
O Arco Norte aumenta sua participação nas exportações do agronegócio. O caminho por rodovias até pontos de embarque de grãos, no entanto, ainda é uma dificuldade no transporte pela região. A reportagem da Globo Rural percorreu, no início de outubro, o trecho entre Santarém e Itaituba, no corredor das BRs 163 e 230, e enfrentou pontos esburacados em boa parte percurso, além de partes ainda sem asfalto.
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Saindo de Santarém, é possível ver movimento já no início da manhã, nos dois sentidos da rodovia. A paisagem mais urbanizada vai dando lugar à visão de propriedades rurais e áreas de vegetação dos dois lados da rodovia pavimentada. Mas os pontos onde era possível desenvolver velocidade até o limite duraram pouco.
Os buracos nos dois sentidos da via obrigam os condutores a, muitas vezes, desviar os veículos para o acostamento ou até mesmo para a direção contrária. A reportagem constatou a situação em diversos pontos da BR-163 entre Santarém e Rurópolis, onde a rodovia se integra à BR-230, a Transamazônica, para a viagem seguir em direção a Itaituba, onde empresas do agro operam terminais de transbordo de grãos.
Parados em um posto de combustíveis em Rurópolis, dois caminhoneiros lamentam as condições da rodovia enquanto preparam um café antes de seguir viagem. Na estrada há 36 anos, Marcos Valtair dos Santos transporta cargas de grãos e fertilizantes. À reportagem, ele conta que saiu de Mato Grosso com destino a Santarém com uma carga de milho, e estava no segundo dia de viagem.
“Daqui de onde a gente está, eu levaria três horas, três horas e meia até Santarém. Do jeito que está, vai levar cinco, cinco horas e meia. Muitos buracos. Tem partes que ainda dava para desviar, agora não dá mais”, lamenta o motorista.
Tráfego de caminhões pela Transportuária
Raphael Salomão/Globo Rural
O aumento no tempo de viagem não é a única consequência nociva da pista esburacada, relata o caminhoneiro. Percorrer o trajeto nessas condições significa também mais consumo de combustível e gastos com manutenção do caminhão. São comuns relatos de pneus danificados ou até estourados. O cansaço físico é maior e, a depender do trecho e do movimento, o risco de acidentes, também.
O trecho está sob administração do governo federal, de Santarém até o chamado “quilômetro 30”, em Itaituba. No local, há um trevo que reconecta a Transamazônica com a BR-163, e liga Pará e Mato Grosso. De Rurópolis até esse ponto, os motoristas encaram trechos de asfalto e de terra. E têm que passar por uma ponte de madeira, montada ao lado de outra, de alvenaria, inacabada.
“Acesso rodoviário é o grande gargalo”
Flávio Acataussú, presidente da Associação dos Terminais Portuários e Estações de Transbordo de Cargas da Bacia Amazônica, avalia que a operação nas hidrovias está em ritmo normal para esta época do ano. No Tapajós, o período de baixa do rio não está impedindo operações de navegação. As operadoras fazem apenas ajustes de volume de carga e tamanhos de comboio, por questões de segurança.
Os acessos aos portos e estações de transbordo por rodovia, no entanto, seguem como o “grande gargalo” logístico no norte do Brasil. “Todos os anos, a volumetria para cá aumenta. Se não preparar as vias de acesso, todos os anos teremos uma complicação a mais”, questiona o executivo.
Ele conta que, em 2023, a BR-163 entre Rurópolis e Santarém estava em boas condições de tráfego, sem buracos. Avalia que a falta de manutenção da via levou à situação atual, dois anos depois. “Não houve manutenção e esburacou tudo”, diz Acataussú.
Trecho de terra da BR-230, a Transamazônica
Raphael Salomão/Globo Rural
Procurada pela reportagem, a Superintendência do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes no Pará (DNIT/PA) informou que publicou os editais de licitação referentes aos dois trechos que precisam de obras.
