O vento frio corta o ar em Hannover neste domingo, mas os 23 pavilhões da Agritechnica 2025, maior feira mundial de tecnologia agrícola, estão aquecidos por um frenesi de lançamentos e visitantes vindos de mais de 50 países. Lá fora, 5 °C. Lá dentro, motores elétricos, tratores híbridos e sistemas autônomos disputam a atenção do público.
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Os corredores estão cheios, em especial de famílias alemãs que aproveitam o domingo para conhecer as novidades — pais e filhos observam cabines futuristas e tratores elétricos como se fossem carros de Fórmula 1.
A indústria global de máquinas agrícolas mostra força em inovação, mas, nos bastidores, o clima é outro — de prudência e freio de mão parcialmente puxado. Depois de resultados financeiros fracos, as grandes montadoras John Deere, CNH (Case IH, New Holland) e AGCO (Fendt, Valtra, Massey Ferguson) chegam à feira com lançamentos mais seletivos e discursos voltados à eficiência e sustentabilidade.
Balanços em alerta
Os números explicam o tom contido. A Deere & Company viu suas vendas caírem 9% e o lucro líquido recuar 26% no terceiro trimestre fiscal de 2025. A empresa reduziu projeções e reconheceu que “clientes permanecem cautelosos” diante do excesso de máquinas usadas e das taxas de juros elevadas.
Na CNH Industrial, dona das marcas Case IH e New Holland, o lucro trimestral despencou de US$ 310 milhões para US$ 67 milhões, com retração de 7% nas vendas industriais. A companhia cita “destocking” — revendas enxugando estoques — e demanda fraca.
A AGCO Corporation, que controla Fendt, Valtra e Massey Ferguson, também relatou queda de 4,7% na receita global e reduziu a produção em regiões com procura menor, especialmente América do Norte e América do Sul.
O quadro geral é de moderação estratégica: menos volume de lançamento, mais atenção às margens e ao controle de custos.
O palco das inovações
Mesmo com o pé mais leve, o espetáculo tecnológico segue vibrante com os corredores que aquecem para compensar o frio externo. A Case IH apresentou o Puma 240 adaptado para funcionar com etanol hidratado, uma inovação pensada especialmente para o Brasil. O trator mantém o motor de seis cilindros, mas recebeu ajustes no sistema de injeção, taxa de compressão e software de gerenciamento eletrônico, permitindo que opere com o combustível renovável sem perda de potência.
A Fendt levou as novas séries 700 Gen7.1 e 800 Gen5, com freios hidráulicos auxiliares e sistemas automáticos de limpeza. A John Deere estreou um trator 100% elétrico de 130 cv, arquitetura de 800 volts e operação autônoma.
Entre as novidades asiáticas, a chinesa ZSHX Advanced Tractors promete romper a barreira de preço com um modelo elétrico de 100 mil euros, quase metade do valor dos concorrentes europeus.
Outros lançamentos são esperados por startups e empresas de monitoramento A Deutz-Fahr apresentou o pacote ADAS (Advanced Driver Assistance System), com detecção de obstáculos e reconhecimento de sinalização — tecnologia que antecipa a condução autônoma no campo.
Aliás, autonomia, energias alternativas e coleta de dados são os propulsores de todos os lançamentos, que serão apresentados entre 9 e 15 de novembro.
Inovação em marcha lenta
Segundo o engenheiro suíço Roger J. Stirnimann, especialista em tecnologia agrícola que apresentou sua visão na Agritechnica 2025, o setor vive uma “transição de paradigma: o desenvolvimento deixou de ser impulsionado por regras ambientais e passou a mirar eficiência e sustentabilidade”.
Na prática, isso significa que a inovação não parou — mas anda com ritmo mais controlado, esperando que o mercado se estabilize.
*A jornalista viajou a convite da DLG, que organiza a Agritechnica