A Microsoft, que tem meta de se tornar neutra em emissões de carbono em 2030, acertou a compra de 28,5 mil toneladas de créditos de remoção de carbono da InPlanet, startup alemã que fornece a clientes no Brasil o pó de rocha, uma alternativa aos fertilizantes químicos e que fixa carbono no solo. Os créditos referem-se ao período entre 2026 e 2028.
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O valor da transação não foi revelado, mas a estimativa é de que a compra tenha saído por mais de 9 milhões de euros, considerando-se o preço do crédito que a InPlanet divulgou em seu site, de 329 a tonelada. Questionada sobre o tema, a InPlanet disse que não pode revelar os termos financeiros porque os detalhes comerciais são confidenciais, mas que o valor é “competitivo” no mercado de remoção de carbono “durável”.
A InPlanet obtém pó de rocha de fornecedores que moem rochas de basalto de pedreiras — essas empresas têm certificação no Brasil para uso do minério na construção civil; para elas, o pó é um subproduto. O material é rico em minerais e permite a remineralização do solo, ajudando a fornecer condições melhores para o crescimento das plantas, além de fixar carbono da atmosfera no solo, segundo a startup.
Em estudos com pós de rocha do mercado, a Embrapa estimou que cada tonelada que os agricultores aplicam no solo pode sequestrar até 300 quilos de carbono equivalente da atmosfera. Os dados da startup são mais modestos. Segundo a InPlanet, cada tonelada de seu pó leva à remoção bruta de 250 quilos a 290 quilos de gás carbônico. O dado, que a empresa apurou em seu processo de medição, divulgação e verificação (MRV, na sigla em inglês), foi certificado pela Isometric, a maior verificadora e registradora de créditos de remoção de carbono do mundo.
O Ministério da Agricultura classifica o pó de rocha como um remineralizador de solo. Na prática, ele tem potencial para substituir até 50% da necessidade de adubos fosfatados e potássicos, a depender das práticas agrícolas prévias e do tipo de cultura. Além disso, por causa da oferta de silício em grandes quantidades, o pó de rocha pode ajudar a diminuir o uso de defensivos químicos.
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A InPlanet tem dois projetos de aplicação de pó de rocha no Brasil: o Projeto Serra da Mantiqueira, que ela desenvolve em áreas de cana-de-açúcar em Rio Claro (SP), e o Projeto Araçari, em pomares de citros no Estado de São Paulo. Ao todo, o pó de rocha da InPlanet está em 12 mil hectares no país.
Em vez de apenas vender o pó de rocha aos produtores rurais, a InPlanet trabalha com um modelo de parceria, em que fornece o insumo, análises de solo e mensuração. A venda de créditos de remoção de carbono certificados é a principal fonte de receita da empresa.
Segundo Felix Harteneck, fundador da InPlanet, os testes mostraram que, nas lavouras que receberam o insumo, a fertilidade aumentou, e caíram o uso de fertilizantes e a necessidade de calcário.
“O produto [da InPlanet] ilustra como a aplicação de rocha de silício em solos pode oferecer benefícios para os produtores ao melhorar a saúde do solo e apoiar a produtividade. O intemperismo rochoso intensificado [ERW, na sigla em inglês] é um caminho promissor para a remoção de carbono de alto impacto, e nós estamos encorajados por seu potencial para contribuir com resultados climáticos positivos e duráveis”, afirmou Phillip Goodman, diretor da área de portfólio de remoção de carbono na Microsoft, em comunicado.
O pó de rocha exige cuidado com o manuseio, já que pode causar problemas respiratórios em quem lida com ele diretamente. Segundo a InPlanet, os operadores que aplicam o pó nas lavouras “usam equipamentos de proteção individual como máscaras respiratórias, óculos e vestimentas adequadas”. A startup disse ainda que faz treinamentos sobre manuseio seguro e higiene, além de exames médicos periódicos.
“Também são implementadas medidas para controlar a dispersão de poeira no ambiente, como aplicação em solo úmido e monitoramento das condições climáticas, além de procedimentos de limpeza e contenção”, acrescentou.