
O governo do Japão confirmou ao Ministério da Agricultura que realizará a auditoria in loco para avaliação do sistema sanitário brasileiro em março de 2026. A etapa é considerada fundamental para a abertura do mercado japonês para a carne bovina e reforça as expectativas do governo e do setor produtivo nacional de que o processo poderá ser concluído no próximo ano.
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A confirmação foi oficializada por carta enviada pelo Ministério da Agricultura, Florestas e Pesca (MAFF) do Japão na noite de 24 de dezembro. “Essa é uma excelente notícia. Estávamos esperando por isso e segue o fluxo que nós imaginávamos”, afirmou o secretário de Comércio e Relações Internacionais, Luis Rua.
A auditoria será realizada por técnicos do ministério japonês. O foco é a avaliação de riscos do sistema sanitário brasileiro. Não haverá inspeção em plantas frigoríficas específicas, ressaltou Rua.
“Vamos estar ainda mais preparados para eventuais apontamentos que possam fazer. Tem que ser a auditoria perfeita, não podemos errar”, destacou Rua. A visita in loco dos japoneses é a sexta de 12 etapas do processo de construção do acordo sanitário bilateral para abertura de mercado para carne bovina. Após essa auditoria, o procedimento é apenas documental e mais simples, por isso a atenção redobrada do lado brasileiro.
Apesar da insistência da indústria e do governo brasileiro para que todo o país pudesse ser avaliado pelos japoneses já nessa visita, a auditoria será concentrada nos três Estados da região Sul, os primeiros a obterem o certificado de livres de febre aftosa sem vacinação e a enviarem a documentação completa a Tóquio. Acre e Rondônia deverão ser analisados na sequência e depois os demais estados do país, que obteve o status sanitário reconhecido pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) na metade de 2025.
Em junho deste ano, especialistas do Japão já realizaram uma “pré-auditoria”, fizeram apontamentos e relataram sugestões de melhorias. Agora, serão feitas novas análises e reavaliação de pontos. Os técnicos deverão visitar laboratórios, postos de controle nas fronteiras e unidades de produção para inspeção no sistema.
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Havia uma expectativa do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, de que a visita técnica do Japão pudesse ocorrer ainda em 2025, o que não se concretizou. “Essa é a grande etapa que temos que cumprir, agora vamos preparar o roteiro junto ao setor”, completou o secretário.
Além do Japão, o Ministério da Agricultura espera avançar nas negociações com a Coreia do Sul para abertura de mercado para a carne bovina em 2026. Uma missão oficial do governo está marcada para lá em fevereiro, com a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A perspectiva é que possa se repetir com coreanos o método aplicado nas tratativas com japoneses e vietnamitas.
Em 2025, Lula visitou Vietnã e Japão e ajudou a destravar as conversas. Os vietnamitas abriram o mercado e habilitaram quatro plantas até agora. Os japoneses já fizeram uma “pré-auditoria” e marcaram a visita oficial para avaliação do sistema. Além da carne bovina, o Brasil quer abrir mercado para a exportação de uva para os coreanos e ampliar o reconhecimento dos Estados livres de febre aftosa para venda de carne suína para lá, atualmente limitada a Santa Catarina. A missão também passará pela Índia, onde o Ministério da Agricultura tenta acesso para embarques de feijão-guandu nacional.
Pescados para União Europeia
Outra auditoria importante com data marcada para 2026 é a da União Europeia para os pescados brasileiros, mercado fechado desde 2018. Técnicos europeus estarão no Brasil de 9 a 17 de junho para avaliações.
“Vamos nos preparar bastante com o setor privado, teremos um esforço importante para retomar esse mercado”, apontou Rua. “É justo que o setor possa ter nova chance junto à União Europeia”, completou.
O setor de pescados ainda é um dos afetados pelo tarifaço dos Estados Unidos, tema que segue na pauta de negociação, disse Rua. Desde a imposição das tarifas pelo governo Trump, o Brasil conseguiu abrir outros mercados para o segmento, como Malásia e China, mas as indústrias exportadoras seguem impactadas sem as vendas aos americanos.
Além dos pescados, o Brasil tenta retirar as tarifas dos EUA para uva, mel, suco concentrado de maçã, colágeno e gelatina.






