
A São Martinho sentiu o impacto da queda dos preços do açúcar e da menor colheita de cana-de-açúcar nesta safra, que afetaram os resultados do segundo trimestre da temporada 2025/26. Entre julho a setembro, o lucro líquido da companhia recuou 5,9%, para R$ 176,4 milhões.
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Nos dois primeiros trimestres da safra, a companhia processou 17,6 milhões de toneladas de cana, 1,8% menos do que um ano antes, fruto de uma produtividade média 7,4% menor, de 78,6 toneladas por hectare. O indicador, porém, oscilou muito entre uma unidade e outra, a ponto de ter unidades com melhora de produtividade nesta safra.
A companhia ainda não concluiu a compra dos canaviais da Usina Santa Elisa, da Raízen, e portanto não os incorporou em seu negócio. A perspectiva é que essas lavouras só gerem resultado na próxima safra.
Apesar da redução da moagem, os resultados estão próximos do que a companhia esperava — ontem, a São Martinho revisou para baixo sua estimativa de moagem de cana nesta safra para 22 milhões de toneladas e de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR) para 3 milhões de toneladas. “Foi um trimestre operacional bom, em linha com o que a gente havia planejado”, afirmou Fábio Venturelli, CEO da São Martinho.
A receita líquida do trimestre recuou 11,3%, para R$ 1,7 bilhão, enquanto o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado cedeu 13,4%, para R$ 816,9 milhões, de forma que a margem Ebitda ajustado recuou 1,2 ponto, para 47%.
No negócio de açúcar, as vendas ainda refletiram preços travados em um cenário mais favorável. O preço médio realizado no trimestre ficou em R$ 2.361,90 a tonelada, uma queda de 1,2% na comparação anual. A receita com açúcar no trimestre caiu 6,5%, para R$ 923 milhões.
Os resultados também refletiram em parte a estratégia da companhia de segurar parte das vendas de etanol para aproveitar preços melhores na segunda metade da safra. De todo o biocombustível produzido, a companhia vendeu 44% nos dois primeiros trimestres. A receita com etanol no segundo trimestre caiu 22,6%, para R$ 554 milhões.
Venturelli refutou a ideia de que não existem mais oscilações no preço do etanol por causa da oferta de etanol de milho no país, que é contínua no ano, enquanto a da cana é suspensa na entressafra da planta. “A relevância do etanol de cana ainda existe. Por mais que o etanol de milho não pare, ele não consegue sozinho [segurar o preço]”, sustentou.
Diante do cenário adverso no mercado de açúcar, a companhia voltou todas as suas indústrias para o máximo de produção de etanol em meados de setembro, já na última quinzena do trimestre, movimento que ocorreu em paralelo a quase todas as usinas do Centro-Sul. De toda a cana da empresa nesta safra, 49% irá para o etanol. Em sua visão, a recente mudança de chave para o etanol pela indústria deve inclusive garantir uma oferta mais confortável do biocombustível para a entressafra de cana.
Para a próxima safra (2026/27), a São Martinho avançou na fixação antecipada do preço de seu açúcar para 100 mil toneladas, a um valor médio de 17,78 centavos de dólar a libra-peso.
E, diferentemente do que costuma fazer, antecipou ainda mais suas operações de hedge cambial com operações de venda de dólar para outubro de 2026 de US$ 80 milhões, a R$ 6,05. “Fizemos uma operação em que vendemos mais dólar do que açúcar para tentar nos proteger da oscilação do real, que estava acontecendo”, afirmou Felipe Vicchiato, diretor financeiro e de relações com investidores.
Debêntures via EcoInvest
O conselho de administração da São Martinho aprovou nesta segunda-feira (10/11) a emissão de R$ 500 milhões em debêntures simples no âmbito do programa EcoInvest, do Ministério da Fazenda, que oferece recursos com custos abaixo dos de mercado para projetos ecológicos. Os recursos ajudarão a financiar sua expansão em etanol de milho.
Os títulos terão remuneração de 95% do CDI (taxa pré-fixada), com pagamentos semestrais, em 15 de maio e 15 de novembro de cada ano, a partir do ano que vem. O prazo é de sete anos, e a amortização será feita uma única vez, na data do vencimento. A emissão ainda será objeto de oferta pública, com regime de garantia firme de colocação.
A companhia utilizará os valores para o investimento já anunciado na expansão da sua planta de etanol de milho na Usina Boa Vista, em Goiás, que foi orçada em R$ 1,1 bilhão.
Além desses recursos, a companhia já assegurou para esse investimento R$ 728 milhões em financiamentos, sendo R$ 500 milhões via BNDES Fundo Clima, R$ 125 milhões via BNDES Finem e R$ 100 milhões via Finep.





