Governo vai comprar leite em pó para apoiar setor
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Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) vai investir até R$ 106 milhões na compra de mais de 2,5 mil toneladas de leite em pó de associações e cooperativas da agricultura familiar – o que representa mais de 20 milhões de litros de leite integral -, com foco nos Estados da região Sul, a principal produtora do Brasil.
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Segundo comunicado da estatal, a execução é imediata e visa mitigar a crise enfrentada pelos produtores, em meio ao excesso de produção. A medida foi anunciada oficialmente nesta terça-feira (23/12), pelo presidente da Conab, Edegar Pretto, no Rio Grande do Sul, após reunião com representantes de entidades do setor leiteiro.
A expectativa de Pretto é que, com essa ação, se possa “enxugar” parte da oferta do mercado, fazendo com que o preço pagos aos produtores volte a patamares maiores. Atualmente, o valor de referência, fixado através da Política de Garantia de preços Mínimos (PGPM) estabelecida pela Conab está em R$ 1,88 por litro, enquanto o preço médio pago pelo mercado está em torno de R$ 2,22 por litro.
Nessa operação em que será adquirido o produto em pó, considerando que a cada 8 litros de leite integral se faz 1 quilo de leite em pó, em média, e também os custos operacionais de produção, a companhia irá pagar cerca de R$ 41,89 por quilo do produto, um preço único calculado a partir do preço médio de referência das superintendências regionais do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
“O que nós buscamos com essa ação é fortalecer a produção leiteira da agricultura familiar, comprando esse excedente da produção de leite, a fim de garantir a renda dos trabalhadores e trabalhadoras para também a manter uma importante atividade para o país e, ao mesmo tempo, assegurar acesso a um alimento de qualidade às pessoas que se encontram em situação de insegurança alimentar e nutricional”, disse o presidente da Conab.
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A aquisição será realizada no âmbito do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), na modalidade Compra Institucional (CI). Nesse formato, a Conab publica neste terça-feira o aviso em seu site, as organizações se cadastram até domingo (28) e ofertam os produtos disponíveis, que serão então contratados pela companhia.
Uma das principais mudanças anunciadas nesta operação é o aumento do limite financeiro: o teto de pagamento por família passa de R$ 15 mil para R$ 30 mil, além da multiplicação por quatro do limite por organização. Com isso, cada entidade poderá atender até 200 famílias, ampliando o alcance da política pública.
“Os recursos já estão contratados e a operação tem caráter emergencial, garantindo resposta rápida ao setor produtivo, com a estimativa de atender cerca de 25 entidades do segmento em todo o país”, informou a Conab.
O Brasil é o terceiro maior produtor de leite do mundo, apenas no ano passado a produção de leite do país foi de 35,6 milhões de litros. De acordo com dados do Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 98% dos estabelecimentos rurais dedicados à bovinocultura de leite têm produção de até 500 litros/dia, respondendo por 70% da produção do país.
Afetado pelas enchentes em 2024, o Rio Grande do Sul deixou de ocupar a terceira colocação na produção de leite no país e vê o número de produtores do alimento cair ano a ano. Apesar disso, a produção de leite está em 451 municípios do Estado, com 129 mil estabelecimentos produzindo leite, e, anualmente, a cadeia produtiva gera cerca de R$ 9 bilhões. Apenas no ano passado, produziu 3,1 bilhões de litros de leite, o que representa 12% da produção de todo o país, de acordo com a Conab.

Insuficiente
O presidente da Associação de Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando), Marcos Tang, disse em nota que reconhece o esforço da Conab em auxiliar a cadeia leiteira, mas ponderou que a medida, de forma isolada, é insuficiente. “Precisamos que essa ação seja somada a outras. Que os estados produtores de leite se somem a essa ação no sentido de comprarem o produto também”, afirmou o dirigente, em nota, nesta terça-feira (23/12).
Tang destacou como exemplo de uma ação paralela a da Conab, a questão da tarifa antidumping para derivados lácteos dos países do Mercosul. “Alguma regulamentação sobre a importação precisa ser feita já”, sugeriu.
Ainda avaliando a iniciativa da Conab, o dirigente reconheceu que com um número maior de retirada desse leite do mercado, talvez o preço melhore um pouco. “O que nós estamos reivindicando é que o produtor possa pelo menos cobrir o prejuízo”, ressaltou.
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Tang chamou a atenção também para o momento que precisa da colaboração de todos, incluindo também indústria e varejo.
Já o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag-RS), Carlos Joel da Silva, avalia que essa ajuda da Conab vem numa hora muito importante em que os produtores brasileiros precisam de auxílio para diminuir a oferta do produto no mercado, já que as importações de leite argentino aumentaram.
“Os produtores de leite estão numa situação muito difícil e qualquer apoio é muito bem-vindo. Essa compra do governo federal, através da Conab, vai auxiliar muito a retirar esse excesso do produto do mercado, e que ajude a novamente impulsionar o setor leiteiro nacional”, explicou ele.