
O setor produtivo de café solúvel apresentou novos argumentos ao governo brasileiro para serem usados como “munição” na negociação com os Estados Unidos para a retirada das tarifas de 40%. O produto foi um dos poucos que não receberam a isenção do presidente Donald Trump na semana passada e que continuam sobretaxados.
Initial plugin text
O diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics), Aguinaldo Lima, se reuniu nesta terça-feira (24/11) com o vice-presidente Geraldo Alckmin e com o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, para debater estratégias de negociação para conseguir isentar o produto brasileiro nos embarques para os EUA. A sugestão apresentada pela entidade foi zerar a tarifa de importação de 17% sobre o café solúvel estrangeiro, em uma demonstração de que o Brasil está requerendo um tratamento igualitário no mercado global.
“Sugerimos então que se retire a tarifa de 17% que o Brasil cobra de cafés solúveis de café. É uma contrapartida interessante que condiz com aquilo que a gente está solicitando, que é zerar a tarifa. Vale aqui também”, afirmou a jornalistas após a reunião na sede do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
O Brasil importa volumes mínimos de café solúvel dos EUA, ressaltou Lima, mas a medida é um sinal de equilíbrio para o avanço das negociações. No início do ano, com o cenário de inflação, o governo reduziu a tarifa de importação de diversos alimentos, mas manteve a taxa para o café solúvel. O setor não entendeu os motivos. Desde janeiro, foram importadas apenas 234 toneladas do produto, em negócios de US$ 4,7 milhões. Os principais exportadores foram Espanha (140,7 toneladas), Reino Unido (38 toneladas) e Coreia do Sul (24,8 toneladas). As importações dos EUA somaram 4,5 toneladas, segundo dados do Agrostat do Ministério da Agricultura;
Segundo ele, Alckmin gostou da sugestão. “O vice-presidente já notou que está aqui em vermelho. Isso aqui é munição para os nossos negociadores, para eles poderem negociar as negociações”, apontou.
Com o tarifaço, os EUA deixaram de ser o principal mercado para o café solúvel brasileiro em 60 anos. Em outubro, pela primeira vez, a Rússia foi o destino da maior parte dos embarques. O Brasil exportou 71 mil toneladas do produto de janeiro a outubro. Dessas, 13,1 mil foram para o mercado americano. Os russos importaram 5,5 mil toneladas.
Lima disse que mantém a esperança na isenção do produto. “A situação é crítica a cada dia. Nosso produto é vendido para as grandes marcas americanas e vão para a prateleira. Se você começa a se ausentar da prateleira, o que vai entrar? Outros produtos. Então, a cada dia é uma ameaça ao nosso desempenho nos Estados Unidos, que é o nosso principal mercado há 60 anos”, completou o diretor.
As informações coletadas na reunião serão repassadas imediatamente aos negociadores, disse Alckmin aos representantes do setor cafeeiro. Além da Abics, estavam no encontro integrantes do Conselho Nacional do Café (CNC), do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) e da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA, na sigla em inglês);
“É evidente que ficamos na expectativa de ter um encontro mais político, mais institucional, mas sabemos que não vai ser apenas o café solúvel. Precisa ter outros produtos nesse bojo de negociações. Estamos com muita esperança e com muita articulação”, concluiu.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou que a proposta da Abics é interessante e representa um elemento novo nas negociações. “O setor de café teve grande evolução, mas ficou o solúvel para trás. Nos comprometemos a trabalharmos unidos. Eles vão buscar apoio da contraparte deles lá, quem compra o café brasileiro, e nós vamos colocar o tema na mesa para resolver”, disse à imprensa após as agendas. Segundo ele, o produto vai ser citado na mesa de negociação “dentro das prioridades brasileiras”.
Fávaro e Alckmin receberam também representantes da Associação Brasileira de Nozes, Castanhas e Frutas Secas (ABNC) e da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) para reuniões sobre o tarifaço. Castanhas e carne bovina foram totalmente retiradas das listas do tarifaço americano na semana passada. “Foram reuniões mais a título de agradecimento”, disse Fávaro.
O vice-presidente Geraldo Alckmin e os representantes dos demais setores não falaram com a imprensa.






