A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) e a Câmara de Comércio da China para Importação e Exportação de Alimentos, Produtos Agrícolas e Subprodutos de Origem Animal (CFNA, na sigla em inglês), órgão vinculado ao Ministério do Comércio chinês, assinarão um memorando de entendimento durante a COP 30 para estabelecer diretrizes de cooperação e boas práticas na cadeia da soja brasileira exportada para a China.
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A informação é de Bernardo Pires, diretor de sustentabilidade da Abiove, que participou de evento promovido pelo Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) em São Paulo. Segundo Pires, o documento “vai nortear as boas práticas agrícolas da soja brasileira exportada para a China, com fomento à assistência técnica e extensão rural, transferência de tecnologia para aumento da produtividade e definição de critérios socioambientais para exportações”.

Os critérios que devem orientar o memorando se baseiam na legislação socioambiental brasileira. “A propriedade deve estar com o Cadastro Ambiental Rural regular, não ter embargo do Ibama, não constar na lista de trabalho escravo, não ter sobreposição com unidade de conservação ou terra indígena e não ter desmatamento sem autorização”, explicou Pires.

O diretor de sustentabilidade da Abiove também afirmou que, neste momento, o memorando é um acordo de intenções, mas com perspectiva de evoluir para parâmetros vinculantes. “Eu entendo que nesse momento é um acordo de intenções, mas que tende a progredir para critérios”, disse.

Segundo Pires, o documento foi elaborado nos últimos meses em parceria entre a Abiove e a CFNA e revela o crescente interesse chinês em adotar padrões socioambientais alinhados às práticas internacionais. “A China está sendo muito pressionada internacionalmente a adotar esses critérios, e é só questão de tempo. Eu acredito que será no curto prazo, e já estamos começando nesse sentido”, afirmou Pires.
Acordo China-EUA
A indústria brasileira continua olhando com cautela para o acordo entre Estados Unidos e China envolvendo compras de soja. Segundo Pires, qualquer entendimento entre os dois países tem impacto direto sobre o Brasil, principal fornecedor de soja para o mercado chinês e maior concorrente dos americanos. Mas ele ressaltou que o Brasil possui um diferencial competitivo importante.
“Estudo recente da Embrapa mostra que a soja brasileira tem de 2% a 3% maior teor de proteína do que a soja americana, devido às nossas condições de solo e de luminosidade. Entendemos que essa soja brasileira é quase insubstituível, porque tem uma qualidade superior”, disse.
De acordo com o executivo, a soja brasileira é comercializada pelo mesmo preço de referência da Bolsa de Chicago, mas com valor agregado pela qualidade. Ele citou que, em regiões como o oeste da Bahia, o teor de proteína chega a 37%, em relação a 33% na soja dos Estados Unidos.
Mesmo reconhecendo a relevância da China para o setor — destino de cerca de 74% das exportações brasileiras de soja —, Pires observou que o Brasil tem pouca margem para redirecionar seus embarques em caso de mudanças significativas no comércio internacional.
“A Europa leva 8% do nosso grão. É possível que amplie suas compras, mas a margem de manobra é pequena. Dos US$ 60 bilhões exportados no ano passado, a China respondeu por US$ 40 bilhões”, afirmou.
Para ele, o cenário mais provável é de manutenção das relações comerciais como nos últimos anos, com retomada das condições anteriores às tensões comerciais entre Pequim e Washington. “A tendência é que o mercado volte à condição que era antes. Se isso acontecer, continuaremos com bom potencial e sendo o maior produtor e exportador de soja do mundo”, avaliou Pires.