Neste fim de semana, Fortaleza sediará a Conferência da Cidade, última etapa antes do envio do novo Plano Diretor à Câmara Municipal. O evento, realizado no Centro de Eventos do Ceará, marca a reta final de um processo que define o planejamento urbano da capital para os próximos 10 anos. Um dos principais pontos da proposta é a ampliação das Zonas de Proteção Ambiental (ZPAs), que devem crescer 18% em relação ao plano anterior — o equivalente a mais de 1.075 hectares.
Moradores da Sabiaguaba, como o comerciante Beto da Tapioca, defendem a preservação dessas áreas naturais, preocupados com a ameaça à fauna local. “Tem que poder reunir o caranguejo guaiamum, que é aqui nessa região nossa que tem, bem na beiradinha. Tem que proteger o aratu, a ostra. E também tem o mangue, que se essa área penetrar dentro, vai terminar matando o mangue”, alertou. A aposentada Alice Monteiro também se manifestou: “Aqui ninguém deixa cortar mata não. Aqui é o melhor lugar que você tem para morar, porque aqui é muito calmo”.
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O que prevê o novo Plano Diretor
O novo Plano Diretor prevê a divisão da Sabiaguaba em três zonas: o Parque Natural da Sabiaguaba (ZPA2), a Mata do Miriú (ZPA3) e uma APA (Área de Proteção Ambiental), onde construções são permitidas, mas com exigência de sustentabilidade. Segundo Artur Bruno, presidente do Instituto de Planejamento de Fortaleza (Iplanfor), “essas áreas estão efetivamente preservadas. E algumas outras áreas que consideramos essenciais para sua manutenção também foram incluídas como zona de preservação ambiental”.
A proposta também amplia a macrozona de ambiente natural em 38,43%, totalizando 2.942 hectares — o equivalente a mais de 4 mil campos de futebol. “Lamentavelmente, Fortaleza só tem 16% das áreas verdes que tinha. Só nos últimos sete anos, nós perdemos 800 hectares. Então, precisamos não só manter como ampliar essas áreas verdes”, disse Bruno, destacando os problemas relacionados ao aumento da temperatura e das inundações na cidade.
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Outro ponto de destaque no plano é a mudança na zona do aeroporto, que deixa de ser considerada multifuncional e passa a ser classificada como zona de uso sustentável (ZUS). Dessa área, 96 mil metros quadrados se tornarão ZPA. “Pode construir? Pode, com limites”, explicou Artur Bruno. Segundo ele, áreas que já contam com projetos aprovados serão classificadas como ZUS, permitindo edificações sob condições específicas.
Para o professor Jader Santos, do Departamento de Geografia da UFC, preservar apenas áreas distantes dos centros urbanos não é suficiente. “Não adianta somente preservar em áreas das periferias ou distantes, mas também nas regiões com maior pressão demográfica. A criação de espaços verdes e a manutenção dos serviços ambientais precisam ocorrer em toda a cidade”, afirmou.
O Plano Diretor busca reverter perdas ambientais significativas. Fortaleza, que já teve extensa cobertura verde, viu essa realidade encolher drasticamente. A nova proposta tenta recuperar parte desse passivo. “É bom a gente preservar. Preservar porque é um ambiente que serve para nós mesmos”, comentou Edson Alencar, servente de pedreiro que participou das discussões públicas sobre o plano.
A Conferência da Cidade representa, assim, não apenas um passo técnico, mas um momento de escuta da população e de construção coletiva das diretrizes que nortearão o desenvolvimento urbano de Fortaleza até 2035. A expectativa é que, com o debate público e técnico reunido neste encontro, o Plano Diretor chegue à Câmara com mais respaldo social e equilíbrio ambiental.
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