
Diante das dificuldades dos produtores de acessarem crédito rural nesta temporada, por conta dos juros mais altos, endividamento crescente e falta de garantias reais para as novas operações, o assessor especial do Ministério da Agricultura, Carlos Augustin, defende que o governo federal crie um fundo garantidor nacional para viabilizar os financiamentos.
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Ele disse ao Valor que o cenário é preocupante para 2026 e por isso é necessário criar um novo instrumento para garantir o acesso aos financiamentos pelos produtores. A ideia é espelhar no campo iniciativas adotadas durante a pandemia, como o fundo estruturado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para garantir crédito às empresas afetadas pelo lockdown.
A proposta era uma das pautas de discussão com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, nesta terça-feira (11/11). A medida ainda está no campo das ideias, mas Augustin projeta que será necessário instituir o fundo por lei. Ele deverá conversar em breve com o deputado federal Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), sobre caminhos para viabilizar a medida.
O ideal, disse ele, é que o fundo tenha cerca de 10% do valor que pretende garantir em financiamentos na ponta, mas ainda não há valores fechados. A ideia é que o mecanismo ajude, principalmente, a gerar acesso a crédito de custeio, usado para bancar os insumos e gastos operacionais de implementação das lavouras.
Segundo Augustin, o precisaria fazer aporte financeiro para colocar o fundo de pé. Ele disse que recebeu a sinalização do Banco Mundial de que a instituição também poderia ajudar. Outros agentes financeiros poderiam abastecer o fundo.
O cenário do campo preocupa, disse o assessor antes da reunião com Haddad. A inadimplência está em alta no país e até produtores de regiões com boa produção, como Mato Grosso, têm buscado a prorrogação de dívidas. Mesmo com uma “safra cheia” em 2024/25, os preços das commodities não reagiram e espremeram as margens da atividade. O cenário se repete em outros polos produtores, disse Augustin.
A preocupação está com a próxima safra. Segundo ele, com a redução das margens e dificuldades de crédito, muitos produtores vão reduzir as áreas plantadas e o pacote tecnológico usado nas lavouras. O resultado deve ser uma produção menor e com menos rentabilidade aos agricultores, com reflexos econômicos e indicativos pessimistas para 2026.
A demanda anual por crédito de custeio é estimada em R$ 1,3 trilhão. Cerca de um terço é atendida pelo sistema financeiro, outro terço por mercado de capitais, tradings e fornecedores de insumos e o restante bancado com recursos próprios dos produtores.
Dados do Banco Central compilados pelo Ministério da Agricultura mostram que o saldo de operações de crédito rural no sistema financeiro em julho deste ano somava R$ 797,4 bilhões dos quais 2,72% estavam em atraso e 2,28% inadimplentes. Apesar de ainda baixos, os percentuais aumentaram em relação aos anos anteriores. Em julho de 2024, a inadimplência era de apenas 1,2%.
O saldo de operações renegociadas também deu um salto e chegou a 9,27% em julho de 2025, bem acima dos 3,24% de dois anos antes.
Em setembro deste ano, o saldo de operações era de R$ 810,4 bilhões, dos quais 2,78% estavam inadimplentes (sem pagamento há mais de 90 dias), 2,6% em atraso e 9,12% renegociadas.
Após a reunião com Haddad, Carlos Augustin foi procurado pela reportagem, mas não respondeu aos pedidos para mais informações sobre a proposta.






