A gripe aviária e a pressão de oferta de produtos chineses no mercado internacional impactaram o faturamento neste ano da Villa Germania, maior produtora e única exportadora brasileira de carne de pato, codorna e frango orgânico. Mas a empresa catarinense iniciou, em março, os embarques para a Europa de um produto que pode render muito nos próximos anos: a pena de pato.
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Segundo o presidente da companhia, Marcondes Moser, a Villa Germania enviou sete contêineres de 10 toneladas para a Europa neste ano, especialmente para a Itália, e a expectativa é que esse novo negócio represente no próximo ano 3,5% do faturamento da empresa. A pena é vendida por quilo em contêineres secos. Antes do embarque, são lavadas, desinfetadas, passam por tratamento térmico, secagem e são prensadas em sacos.
“No Brasil, vendemos o quilo por R$ 6 a R$ 9 para uso em travesseiros. A Itália também faz travesseiros, mas usa muito o produto na indústria da moda como forração de casacos, por exemplo, e paga R$ 30 o quilo”, conta.
Neste ano, a empresa, sediada em Indaial (SC), esperava uma alta de 10% no faturamento, projeção que acabou sendo frustrada pelos embargos de alguns países a aves do Brasil após a descoberta do foco de gripe aviária em granja comercial em Montenegro (RS), em maio. Mas as vendas dos produtos gourmet da Villa Germania no mercado interno compensaram o que deixou de ser exportado e o faturamento ficou em R$ 120 milhões, praticamente o mesmo montante que em 2024, segundo Moser.
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Ele diz que 2025 foi atípico, uma vez que em anos anteriores, as exportações representavam cerca de 70% da receita da empresa. De acordo com o executivo, alguns países como Iraque, Filipinas, México e Chile suspenderam temporariamente as importações de carne de pato depois do registro do foco em Montenegro. Além disso, a China foi mais agressiva em suas exportações de carne de pato para vários países também atendidos pela Villa Germania.
“Tivemos uma redução de 10% no preço e volume, mas no segundo semestre o cenário começou a mudar e agora estamos incrementando a produção. Para o próximo ano, estimamos um aumento de 25% nas exportações”, afirma.
A empresa faz abate 100% halal (que segue os preceitos do Islã), e seu principal cliente é a Arábia Saudita, além de outros países do Oriente Médio. Hoje, tem a companhia tem mais de 20 habilitações para exportar a carne de pato, seu produto mais importante, e está em tratativas para abrir um comércio bilateral com a China.
No entanto, o foco da Villa Germania é exportar a carne de pato para o mercado europeu, que tem mais volume e paga melhor. Atualmente a empresa, além de penas, exporta para a Europa apenas fígado, dorso e outros subprodutos de pato para a fabricação de alimentos para pets.
No frigorífico instalado em Indaial, com capacidade para 50 mil abates por dia, a empresa controlada pela holding XWR Investimentos está processando apenas 15 mil aves, entre patos e frangos orgânicos. Na unidade da Good Alimentos, em Coronel Freitas, de codornas, o abate diário chega a 20 mil, mas a capacidade é cinco vezes maior.
No caso dos patos, a produção é integrada com 90 avicultores que recebem as aves e os insumos para a criação. Já a produção de codornas é verticalizada na fazenda da empresa, que tem matrizeiros, aviários e frigorífico.
Segundo Moser, no próximo ano, a empresa deve passar a exportar carne de codorna para países do Oriente Médio, interessados na proteína para alimentar seus falcões de competição.
As taxas de juros elevadas fizeram a Villa Germania segurar um investimento de R$ 15 milhões que faria em um centro de armazenamento e abastecimento em Indaial este ano, segundo Moser. Mas, para os próximos anos, está no plano a construção de uma nova fábrica para processar penas de pato.
Hoje, a maior demanda interna para a carne de pato vem de restaurantes e supermercados de São Paulo, seguida por cidades de Santa Catarina que preparam o prato típico que deu origem à Villa Germania, o marreco recheado, e pelo Pará, onde o pato com tucupi faz sucesso.
De acordo com o Sistema Agrostat, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o Brasil exportou até novembro deste ano 2,03 mil toneladas de carne de pato, o que gerou uma receita de US$ 6,79 milhões. Houve queda em volume de 33,7% em comparação com as 3,07 mil toneladas de igual período do ano passado e redução de 35,18% em receita. Mais da metade das exportações brasileiras são destinadas ao Oriente Médio.