A lista de redução tarifária decidida pela Casa Branca inclui 238 produtos, como carne, café, hortaliças, cera de carnaúba, frutas cítricas, castanha-do-Pará, suco de laranja e produtos químicos.
O Brasil exportou 80 desses produtos em 2024 para o mercado estadunidense. Essas vendas totalizaram US$ 4,6 bilhões, cerca de 11% do total, com destaque para café não torrado, suco de laranja, carne bovina e frutas.
Agora, quatro produtos passam a ser isentos de tarifas adicionais: três tipos de suco de laranja e castanha-do-Pará.
Os outros 76 produtos que o Brasil exporta para os EUA, antes taxados em 50%, caem para 40%. Os mais relevantes são o café, que teve vendas de US$ 1,9 bilhão em 2024, e a carne bovina, com vendas de quase US$ 1 bilhão. Ambos representaram quase 7% do total exportado para os EUA.
É verdade que a situação pode estar 10% melhor para o Brasil agora. Mas, como nada é simples quando se trata de Washington, no meio do caminho pode haver um alçapão.
Isso porque outros produtores que não entravam nos EUA com tarifa de 10% talvez passem a ser competitivos agora com a redução da taxa — enquanto o Brasil continua submetido à taxa punitiva de 40%.
Essa redução tarifária vai favorecer exportadores de países que já fecharam os acordos leoninos impostos por Washington, e aumentar a concorrência para produtos brasileiros.
Negociações intensas
Por isso, a importância de tentar acelerar um acordo de Brasília com Washington para suspender o tarifaço enquanto os dois lados negociam um entendimento, em meio ao grande apetite americano por ganhos.
Ao anunciar a redução tarifária, ontem, Donald Trump mencionou “o status das negociações com vários parceiros comerciais, a demanda interna atual por determinados produtos e a capacidade interna atual para produzir determinados produtos”.
Na prática, isso significa uma mudança da “política tarifária maximalista’’ de Trump, na visão de certos analistas nos EUA. O Wall Street Journal lembra que, quando o presidente anunciou suas tarifas recíprocas na primavera, sua equipe econômica insistiu que não haveria isenções. Mais tarde, eles cederam, removendo as alíquotas sobre certos itens não produzidos nos EUA ou não disponíveis em quantidades suficientes de fornecedores domésticos para atender à demanda.
O governo Trump vem acelerando a conclusão de seus acordos comerciais com mais países. Também ontem, o presidente baixou de 39% para 15% as tarifas na entrada de produtos da Suíça. O país tinha sido submetido à taxação mais alta entre as nações desenvolvidas.
Como já escrevemos neste espaço, isso foi possível depois que um grupo de bilionários suíços, dizendo falar a mesma linguagem de Trump, foi visitá-lo na Casa Branca . E não esqueceram de levar presentes como um relógio Rolex e um lingote de ouro com dedicatória. A negociação, que estava tecnicamente engatilhada, foi acelerada. Mas é um acordo preliminar e as tratativas prosseguem.
O que os suíços concederam aos EUA pode afetar ganhos do Mercosul no acordo com a EFTA, bloco do qual a Suíça faz parte com a Noruega, Islândia e Liechtenstein. A Suíça abrirá cotas de importação (com tarifa bem menor) de 500 toneladas de carne bovina americana, 1.000 toneladas de carne de bisão e 1.500 toneladas de carne de frango. No mínimo, isso aumentará a concorrência futura com os produtos do Mercosul na EFTA, formada por Suíça,
Os suíços suspiram de alívio com a baixa tarifária, de um lado, mas, de outro, as dúvidas agora são sobre o impacto futuro das concessões feitas. Por exemplo, a Suíça prometeu facilitar investimentos de US$ 200 bilhões por suas companhias nos EUA nos próximos cinco anos, dos quais US$ 69 bilhões já no ano que vem. Vai ajudar no crescimento americano, em vez de produção local.
O ministro da Economia, Guy Parmelin, que fechou o acordo preliminar em Washington, não escondeu os desafios à frente. “A única coisa certa é que não há mais estabilidade (no mundo)”, disse ele, em referência a acordos que são fechados, depois desfeitos ou renegociados com demandas adicionais em seguida.





