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“Há ações acontecendo no campo, soluções sendo implementadas, mas ainda aquém do que a gente precisa para reverter um cenário de mudanças climáticas”, disse, em entrevista à Globo Rural, nesta quarta-feira (12/11), transmitida pela internet (assista no vídeo acima).
Na COP 26, em Glasgow, na Escócia, o Brasil assinou, junto com outros mais de cem países, o Compromisso Global de Metano, com a meta de reduzir as emissões do gás em 30% até o ano de 2030, em comparação com o ano de 2020, em nível global. Estima-se que o metano é responsável por 25% das emissões no mundo. E, dentro dessa proporção, a pecuária bovina é vista com um dos principais vetores.
Renata Potenza avaliou que ainda não é possível saber, de fato, se a iniciativa teve efeito concreto nos últimos anos. “Há uma lacuna de monitoramento. A gente consegue monitorar internamente, tem um monitoramento local, mas, de uma forma global, a gente não tem um monitoramento tão acurado.”
No Brasil, acrescentou, as emissões estabilizaram na comparação de 2024 com 2023. No entanto, ainda são necessários mais dados para constatar se é uma tendência ou uma exceção.
Na pecuária bovina, a produção e liberação de metano (CH4) ocorre no processo de fermentação entérica do animal – o conhecido ‘arroto do boi’. O gás tem um potencial até 28 vezes maior de contribuir para o aquecimento global do que o do dióxido de carbono (CO2), causando um impacto mais intenso por um curo tempo, já que permanece menos na atmosfera.
Dieta animal e manejo correto
A ciência vem avançando no estudo de soluções para a pecuária bovina emitir menos metano. Mudanças na dieta dos animais é um desses caminhos, que Renata Potenza, do Imaflora, associa à recuperação de áreas degradadas e manejo correto de pastagens, resultando em um capim de melhor qualidade para o rebanho.
Os sistemas integrados, como o de lavoura-pecuária-floresta (ILPF), são outro caminho. Um terceiro, entre as várias opções, é o abate precoce dos bovinos, desde que seguidos critérios de bem-estar animal. A redução do tempo de permanência do animal no campo, por consequência, ajuda a diminuir as emissões de metano.
“Abate precoce, melhorar a alimentação, melhoramento genético, sistemas integrados. São várias ações juntas e temos apostado muito nelas. É preciso dar escala e velocidade às ações no campo”, disse, na entrevista.
Renata destacou ainda a necessidade de encurtar o caminho entre quem detém a tecnologia e quem deve aplicá-la no campo. Disse que o Imaflora está trabalhando na criação de uma estratégia de disseminação de conhecimento, que deve começar em estados como Mato Grosso e Bahia.
“Precisamos de parceiros. Vamos trabalhar com associações e confederação de agricultura, a princípio, e a gente espera que seja disseminado depois. E já temos um parceiro que faz a capacitação de produtores, para que um deles possa levar esse conhecimento ao vizinho, ao colega”, afirmou.
Começo de COP com otimismo
A coordenadora de Ciência e Clima do Imaflora fez uma avaliação otimista dos primeiros dias da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30). Pontuou que ainda é cedo para se prever qualquer resultado, mas disse que, pelo menos até o momento, os negociadores trabalham para obter algo concreto.
“Na parte de agricultura sustentável, a agenda está avançando. Os grupos estão conseguindo trazer algumas perspectivas e não há entraves até o momento”, disse.
De outro lado, há temas em que os participantes da COP enfrentam mais dificuldades, afirmou Renata. Um deles é a criação de indicadores para os países monitorarem se efetivamente estão se adaptando ou sofrendo com as mudanças climáticas. A executiva do Imaflora informou que há delegações que defendem adiar essa definição.
“Essa é uma das apostas do governo brasileiro. Ainda não dá para afirmar nada, mas a gente espera que haja esse destravamento e bons indicadores sejam tratados até o fim da COP”, afirmou.



