisar preços. Estamos oferecendo máquinas com desconto e os preços estão até menores que no ano passado, mas o produtor não se anima a investir com essa taxa de juros”.
Segundo ele, nos 37 anos em que trabalha nesse mercado, nunca vendeu uma máquina com um juro tão alto. “No financiamento, o comprador leva uma máquina e acaba pagando por duas e meia.”
O destaque no estande da Khun, empresa que tem como carro-chefes pulverizadores e distribuidores de adubo, é o distribuidor Accura 8.0, que custa R$ 1,75 milhão, mas na feira tem um desconto de R$ 100 mil.
Na revendedora da John Deere, a Agro Baggio, o gerente Dilmar Frares disse que os negócios estavam mesmo bem devagar neste ano na feira. Ele acredita que o produtor está desmotivado porque a data do evento em Sinop ficou muito próxima da feira de Lucas do Rio Verde, a Show Safra, que terminou em 28 de março.
Cícero Berti, dono da revenda da Stara em Sinop, disse que, apesar dos juros altos, espera vender 20% a mais neste ano na feira em relação ao resultado fraco de 2024. A Stara tem como carro-chefe das vendas plantadeiras, distribuidoras e máquinas para preparo de solo.
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“Muitos produtores quebraram nos últimos três anos. O preço da soja melhorou um pouco neste ano, mas, para quem já está endividado, fica difícil investir”, disse Berti, que concilia o comando da loja em Sinop com a vice-presidência da Acrinorte, a organizadora da Norte Show.
Segundo ele, a maioria (60% a 70%) dos negócios envolvendo máquinas agrícolas são realmente concluídos 15 ou 20 dias depois do evento. “Com esses juros tão altos, pelo menos metade dos negócios que são fechados na feira são com recursos próprios.”
Insumos em alta
Na contramão dos expositores de máquinas agrícolas, o agropecuarista de Nova Canaã do Norte Daniel Wolf é só sorrisos na Norte Show. Dono da empresa de nutrição Fortune, ele participa da feira desde a primeira edição e diz que neste ano o pecuarista está investindo bem de olho no ciclo de alta da atividade.
Ele diz, no entanto, que não faz negócios na feira, só apresenta as novas tecnologias em nutrição animal e marca uma visita na fazenda do interessado para apresentar uma solução completa e personalizada de nutrição.
“A Norte Show é excelente para relacionamento e serve como vitrine para nossa marca e tecnologias”, diz Wolf, que faz ciclo completo em sua fazenda e tem uma produtividade média de 35 arrobas de carne por hectare.
A Inpasa, indústria de etanol de milho e DDG que tem sua maior unidade instalada em Sinop, está com estande na feira para comercialização de DDG, produto para ração animal. No ano passado, segundo o presidente da Norte Show, Moisés Debastiani, a empresa comercializou mais de R$ 350 milhões de DDG no evento e deve melhorar o resultado neste ano, expectativa de todos expositores do setor de insumos.
Apenas o necessário
Comprar só o estritamente necessário. Essa era a intenção de vários produtores que a reportagem entrevistou nos estandes de máquinas agrícolas em dois dias na Norte Show. A expectativa da organização é superar os R$ 4 bilhões anunciados como faturamento do ano passado.
“Eu estou precisando de um trator e de uma plantadeira maiores, mas com essas taxas de juros não dá para investir neste ano. A gente pagava taxas de financiamento de 7% ou 8% e hoje está de 16% a 20%. Tem que esperar passar o ano ruim”, disse o produtor de grãos Luiz Paulo Lauxen, que cultiva lavoura de 1.100 hectares em Sinop.
No final de 2024, Lauxen, da segunda geração de agricultores da sua família de paranaenses, financiou uma colheitadeira CR 8.90 da New Holland porque estava precisando com urgência de um equipamento maior para o trabalho em sua lavoura. Na Norte Show, ele comprou adubos aproveitando o frete grátis.
Produtor Luiz Paulo Lauxen
Eliane Silva
“Estou plantando a safra com soja de R$ 110 reais a saca. Precisava no mínimo de um valor de R$ 120. O ano passado foi muito ruim, o preço das commodities subiu um pouquinho neste ano, mas os custos de produção aumentaram 18%, fora o combustível.”
Edson Mafini, que planta 800 hectares de grãos em Novo Mundo, também disse que não fará negócios neste ano na Norte Show. “Cadê o dinheiro? O preço da soja está muito barato e o juro, muito alto. Eu precisava comprar mais máquinas, mas com esse juro não dá”, disse o agricultor no estande da John Deere.
Quem fez muitas compras na Norte Show foi Moisés Debastiani, atual presidente da Acrinorte, associação que organiza a feira. Além de sementes de milho e adubo para a safra do próximo ano, ele adquiriu quatro caminhões Mercedes-Benz e quatro carretas para transporte de sua safra.
“Consegui um desconto muito grande nos quatro caminhões. Em vez de R$ 760 mil, paguei R$ 690 mil em cada um, fiz as contas e vou economizar com frete”, disse o catarinense Debastiani, que mora em Mato Grosso há 40 anos.
O produtor diz que não investiu em máquina agrícola neste ano porque comprou uma colheitadeira há dois anos e ainda paga o financiamento. Debastiani, que planta 3.800 hectares de grãos em Feliz Natal (MT), colheu soja neste ano com produtividade acima de 70 sacas por hectare e está confiante que vai ter sua melhor safra de milho.