Os reparos do trecho entre Rurópolis (PA) e Santarém (PA) tem orçamento previsto de R$ 463,22 milhões. A abertura das propostas está marcada para o dia 1º de dezembro, por meio da plataforma digital de compras do governo federal. O prazo de execução dos serviços é de três anos.
Já o edital do trecho da BR-230 de Campo Verde (PA) a Rurópolis (PA) tem orçamento previsto de R$ 11,25 milhões. O DNIT/PA explicou, no entanto, que não se trata da execução das obras. A licitação é para contratar uma empresa que fará a atualização do projeto, identificando o que está pendente, e que, posteriormente, irá supervisionar as obras, que, por sua vez, devem passar por licitação em 2026.
Transportuária: entre a nova e a atual
Transportadores se queixam também das condições da chamada Transportuária, um ramal que sai da BR-230 em Itaituba e dá acesso às estações de transbordo de grãos das empresas que operam na hidrovia do Tapajós, via Miritituba. A via não é pavimentada, além de ser estreita e ter pontos de subida e descida no traçado.
Francisco Darlisson Souza dos Santos leva mais de uma hora para percorrer o trecho entre a rodovia federal e o terminal
Raphael Salomão/Globo Rural
Francisco Darlisson Sousa dos Santos conversou com a reportagem pouco tempo depois de descarregar milho em um terminal, em Miritituba, vindo de Sinop (MT). Ele conta ser caminhoneiro há dez anos. E que, em dias de movimento menos intenso, leva mais de uma hora para percorrer o trecho entre a rodovia federal e o terminal.
“Cada dia pior. Prejuízo, a gente não consegue descansar. A gente quer que melhore. Se não andar devagar, arrebenta o caminhão nos buracos. Não tem condição”, lamenta.
Flávio Acataussú, da Amport, também se queixa da situação. Afirma que, em períodos de chuva, é preciso colocar máquinas para puxar os caminhões carregados que não conseguem transitar até a entrada das estações de transbordo. Acrescenta que não há ação do poder público no local, em parte, porque não há uma definição sobre de quem é a responsabilidade pela via. “Não é municipal, nem estadual, nem federal”, diz.
Ele afirma também que, diante da situação, as associadas à Amport aplicam, em conjunto, R$ 300 mil por mês para manter a via em funcionamento nas atuais condições. E destaca que o contrato de concessão da BR-163 entre Sinop (MT) e Miritituba (PA) prevê a construção de uma nova via, em local próximo ao atual, com uma melhor estrutura de acesso aos terminais privados.
A concessão está a cargo do Consórcio Via Brasil BR163, com uma expectativa inicial de investimentos de R$ 1,87 bilhão. A empresa chegou a marcar um evento de apresentação do cronograma de obras da Nova Transportuária para o último dia 22 de outubro, mas cancelou. A marcação de outra data depende da agenda de autoridades, informa a empresa, pela assessoria de imprensa.
O projeto prevê a construção de uma via de acesso do zero. Para quem está no sentido Miritituba, fica pouco depois do trevo do quilômetro 30 e pouco antes da entrada atual, em intersecção com a BR 230. A concessionária explica que o traçado deve ser mais extenso, mas a promessa de melhor fluidez e de acabar com os transtornos à comunidade local, que convive com o tráfego intenso de caminhões na via atual.
A Via Brasil informa ainda que a fase atual das obras é de terraplanagem, e a expectativa é ter o novo traçado e a intersecção com a BR-230 até outubro de 2026.
A Amport avalia que essa obra já deveria estar mais adiantada. E, enquanto as associadas aguardam a nova via, firmaram um acordo com o governo do Pará, que prevê a chamada “readequação urbana” da atual Transportuária.
A promessa é de asfaltamento, instalação de sistemas de drenagem, ciclofaixa, sinalização vertical e horizontal, além de pontos de abrigo cobertos.






