
Comerciantes e executivos de entidades do setor afirmam que, em algumas espécies bastante procuradas nesta época do ano, os valores estão até mais baixos que na semana da Páscoa de 2024 O peixe é o protagonista do cardápio na Semana Santa. Opções para todos os gostos estão à disposição dos consumidores, com um extenso número de alternativas de preparo. Costuma também ser um período de preços mais elevados, devido ao aumento da demanda. Mas, neste ano, o cenário está diferente, afirmam comerciantes e representantes do setor.
Leia também
Empresa de MT investe R$ 35 milhões para duplicar produção de tilápia
Aquicultura emite dez vezes menos carbono do que pecuária na Amazônia
Tilápia geneticamente editada é aposta de empresa para aumentar produção de peixes
Marcelo Jacques, dono de uma peixaria no Mercado Público de Florianópolis (SC), diz que a semana da Páscoa começou positiva. As vendas na segunda-feira (14/4), superaram de 30% a 40% as da segunda-feira, um ano atrás. Os preços, afirma o comerciante, estão semelhantes aos de 2024.
Em seu estabelecimento, a sardinha está entre R$ 10 e R$ 11 o quilo. A tilápia, diz ele, também está praticamente no mesmo preço do ano passado. Mesmo levando em conta que a procura pelo pescado aumento não apenas para os festejos da Páscoa, mas também como alternativa a outras carnes, que ficaram mais caras.
“Esse ano não teve muito aumento. Já vínhamos há um mês com a venda elevada, por causa do aumento da carne e de outros produtos, então o peixe está sendo procurado não só agora. A procura está grande, mas o preço não aumentou”, relata.
Em Florianópolis, cidade com mais de 40 praias catalogadas e diversas variedades de peixe de água salgada acessíveis, a tilápia, de água doce, é o pescado que mais se destaca na peixaria. “ O catarinense pegou gosto mesmo. Ele pode comprar inteira para fazer em postas ou em filé, que é uma delícia. Vendemos ela suja, por R$ 17, ou limpa, que é R$ 20. É o mesmo valor do ano passado”, afirma.
Camarão foi um dos produtos que subiu de preço. Oferta ficou aquém do esperado, disse comercian catarinense
Daniela Walzburiech
O que subiu foi o camarão pequeno. Está R$ 36 o quilo. Um ano atrás, estava R$ 24. A oferta ficou abaixo da expectativa. “O camarão sai bastante mesmo assim, é o que mais vende. Eu tenho o hábito de dizer que é a vedete aqui do Mercado Público, porque todo mundo que entra para comprar o seu almoço na sexta-feira é obrigado a levar camarão”, diz Jacques.
Saiba-mais taboola
Manoel Guimarães, dono de outro estabelecimento no Mercado Público, há 25 anos no Mercado Público da Capital de Santa Catarina, explica que a oferta aumentou, principalmente nos últimos 40 dias, o que ajudou a manter os preços semelhantes aos do ano passado. Alguns produtos, diz ele, tiveram baixa de até 20%.
“São muitas as opções para o consumidor nessa semana. As mais baratas são a tainha, que é congelada, a sardinha e, ainda mais em conta, tem o filé de tilápia, que caiu no gosto do pessoal”, diz o comerciante.
O que subiu e o que caiu?
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial de inflação do Brasil, apontou alta de 1,57% no preço médio de pescados em março. No acumulado de 12 meses, no entanto, houve queda de 0,26%. A tilápia aumentou 0,74% no mês e tem queda de 4,65% no período de um ano. Já o bacalhau subiu 0,92% em março, 2,46% desde janeiro e 6,45% nos últimos 12 meses.
Além do bacalhau (3,91%), outras espécies apresentaram aumento, destaca o especialista, como pescada (0,78%), sardinha (2,02%), cação (6,34%) e corvina (0,92%), mas nada que se compare a outros itens.
O coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe), Guilherme Moreira, explica que é normal os preços do pescado subir nesta época do ano. Ele pontua, no entanto, que os aumentos em 2025 não são tão significativos quanto em anos anteriores.
“Os principais peixes subiram até menos do que a inflação média do período. Vamos ver nessa semana, que é onde as vendas crescem, mas, nas nossas prévias, não vemos aumentos tão significativos”, diz Moreira.
A Associação Brasileira da Indústria de Pescados (Abipesca) reforça que o cenário atual é de manutenção ou queda nos preços, a depender do produto. A exceção seriam os importados, que podem ficar até 15% mais caros, devido ao efeito da variação do dólar. Um exemplo é o panga, peixe de água doce originário do sudeste da Ásia, que entra no mercado brasileiro com inflação média de 12%.
Ainda assim, a expectativa da Abipesca é de crescimento do consumo de pescados na Semana Santa. “Houve um cenário de estabilidade no mercado de pescados em relação ao preço de outras proteínas de origem animal que têm tido uma alta demanda de exportação”, diz a entidade.
Saiba-mais taboola
Francisco Medeiros, presidente da Associação Brasileira de Piscicultura (PeixeBr) tem percepção semelhante à dos comerciantes no Mercado Público de Florianópolis. Ele avalia que a tilápia deve ser um dos destaques na mesa dos brasileiros nesta Semana Santa. Em função da boa safra em 2024, os preços estão mais acessíveis para o consumidor.
“Esse comportamento é diferente dos anos anteriores, onde tínhamos leve aumento de preço. Já os demais produtos, como salmão e bacalhau, estão vinculados ao dólar e vieram tendo variações em função do mercado”, diz o executivo.
A expectativa da Peixe BR para 2025 é de pelo menos repetir o desempenho dos últimos anos, quando as vendas de tilápia cresceram, em média, 30%. “Historicamente, é assim quando comparado com os meses anteriores à Quaresma, e haja vista que está com preços competitivos em relação a outros pescados”, afirma Medeiros.
A tilápia é o peixe mais produzido no Brasil. No ano passado, foram 622,2 mil toneladas, aumento de 14,36% em comparação com o ano anterior, segundo a Associação. A espécie representa 68,36% da produção nacional.