Líder nacional na produção de carne suína e cebola e segundo colocado em outras cadeias do agronegócio, como arroz, carne de frango, maçã, palmito, pêra e pinhão, o Estado de Santa Catarina também se destaca quando o assunto é banana.
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A fruta catarinense, no entanto, não se sobressai apenas pelo volume de colheita – 725.610 mil toneladas, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) –, mas por um detalhe observado no paladar: a doçura.
Em 2018, a região que engloba os municípios de Corupá, Jaraguá do Sul, São Bento do Sul e Schroeder, no Norte, recebeu do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) o selo de Indicação Geográfica (IG) na modalidade Denominação de Origem (DO) pela produção da banana-nanica, considerada a mais doce do Brasil.
O reconhecimento da “nanicão de Corupá”, como é chamada popularmente, oficializou o que produtores locais sabem há mais de um século, desde que a variedade do subgrupo Cavendish passou a ser cultivada por imigrantes alemães: a combinação de clima ameno, solo fértil e relevo montanhoso influencia diretamente na concentração de amido.
Mas como isso acontece? De acordo com Eliane Müller, diretora da Associação dos Bananicultores de Corupá (Asbanco), as condições climáticas fazem com que o tempo entre o plantio e a colheita seja maior se comparado a outras regiões brasileiras. Como consequência, o carboidrato (amido) se transforma em açúcar durante o processo de amadurecimento.
“A banana é uma fruta tropical e precisa de 28ºC para produzir com excelência. Então, quanto mais próximo da Linha do Equador, melhor a produção. Mas nós aqui estamos no clima subtropical, indo de -5ºC, quando aconteceu a geada negra, a 42ºC. Com a chegada do inverno, a bananeira diminui o metabolismo, segura a fruta entre três a quatro meses a mais e aumenta a produção de açúcares naturais. É por isso que temos a banana mais doce do Brasil e, provavelmente, do mundo”, explica à Globo Rural.
Além de atestar a banana cultivada em Santa Catarina como a mais doce, o INPI destacou outras duas curiosidades sobre a fruta: possui maior teor de potássio, cálcio e manganês e é menos suscetível a doenças.
“A cultura da banana chega a receber até 10 vezes menos aplicações de produtos químicos do que em outras regiões produtoras. Seu diferencial é reconhecido, principalmente, pelo sabor, atribuído às condições locais que fazem com que o tempo necessário para a produção de um cacho seja maior, resultando em bananas mais aromáticas e saborosas”, diz o documento de registro do órgão nacional ligado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
O processo de reconhecimento
Para comprovar que a banana-nanica era realmente a mais doce, diversos estudos foram realizados durante quatro anos.
O primeiro envolveu a relação histórica da fruta com a região catarinense e teve o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) como parceiro. Na ocasião, campanhas entre comerciantes, promoções e um congresso internacional foram realizados para custear a pesquisa de R$ 80 mil.
“Tudo começou em 2006, quando recebemos a visita de um pesquisador da Costa Rica chamado Moisés Sotto (in memoriam), da Universidade Earth. Ele disse que estávamos apresentando a banana de uma forma errada, que tínhamos a mais doce do mundo e que já tinha resultados disso”.
O passo seguinte foi apresentar ao INPI o estudo sobre a influência direta do clima no sabor e na doçura da banana. A etapa contou com a parceria da Epagri/Ciram e do IBGE.
“Inicialmente, a cultura da banana na região iniciou em Corupá, cidade com a maior produção de Santa Catarina, mas descobrimos que outras três também tinham aptidão: Jaraguá do Sul, São Bento do Sul e Schroeder. Isso quer dizer que não é a muda da banana que é diferente. Não adianta eu mandar para ninguém uma muda da planta, é o local, o terroir. Banana é uma fruta de terreno plano e clima tropical, mas nós estamos em montanhas e no clima subtropical”, diz Eliane.
A etapa final do processo de reconhecimento foi dividida em duas partes:
O Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) estudaram a composição mineral da fruta. Em outro momento, a avaliação físico-química que comparou a banana “nanicão de Corupá” com variedades de outros Estados e também do Equador, Costa Rica e Havaí comprovou que o teor de açúcar era 25% superior às demais.
Câmeras fotográficas foram colocadas em bananais para monitorar o desenvolvimento das bananeiras durante 14 meses.
Segundo a diretora da Associação dos Bananicultores de Corupá, a segunda técnica teve o objetivo de mostrar que o inverno catarinense prolonga o ciclo da banana, diferente de outras regiões brasileiras, e, como consequência, interfere no acúmulo de amido e na produção de açúcar (veja na tabela abaixo).
Ciclo da banana
“Para mim, que sou filha de produtores de banana, o selo IG é o maior reconhecimento a nível mundial. Ele diz respeito a produtos únicos no mundo, como é a nossa banana. Ela é tão doce que se usar para fazer geleia, é 40% a menos de açúcar industrial na preparação”, finaliza.
O aumento no volume colhido, que é de 249 mil toneladas atualmente, e também as vendas da banana-nanica foram apenas dois dos inúmeros resultados positivos alcançados pela região após a aprovação do pedido de Indicação Geográfica.
A conquista contribuiu ainda com o empoderamento e o resgate do orgulho em produzir banana pelos agricultores, respeito da população urbana à comunidade produtora, introdução da banana como instrumento de turismo e em eventos esportivos e a criação de subprodutos (balas, geleias, pães, doces, ketchup, farinha, biomassa, cachaça, artesanato, etc).