
A ovinocultura gaúcha vive um momento positivo, impulsionada pela forte valorização do cordeiro. Após quedas nas cotações em 2022 e 2023, causadas pela elevação da oferta local de ovinos e pelo aumento das importações da carne, os preços voltaram a subir, alcançando recordes nominais em 2025.
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Segundo levantamento da Emater-RS, na última semana, os preços no Rio Grande do Sul romperam a marca dos R$ 12,15 por quilo vivo. Em comparação, nesta mesma época, em 2024, o valor estava em R$ 9,74% – um aumento de 25% em um ano.
Já os dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) apontam que, em outubro, os negócios no Estado chegaram a R$ 13,08 o quilo do cordeiro vivo, um recorde tanto em valores nominais quanto reais (deflacionados pelo IGP-DI de outubro) na série histórica iniciada em setembro de 2015 e uma elevação de 23,2% em relação aos R$ 10,61 registrados um ano antes.
Segundo o presidente da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (Arco), Edemundo Gressler, a alta reflete o crescimento da demanda por carne ovina de qualidade e o fortalecimento do mercado interno. O dirigente destaca que a tendência beneficia pequenas e médias propriedades, onde está grande parte da produção gaúcha. “A ovinocultura mantém famílias no campo, gera renda e cria oportunidades. Quando o preço reage dessa forma, o impacto é direto na vida do produtor e na sustentabilidade da atividade”, comenta.
Para o criador Ricardo Serpa, os valores da carne de cordeiro estão atrativos. “Estamos trabalhando com valores entre R$ 13 e 14 o quilo vivo. Em comparação, o boi está pouco acima de R$ 10 o quilo vivo aqui no Rio Grande do Sul. Então, os ovinos estão pagando de 30% a 40% a mais do que os bovinos”, afirma.
Em sua propriedade em São Lourenço do Sul, Serpa faz terminação de ovinos. O local conta com um galpão para confinamento de 1.800 cordeiros. Uma nova estrutura está sendo construída para aumentar a capacidade para 2.600 animais. Em 2025, o criador conta que comercializou 8.500 cordeiros.
Segundo o criador, a alta dos valores, impulsionada pela maior demanda por carnes gourmet em restaurantes, especialmente em São Paulo, está permitindo uma retomada da ovinocultura no Rio Grande do Sul. “Durante décadas, por causa da lã, a ovelha sustentou muitas propriedades gaúchas. Hoje, a lã perdeu valor, mas o mercado indica que há interesse pela carne de cordeiro”, afirma.
Na Cabanha Matarazzo, em Pedro Osório (RS), são criados cerca de 1 mil ovinos da raça Texel
Cabanha Matarazzo/Divulgação
No entanto, o mercado poderia ser ainda melhor se não fosse a competição com a informalidade. “No Rio Grande do Sul existe uma questão cultural, com muitos consumidores comprando animais abatidos por criadores, sem cuidados sanitários”, afirma Vinicius Barcelos, medico-veterinário e administrador da Cabanha Matarazzo, de Pedro Osório. Na propriedade, são criados cerca de 1 mil ovinos da raça Texel.
Para Barcelos, se a cadeia da ovinocultura fosse mais estruturada e com menos informalidade, os valores pagos aos criadores deveriam ser maiores. “Tendo como base a bovinocultura, que é extremamente organizada, os preços do cordeiro vivo deveriam estar acima de R$ 15 o quilo vivo”, afirma.






