Os exportadores de água de coco do Ceará estão preocupados. O tarifaço dos Estados Unidos provocou cancelamento de negócios, e a ordem executiva do governo Donald Trump, que retira a “tarifa recíproca” de 10% do produto e de diversos outros segmentos, não alivia a situação. É o que afirmam empresários do setor.
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“Pelo contrário, piorou. Porque os 10% foram retirados para todo mundo. Então tem países que estão zerados e o Brasil está com 40%. Ou seja, a nossa concorrência está mais fortalecida”, afirma Rita Granjeiro, integrante da Associação Nacional dos Produtores de Coco (Aprococo).

Desde agosto, quando entrou em vigor a tarifa adicional imposta pelos Estados Unidos sobre importações brasileiras, os exportadores cearenses já deixaram de embarcar pelo menos 1,5 milhão de litros de água de coco.

A Dikoko perdeu um pedido de 20 contêineres, que somavam 550 mil litros, afirma o presidente da empresa, Raimundo Dias de Almeida. Desde agosto, quando o tarifaço começou, as exportações para os americanos caíram mais de 50%. E os investimentos para aumentar a presença no país, considerado o mercado mais maduro e rentável, foram anulados pela tarifa.

Atualmente, a Dikoko trabalha com cerca de 900 produtores, mas avalia reduzir esse número. Além das tarifas, o empresário afirma que o plano de socorro do governo do Ceará para setores afetados não avançou.

As medidas foram anunciadas ainda no fim de agosto pelo governador do Estado, Elmano de Freitas (PT). O plano prevê aquisição de crédito de exportação (ICMS), redução dos encargos do Fundo de Desenvolvimento Industrial (FDI), subvenção econômica e compra de produtos alimentícios.

Contudo, a ajuda ainda não alcançou a cadeia do coco, relatam empresários. Raimundo Dias de Almeida, da Dikoko, afirma que seu pedido ainda está em avaliação. Rita Grangeiro relata que nenhuma empresa conseguiu se beneficiar do plano.

Procurada, a Secretaria da Fazenda do Ceará (Sefaz-CE) informa que segue recebendo e analisando os pedidos de ajuda das empresas afetadas pelo aumento das tarifas. E que, até o momento, R$ 6,65 milhões foram liberados, entre aquisição de crédito e subvenção econômica.

O orçamento inicial é de R$ 20 milhões. Porém, a Pasta pontua que os prazos de retorno podem variar conforme a necessidade de documentação complementar.

Em relação à compra de produtos alimentícios pelo governo, a Secretaria do Desenvolvimento Agrário do Ceará (SDA) informa que foi necessária uma adequação no decreto estadual para incluir as empresas do setor de coco. A alteração está na Casa Civil, com previsão de publicação ainda nesta semana.
Apreensão na cadeia produtiva

O presidente da Federação da Agricultura do Ceará (Faec), Amilcar Silveira, acompanha o cenário com apreensão. Ele lembra que o Estado vinha ampliando exportações e que o mercado americano remunerava muito bem, apesar da elevada dependência.

Ele pontua que a federação tem cobrado o governo estadual para dar uma resposta ao setor do coco e os produtores conseguirem permanecer na atividade.

“O produtor está com dificuldade de crédito, pela alta taxa de juros. E, se diminui o preço de venda, por causa do tarifaço, preocupa muito. Porque, geralmente, quando o produtor fica sacrificado no preço, deixa de colher o coco, às vezes de adubar o seu plantio. E aí consequência disso é a diminuição de produtividade”, lamenta.

Um desses produtores é Vandcarlos Lima, de Paraipaba, no litoral do Ceará. Ele relata que precisou diminuir a produção pela metade, porque a demanda da indústria não é mais a mesma.
“O fruto é assim: todo mês precisa tirar o coco. No momento que você não tira aquele total de fruto, ele passa a secar. Aí, futuramente, atinge a produção da gente e diminui bastante. Mas estamos indo.”
Em 2024, conforme os dados compilados pela Secretaria Executiva do Agronegócio do Ceará, foram produzidas 588,81 toneladas de coco, com mais de R$ 603 milhões do Valor Bruto de Produção (VBP).

Quanto às exportações, o valor saiu de US$ 11 milhões, entre agosto e outubro de 2024, para US$ 8,7 milhões no igual período de 2025, uma queda de mais de 20%.

*(Sob orientação de Raphael Salomão)