
Um estudo realizado por pesquisadores do Potsdam Institute for Climate Impact Research (PIK) publicado na revista Nature Food concluiu que somente a transformação do sistema alimentar global sozinha teria a capacidade de limitar até 2050 o aumento das temperaturas médias globais a 1,85 ºC acima dos níveis pré-industriais e frear as mudanças climáticas.
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Essa transformação está relacionada não só a formas de produção, mas formas de consumo de alimentos, políticas para a produção rural, para a economia global, além de mudanças no modelo global de desenvolvimento para além do setor agropecuário. Os pesquisadores analisaram no total os impactos de 23 alavancas de transformação dos sistemas alimentares. Algumas delas já haviam sido desenvolvidas em um estudo do PIK de 2019.
Quanto a mudanças no consumo, os pesquisadores avaliaram os impactos de mudanças como a redução do consumo de açúcar, de produtos derivados de leite e de carne, e o aumento do consumo de legumes, vegetais, frutas, nozes e grãos integrais.
O estudo também avalia os impactos de alavancas de combate à fome, ao sobrepeso e ao desperdício de alimentos. Também foram analisados impactos de medidas de conservação ambiental e agricultura sustentável, redução de barreiras comerciais, políticas de renda mínima na agricultura de países de baixa renda, além de produções menos intensivas em capital em economias de renda elevada.
No cenário global, os pesquisadores também avaliaram a redução do ritmo de crescimento populacional, um desenvolvimento socioeconômico mais sustentável, uma mudança mais rápida para além dos combustíveis fósseis, o aumento do uso de bioplásticos no lugar de materiais de origem fóssil, e o aumento do uso de madeira no lugar de aço e concreto na construção.
O estudo trabalhou com três cenários: um de manutenção das tendências atuais; outro de transformação rápida do sistema alimentar; e um cenário expandido em que outros setores econômicos também se tornam mais sustentáveis.
Neste cenário expandido, o estudo concluiu que há 38% de probabilidade de o aumento da temperatura média global ser contido em 1,5°C até 2050 e 91% de chance de permanecer abaixo de 2°C.
A redução das emissões decorre principalmente da combinação de dietas mais baseadas em vegetais, do uso mais eficiente da terra, de maior diversidade agrícola e da proteção de áreas estratégicas para a biodiversidade. Essas medidas diminuem a pressão sobre vegetações nativas e reduzem emissões associadas à agropecuária intensiva.
Além do impacto climático direto, a reconfiguração do sistema alimentar teria como efeito uma redução de 75% no número de pessoas em extrema pobreza no mundo, dentro do cenário base. Essa redução amplia mercados consumidores, eleva a produtividade e diminui gastos públicos associados a crises sociais e ambientais. Ao mesmo tempo, dietas mais saudáveis reduzem a incidência de doenças como diabetes e problemas cardiovasculares, aliviando os custos dos sistemas de saúde e aumentando a eficiência do trabalho.
“Ao combinar proteção de hotspots de biodiversidade, dietas com menor pegada de carbono, maior diversidade nas rotações de culturas e paisagens agrícolas mais bem estruturadas, a pressão sobre os ecossistemas pode ser significativamente reduzida”, afirma Alexander Popp, chefe do Land Use Transition Lab do PIK e coautor do estudo, em nota.
Segundo Hermann Lotze-Campen, chefe do departamento de Pesquisa em Resiliência Climática do PIK e coautor do estudo, o objetivo não é prescrever políticas específicas, mas oferecer uma visão integrada dos benefícios da transformação.
Ele defendeu que a mensagem central do estudo é que a mitigação das emissões via sistemas alimentares não representa um freio ao crescimento, mas uma estratégia econômica essencial para um futuro “mais resiliente e próspero”.






