Uma fazenda histórica tornou-se referência no Rio Grande do Sul no uso de técnicas de manejo para o bem-estar bovino. Criada por volta de 1875, a Estância Luz de São João, em São Gabriel (RS), foi uma das primeiras propriedades gaúchas a instalar uma mangueira circular antiestresse, que garante o manuseio do gado com menor impacto e estresse para o animal.
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A experiência, que já tem 15 anos, é hoje copiada por vários criadores gaúchos, devido às melhorias na dinâmica de trabalho com os animais, além dos ganhos financeiros.
A estrutura foi construída pelo pecuarista Celso Jaloto, que assumiu, junto com a esposa, a administração da fazenda em 2003. “Recebemos a propriedade como herança, e era um criatório de gado Braford, que é mais alto e arredio do que as raças britânicas mais comuns aqui na região. Como tínhamos que fazer mudanças nas instalações, busquei ideias que ajudassem a ter um melhor controle dos animais”, explica.
O projeto foi inspirado nos estudos da doutora em ciência dos animais Mary Temple Grandin. Diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (TEA), a cientista norte-americana desenvolveu uma estrutura de mangueira circular e fechada nas laterais que evita excesso de tensão entre os animais, seguindo princípios semelhantes aos usados para acalmar pessoas com TEA.
Fazenda no RS usa técnica antiestresse de manejo do gado
A ideia da estrutura é usar o comportamento natural de locomoção do gado. O formato circular diminui o estresse dos animais na hora do manejo. As paredes são fechadas para que os bovinos não tenham distrações e caminhem sem esforço até o tronco de contenção.
“Assim os animais não sofrem com barulho em volta, não sentem medo. Ela é pensada para não ter pontos que provoquem parada dos animais. Eles não empacam, não impedem fluxo ou tentam retornar”, explica Jaloto.
Segundo o criador, a redução do estresse dos animais diminui o tempo de manuseio e, consequentemente, ajuda na manutenção do peso do gado. O sistema também reduz perdas nas carcaças causadas por hematomas e lesões. Além disso, no caso das fêmeas, a mangueira ainda evita perda embrionária.
“Para os criadores, estas vantagens também se traduzem em ganho de tempo no processo, além de diminuírem a necessidade de uma equipe maior. Reduzi pela metade o tempo de lida do rebanho”, explica.
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A mangueira possui cerca de 30 metros de comprimento, de frente a fundo, com os bretes de aproximação. O brete tem capacidade para até 15 animais adultos. “Mas um modelo desses pode ser feito para qualquer tamanho de rebanho”, destaca Jaloto.
A estrutura também permite que os trabalhadores acessem os bovinos em vários pontos, para realizar serviços como vacinação ou condução para tronco de contenção.
Investimento que se paga
O sucesso da experiência fez com que outros criadores construíssem currais inspirados no trabalho da Estância Luz de São João. No entanto, Jaloto reconhece que os pecuaristas gaúchos precisavam avançar ainda mais no uso desse modelo.
“A gente entende que um criador que já tem uma mangueira na propriedade tenha receio de gastar para reconstruir. Mas vemos vários casos de currais novos que foram construídos com um modelo antigo, o que é um erro. O investimento no bem-estar animal tem uma relação de custo e benefício que se paga”, afirma.
Especializada na genética Braford, a Estância Luz de São João produz touros para leilões, ventres e embriões. Atualmente, a propriedade, que tem em torno de 1 mil hectares, conta com um rebanho de 1.200 animais.