Jensen Huang, o visionário CEO que comanda a Nvidia, uma das empresas centrais na revolução da inteligência artificial, tem repetido que o mundo do trabalho está às vésperas de uma revolução. Segundo ele, a próxima geração de milionários talvez não surja de universidades ou de carreiras tradicionais da economia digital, mas de ofícios como eletricista, encanador e carpinteiro.
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Ao prever que a riqueza futura não virá apenas de quem domina algoritmos, mas de quem resolve problemas físicos, críticos e não automatizáveis, Huang aponta uma mudança estrutural. Ele sinaliza que o valor econômico migrará também para funções ancoradas em talentos humanos difíceis de automatizar, como habilidade técnica, julgamento, confiança e capacidade de adaptação.
Um sinal dessa mudança já aparece nos setores que mais crescem na economia real: energia renovável, logística, agro de alta tecnologia e infraestrutura. Todos dependem de profissionais capazes de instalar, calibrar, reparar e manter sistemas cada vez mais complexos, desde painéis solares e redes inteligentes até sensores de solo, máquinas autônomas e unidades de refrigeração avançada.
É justamente nesse ponto que a visão de Huang se conecta ao campo: quanto mais digital e automatizado se torna o agro, mais indispensáveis são os talentos humanos que garantem que a tecnologia funcione no mundo físico. A nova fronteira de produtividade nasce da combinação entre inteligência artificial e inteligência prática — e é aí que poderá residir o próximo grande diferencial competitivo.

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O agro brasileiro já vive essa transição. Máquinas autônomas, sensores, plataformas de monitoramento em tempo real e algoritmos de previsão climática estão entrando na rotina de produtores grandes e pequenos. Além disso, a digitalização aumenta a interdependência: um sensor com falha, uma manutenção deficiente ou uma rede instável podem comprometer toda a operação.
Na verdade, essas tecnologias só entregam valor quando acompanhadas de operadores capacitados, técnicos versáteis e profissionais capazes de traduzir dados em decisões de campo. E, em muitas regiões, a escassez de capital humano já supera a escassez tecnológica – um gargalo que tende a crescer, se não houver investimentos contínuos em formação, retenção e qualificação.
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Por isso, a valorização dos ofícios especializados – do eletricista rural ao técnico de irrigação, do especialista em climatização ao mecânico agrícola – deixa de ser apenas questão de suporte: torna-se parte do próprio núcleo da competitividade do agro. A tecnologia, por mais sofisticada que seja, continua dependendo de pessoas que assegurem sua confiabilidade e integridade.
No fundo, o avanço tecnológico abrirá oportunidades inéditas para quem domina ferramentas digitais, mas também ampliará o espaço para profissionais capazes de interpretar contextos, lidar com imprevistos, exercer julgamento e construir relações de confiança. O agro com mais capacidade de integrar essas competências – máquinas inteligentes e gente indispensável – será o que melhor navegará a nova economia que já se anuncia.
*Maurício Antônio Lopes é pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)
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