
O vice-presidente de Agronegócios e Agricultura Familiar do Banco do Brasil, Gilson Bittencourt, afirmou nesta quinta-feira (30/10) que o uso de tecnologia tem permitido à instituição ser mais assertiva na vedação de financiamentos rurais em áreas com alguma irregularidade ambiental. Segundo ele, o próximo passo é impedir a concessão do crédito rural a quem desmatou ilegalmente, mesmo que a propriedade ainda não esteja embargada.
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“Tem vedações que antes ficavam apenas no discurso e hoje se consegue colocar na prática, e o Banco do Brasil tem sido fundamental, que é vedar financiamento em unidade de conservação, em terra indígena, em terras quilombolas. O próximo passo, que começa a partir do ano que vem, é vedar financiamento para quem desmatou ilegalmente, ou seja, não será preciso esperar que aquela área seja embargada. Se houve desmatamento ilegal, fazemos essa ação para evitar que o processo do crédito contribua ainda mais para isso”, afirmou Bittencourt em um evento promovido pelo BB em Brasília.
A vedação está prevista no Manual de Crédito Rural (MCR). A partir de 2 de janeiro de 2026, todas as instituições financeiras deverão verificar se houve supressão da vegetação nativa após 31 de julho de 2019 no imóvel rural que será financiado com recursos controlados ou direcionados. A consulta deverá ser feita em dados disponibilizados pelo Ministério do Meio Ambiente com base no sistema Prodes (Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Caso o sistema constate desmatamento no período, o produtor rural deverá apresentar uma série de documentos que comprovem que a supressão foi legal, como a autorização do órgão ambiental responsável. O mutuário também poderá entregar laudo técnico de sensoriamento remoto para demonstrar ausência de desmate.
Bittencourt disse que o governo tem desenvolvido uma série de exigências com visão ambiental para a concessão de crédito rural. Segundo ele, a tecnologia tem ajudado muito no processo.
“Há pouco tempo atrás se financiava uma área e não se sabia se aquele financiamento efetivamente estava em uma unidade de conservação, em terra indígena, se estava em cima de reserva legal ou não. Hoje, com o desenvolvimento da tecnologia, você consegue ver, via imagem de satélite ou via Cadastro Ambiental Rural (CAR) de cada propriedade, onde esta cada imóvel, cada empreendimento financiado”, acrescentou.
“As normas que vêm avançando, vinculando tecnologia de rastreamento, já conseguem saber o que, onde e quando está produzindo. Isso ajuda a pensar a redução do desmatamento e ajuda a mitigar a própria perda em função da mudança climática. A tecnologia tem sido fator fundamental”, completou.
Bittencourt também comentou as perspectivas do BB para a COP30, em Belém. “Se tiver redução do negacionismo sobre as mudanças climáticas, já teremos uma vitória muito grande (…) Se tivermos com que cada empresa ou pessoa, olhe o que está fazendo, [pense em] como fazer melhor, seja por meio de produção mais sustentável, menos emissão de gases de efeito estufa, seja focada em perspectiva de preservação do planeta, já teremos ganho efetivo”, pontuou.
José Ricardo Sasseron, vice-presidente de negócios com governo e sustentabilidade empresarial do BB, afirmou no mesmo evento que o Brasil pode assumir a liderança das ações para enfrentamento das mudanças climáticas. Segundo ele, o banco tem compromissos, até 2030, de financiar R$ 30 bilhões em projetos de energia renovável, recuperar 1,5 milhão de hectares e preservar 2 milhões de florestas.
Na parte ambiental, Gilson Bittencourt disse que o foco do BB está em ajudar a resolver os dois pontos ligados ao setor agropecuário responsáveis pela maior quantidade de emissão de gases de efeito estufa: desmatamento e pecuária.
“Não adianta falar em melhoria tecnológica se não reduzir o desmatamento. E se não melhorar a nossa produção pecuária não conseguimos reduzir as emissões. Todo debate tecnológico passa a ser sobre esses dois focos. Se não agir nesses dois aspectos não vamos conseguir entregar o que nos comprometemos”, afirmou no evento.
“Se reduz emissão de metano na pecuária melhorando a qualidade do solo, da pastagem, da alimentação, tem uma série de questões que o financiamento é chave e tem sido ação central do banco. Quanto mais solo eu recupero, melhor fica a pastagem e produzo mais animais em área menor. Quanto menos área, menos pressão tende a fazer para o desmatamento”, completou.






