
O informe sobre o índice de desperdício de alimentos, publicado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2024, traz um cenário reflexivo sobre nosso compromisso com o meio ambiente e a sociedade de forma geral. Segundo o relatório, a cada dia jogamos no lixo mais de 1 bilhão de potenciais refeições, o equivalente a mais de 1 bilhão de toneladas de alimentos que seriam vitais para 783 milhões de pessoas famintas no mundo e, para além disso, seriam relevantes para um terço da humanidade, que vive em absoluta insegurança alimentar.
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Em termos econômicos, jogamos na lata de lixo mais de US$ 1 bilhão todos os anos. E, sob o ponto de vista ambiental, pressionamos os sistemas de produção para, no final, e sem serventia nenhuma, apenas aumentarmos em 8% a 10% a emissão de gases de efeito estufa e destinarmos aos aterros sanitários o produto de 30% das áreas cultivadas no mundo.
O estudo, em escala global, mostra que os maiores índices de desperdício de alimentos concentram-se nos lares – cerca de 60% – e decorrem especialmente do descarte inadequado de frutas e verduras (62%), carnes (11%), lácteos (11%) e panificados (16%). Os outros 40% dos alimentos perdem-se na cadeia produtiva, sendo 28% na produção e transporte e 12% no varejo.
Em média, segundo estimativa do estudo, são 132 quilos de alimentos desperdiçados por pessoa por ano – e acho que não é difícil nos vermos nessa lista.
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O desperdício é um problema mundial que não escolhe raça, cor ou religião e nem apresenta correlação com o poder aquisitivo ou o nível de desenvolvimento do país. Ou seja, ele está na raiz do nosso comportamento, o que, possivelmente, torne a busca por soluções um desafio maior.
O desperdício associado ao aumento da demanda por alimentos, estimado em cerca de 70% para as próximas décadas, é uma conta que não fecha, mesmo com todos os avanços tecnológicos.
Estamos vivendo em uma nova ordem mundial, e todos os envolvidos na questão agroalimentar precisam questionar quais mudanças são necessárias, começando pelo próprio indivíduo – seja como consumidor ou como produtor – e chegando até os legisladores das grandes políticas públicas.
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É óbvio que as respostas, as prioridades e as estratégias não podem permanecer como no passado. Nesse sentido, o governo brasileiro movimentou-se e sancionou a lei 15.224, de 30 de setembro de 2025, que institui a Política Nacional de Combate à Perda e ao Desperdício de Alimentos e cria o Selo Doador de Alimentos.
Ainda que seja muito cedo para avaliar sua eficácia, a lei é inteligente, ao criar ações público-privadas. Enquanto o poder público compromete-se a criar campanhas educativas para sensibilizar e estimular a população a consumir de forma consciente e praticar a doação de alimentos, além de qualificar profissionais habilitados a conduzir ações efetivas, o setor privado é incentivado a doar, recebendo um Selo Doador de Alimentos, que poderá ser utilizado pelo estabelecimento como lhe aprouver na promoção da sua empresa e de seus produtos.
*Luiz Josahkian é zootecnista, professor de melhoramento genético e superintendente técnico da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ)
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