
A paulista Baldan Máquinas Agrícolas, com sede em Matão, chegou à Agritechnica 2025, na Alemanha, com um cenário diferente: em vez de um estande próprio, a companhia paulista é destaque dentro do espaço da Nexat, fabricante alemã que vem atraindo atenção mundial com um conceito de maquinário capaz de integrar todas as etapas da lavoura — do preparo à colheita — em um único equipamento modular.
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A parceria entre as duas empresas resultou no desenvolvimento de um novo módulo de plantio, que foi lançado oficialmente durante a feira, e é descrito internamente como o “módulo monstro” por seu porte e desempenho. O sistema tem 28 metros de largura total e opera a até 12 km/h, com capacidade três vezes maior que as semeadoras convencionais. De fato, “o monstro” chama a atenção de qualquer um que passa nos pavilhões e fotos e vídeos são feitos o tempo todo.
O protótipo foi testado em Luís Eduardo Magalhães (BA), região escolhida pela Nexat para validar suas tecnologias no Brasil.
“O conceito da Nexat é o de uma fábrica móvel: um equipamento modular que se adapta a cada etapa da lavoura. A parceria faz sentido porque combina a inovação alemã com a experiência da Baldan em plantio e preparo de solo”, explica Caio Giaretta, diretor de Inovação, Pesquisa e Desenvolvimento da Baldan.
A plataforma alemã tem propulsão híbrida, com sistemas elétricos internos e motor a diesel, e busca reduzir a compactação do solo por concentrar o peso no centro de gravidade do equipamento. A Nexat aposta em sua expansão para mercados de cultivo extensivo, como Leste Europeu, América do Norte e Brasil, regiões onde há áreas amplas e planas que favorecem a adoção da tecnologia.
Novo módulo tem capacidade três vezes maior que as semeadoras convencionais
Divulgação
Embora as exportações representem 20% a 25% do faturamento da Baldan, a empresa não enxerga a Agritechnica como um evento prioritário para negócios diretos. “É uma feira muito voltada ao público europeu, com realidades de solo e sistemas de cultivo diferentes dos nossos”, diz Giaretta. “Mas é importante para relacionamento e visibilidade tecnológica.”
A Baldan é líder nacional em equipamentos de preparo de solo, além de atuar em plantio, pulverização e peças de reposição. A pulverização, aliás, é o segmento mais recente da empresa, iniciado em 2023, com planos de expansão para exportação nos próximos anos. Hoje, o foco externo ainda está voltado a África e Austrália, mercados onde o preparo de solo tem mais aderência.
Como dito ao Valor e Globo Rural em entrevista realizada em maio, a Baldan projeta atingir R$ 1 bilhão de faturamento em 2025, o que representa crescimento de 15% em relação aos mais de R$ 800 milhões de 2024. Segundo o CEO Fernando Capra, a estimativa considera o cenário de safra recorde, a melhoria nos preços das commodities, a demanda firme e a competitividade do Brasil diante do novo quadro geopolítico global.
O único entrave é a taxa de juros. “O setor todo sente o peso das condições macroeconômicas. Estamos ajustando o plano conforme a necessidade e priorizando o que faz mais sentido neste momento”, afirma Giaretta.
Mesmo assim, a Baldan mantém o projeto de lançar 80 lançamentos até 2030, apostando na retomada da demanda global. “Há um mercado represado. As compras foram postergadas, mas a necessidade de alimentos continua crescendo. Em algum momento, o investimento vai voltar — e pode até vir com força demais, gerando pressão sobre preços e abastecimento”, avalia Giaretta.
Para o executivo, a busca por automação e conforto operacional é um caminho sem volta. “A escassez de mão de obra é um tema geral no campo. As máquinas precisam oferecer eficiência e reduzir essa dependência”, diz.
A sustentabilidade, acrescenta, é tratada na empresa como um eixo de negócio, não apenas ambiental. “A sobrevivência das empresas depende de inovação e rentabilidade — é isso que garante também a sustentabilidade ambiental. Um modelo não existe sem o outro.”
*A repórter viajou a convite da DLG, organizadora da Agritechnica





