
O engenheiro agrônomo guianense Muhammad Ibrahim foi eleito nesta terça-feira (4/11) para o cargo de diretor-geral do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA). Ele obteve 24 votos contra 8 do concorrente, o ex-ministro da Agricultura do Uruguai, Fernando Mattos, que era apoiado pelo Brasil. A eleição ocorreu em Brasília, durante a Conferência dos Ministros da Agricultura das Américas.
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Ibrahim será diretor-geral do IICA de 2026 a 2030. Ele sucederá o argentino Manuel Otero, que está no cargo desde 2018. Nascido na Guiana, o dirigente tem mestrado em ciências agrícolas e recursos naturais com ênfase em nutrição animal e é doutor em ciências agrícolas e ambientais com especialização em pecuária e nutrição animal pela Universidade de Wageningen, na Holanda.
Ele tem 35 anos de experiência na área. Foi diretor-geral do Centro Agronômico Tropical de Pesquisa e Ensino (Catie), equivalente à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), na Costa Rica, e funcionário do IICA.
Ibrahim teve o apoio formal da Comunidade do Caribe (Caricom), formada por 14 países. México e Paraguai também declararam voto no guianense. Houve aplausos e comemoração no plenário quando a comissão eleitoral divulgou o alcance dos 18 votos necessários para vencer o pleito.
Nas vésperas da eleição, Ibrahim declarou que tinha o apoio de 25 países. O IICA é formado pelos 34 membros da Organização dos Estados Americanos (OEA), mas Nicarágua e Venezuela não votam. O novo diretor conquistou 24 dos 32 votos possíveis.
Em discurso após anúncio do resultado, Ibrahim disse que será o diretor-geral “de todas as regiões” das Américas. Ele se disse “comprometido” a promover um ambiente de “parceria, colaboração e inovação” entre os membros.
Disputa acirrada
A eleição foi marcada por uma disputa acirrada entre países produtores e importadores. O outro candidato, Fernando Mattos, teve apoio de países do Sul do continente e que têm maior expressividade na produção agrícola. O voto é secreto, mas os Estados Unidos haviam anunciado apoio a Ibrahim.
O Brasil apoiou Mattos. A justificativa é que a eleição de um candidato do Mercosul daria mais protagonismo ao setor produtivo sul-americano e poderia fortalecer o IICA politicamente, por conta do perfil do ex-ministro uruguaio, que também tem histórico de atuação em entidades de classe.
Com Ibrahim na direção, países da América Central e do Caribe pretendem manter acesso a recursos estratégicos em projetos de resiliência climática e de aumento da produção local.
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Ibrahim disse que há vários desafios e incertezas para enfrentar. “Estamos enfrentando muitas incertezas. Para lidarmos com esses desafios, nós temos que fazer a colaboração com os Estados-membros”, disse em discurso.
“O IICA não pode dar conta de todos esses desafios com recursos limitados, precisa de pessoas técnicas e especializadas. E precisa focar seus recursos financeiros limitados para fazer impacto significativo para seus países-membros”, completou.
O IICA
O IICA tem 83 anos de fundação, com sede em San Jose, na Costa Rica. O órgão tem um orçamento anual de US$ 33 milhões, fruto da contribuição financeira dos membros e outros rendimentos. O instituto tem cerca de 500 funcionários e representações em 32 países do continente americano.
A carteira de projetos atualmente é de US$ 1 bilhão, dos quais são executados US$ 250 milhões por ano. Em 2025, a captação de recursos para os projetos deve bater recorde de US$ 400 milhões.
O órgão desempenha papel fundamental no desenvolvimento agrícola do continente, em especial dos países mais pobres e que não são autossuficientes na produção de alimentos.
Por meio de projetos contratados com os governos nacionais, o IICA atua em temas como tecnologia e inovação para a agricultura, sanidade agropecuária e inocuidade dos alimentos, comércio agropecuário internacional, agricultura familiar, gestão dos recursos naturais e bioeconomia.
Hub de inovação
Manuel Otero, que deixará o cargo de diretor a partir de 2026, disse que consolidou o IICA como uma instituição “moderna, desburocratizada e próxima aos países” durante a sua gestão. “A agricultura das Américas é o farol da segurança alimentar e da dignidade rural para o mundo”, afirmou durante o segundo dia da Conferência dos Ministros da Agricultura das Américas 2025, em Brasília.
Segundo Otero, o IICA se transformou em “um verdadeiro hub de inovação e cooperação agrícola no continente”. Em seu discurso, ele ressaltou que o instituto deixou de ser apenas um organismo técnico para se tornar um “fornecedor de soluções” capaz de influenciar políticas públicas e construir uma nova narrativa para o setor agropecuário baseada em sustentabilidade, inovação e compromisso social.






