O Banrisul enviou quase duas mil propostas de financiamentos ao BNDES para a renegociação de dívidas rurais na linha aberta há uma semana. Os pedidos comprometeram todo o saldo inicial destinado à instituição gaúcha no programa com os recursos federais, de R$ 880,7 milhões.
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Com o repasse dos valores ao Banrisul garantido, os 2 mil produtores voltaram a ficar adimplentes no sistema financeiro e já podem buscar crédito novo com bancos ou fornecedores privados, como revendas, cooperativas e tradings, em momento decisivo para a preparação da safra de soja no Estado, disse Fernando Lemos, presidente do Banrisul, ao Valor.
Mais de 60% dos recursos e 85% das operações captadas no BNDES atenderam pequenos e médios produtores gaúchos. A regra para aplicação da linha previa destinação mínima de 40% dos valores a esse público.
“Temos uma relação muito forte com o agro. Estamos tentando ‘arrumar o campo’. Os últimos quatro anos foram de muita dificuldade, com enchentes e estiagens. A situação do agronegócio no Rio Grande do Sul ainda é preocupante”, disse Lemos.
Quem acessou a linha pode “voltar a trabalhar” sem a pressão de estar inadimplente, afirmou. Para tentar fazer com que os recursos chegassem antes aos agricultores gaúchos, o Banrisul criou um sistema específico para transitar os pedidos de renegociação e acelerar a análise técnica da operação e de risco de crédito.
Enquanto outros bancos ainda organizam sistemas e ritos internos para oferecer a linha, o Banrisul já consumiu todo o valor reservado. A demanda foi superior ao limite disponibilizado, disse Lemos. Até agora, apenas a instituição gaúcha encaminhou propostas de R$ 12 bilhões do BNDES.
Produtores gaúchos reclamam de exigências
Produtores gaúchos reclamam de exigências de garantias adicionais para formalizar os financiamentos. O Banrisul disse que a regra é manter as garantais originais do que é renegociado. Am alguns casos, é solicitada a hipoteca do imóvel para cobrir a nova operação. É assim para os custeios, por exemplo, pois muitos estavam cobertos apenas com penhor de safra. Como a renegociação é por até nove anos, a instituição tenta agregar outros garantidores do crédito.
O banco deve abrir a linha com juros livres na próxima semana para atender casos específicos de dívidas maiores que ficaram de fora do programa com recursos públicos. A carteira de crédito de agro do Banrisul está em R$ 13,4 bilhões, dos quais R$ 5 bilhões vencem em 2025 e são foco das ações de renegociação ou alongamento.
Cerca de R$ 2 bilhões em operações foram prorrogadas com aporte de R$ 150 milhões do governo do Estado para pagamento de subsídios e manutenção dos juros originais. Outros R$ 700 milhões em vencimentos já foram alongados por três anos com autorização do governo federal em maio.
O BTG citou em relatório recente que vê “risco de deterioração” da carteira de agro do Banrisul pelo endividamento e as perdas nas lavouras gaúchas. Lemos contestou. Segundo ele, não houve um olhar detalhado para as características das operações do banco.
Com atuação concentrada no Rio Grande do Sul, onde estiagens e enchentes têm causado perdas desde 2020, o Banrisul aposta na atuação próxima aos clientes para garantir a estabilidade da carteira.
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Pelas características do Estado, a maior parte dos clientes de agro do Banrisul é de pequenos e médios produtores, que acessam recursos controlados do Plano Safra, menos impactados pela Selic. O público não está tão alavancado como grandes produtores, segundo o banco. Por isso, a taxa de inadimplência da instituição segue abaixo de 2%, em R$ 200 milhões, contra um índice crescente no sistema financeiro nacional, que chegou a 5,14% para pessoas físicas em agosto, disse o superintendente de Agronegócios, Robson Santos.
“Temos um cuidado especial com a agricultura, e a inadimplência não assusta muito, pois é menor que o índice do Brasil. A nossa base de clientes é de pequenos produtores, com produção diversificada. Isso tem sido favorável em momentos de dificuldades com o clima”, afirmou Lemos.