
A chegada da primavera, especialmente no Sul do Brasil, é um momento de atenção para pecuaristas, devido aos os cuidados com as infestações de carrapatos nos rebanhos. Segundo especialistas, neste período do ano os criadores de gado devem aumentar os cuidados, além de observar os animais e identificar possíveis sinais de infestação dos parasitas, que podem gerar problemas de saúde para os animais e perdas financeiras para os proprietários de bovinos.
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O Rhipicephalus microplus, conhecido como carrapato-do-boi, é um dos principais vilões da bovinocultura. As infestações nos animais podem provocar perda de peso, diminuição na produção de leite, danos no couro, anemia, entre outros malefícios.
Nos campos do Sul do Brasil, onde é mais comum a criação de raças europeias, que são mais sensíveis ao carrapato do que as zebuínas, a preocupação com o carrapato é ainda maior. O parasita pode se reproduzir em até três gerações por ano: a primeira surge na primavera, a segunda no verão e a terceira no outono, período em que há maior número de infestações.
“Cada carrapato pode reduzir, em um dia, o peso de um animal em um grama. Em infestações acima de 40 carrapatos por dia, o controle dos parasitas se torna economicamente necessário, pois pode gerar uma perda de até uma arroba por ano. Em animais de raças como Angus, que são mais sensíveis, a infestação pode chegar até 500 carrapatos por dia”, informa Renato Andreotti e Silva, pesquisador da Embrapa Gado de Corte.
No caso do carrapato, o controle das infestações é particularmente desafiador porque o ciclo reprodutivo desse parasita tem um ritmo de crescimento exponencial. “Cada fêmea de carrapato é capaz de produzir até 3 mil ovos. No fim do ciclo evolutivo, cada mil fêmeas que caem no solo podem gerar 3 milhões de parasitas”, explica Renato.
Segundo Ana Eliza Fonseca, médica veterinária e extensionista rural da Emater/RS, a primavera é o momento mais indicado para realizar o controle no Sul, já que o número de parasitas é menor depois do frio do inverno e eles se encontram em uma fase de maior vulnerabilidade aos produtos químicos.
“Na minha propriedade, na entrada da primavera já damos ivermectina para animais, o que dá uma ajuda com o carrapato na arrancada dos meses mais quentes”, afirma José Paulo Dornelles Cairoli, presidente da presidente da Associação Brasileira de Angus e Ultrablack. “Depois disso é pulverização ou banho, e acompanhar a cada 30 dias”, afirma.
Há alguns anos, os criadores de Angus, em conjunto com a Embrapa, estão realizando pesquisas de seleção genética de animais mais resistentes a carrapatos. “Em mais dois anos devemos ter resultados de estudos que poderão trazer mais informações sobre a resistência a esses parasitas”, acredita.
Ana Eliza destaca que apenas 5% dos carrapatos são encontrados nos animais, enquanto 95% permanecem no ambiente. Por isso, a importância de adotar a quarentena, que isola e monitora animais novos, prevenindo a propagação de doenças e parasitas resistentes. Além disso, o rodízio de áreas, concentrando os animais em espaços menores também é uma estratégia.
Em Uruguaiana (RS), o criador Kevin Madeira Ribeiro adotou o rodízio de áreas para reduzir as infestações de carrapatos
Arquivo pessoal
No interior de Uruguaiana (RS), próximo à fronteira com a Argentina, a criador de gado Kevin Madeira Ribeiro, de Uruguaiana (RS), passou a adotar essa técnica após ter sofridos muitos problemas com infestações de carrapatos. O pecuarista cria em torno de 100 cabeças de gado da raça Braford em uma área de 90 hectares.
A pastagem foi reduzida em piquetes menores, em que o gado fica mais concentrado, em períodos curtos, de apenas quatro dias. Após consumirem o capim, os animais só retornam para o mesmo local depois de 28 dias.
“Dessa forma, o pasto fica menor, o que gera uma incidência maior de sol, dando menos chances da larva do carrapato conseguir sobreviver”, explica. Segundo Kevin, antes de adotar esse sistema, ele tinha que aplicar carrapaticidas a cada 30 ou 40 dias. Agora, a frequência foi reduzida para 60 dias nos meses mais quentes. “Apliquei a última vez em maio, e só devo passar o produto de novo no fim de novembro”, afirma.
Kevin destaca as perdas que uma infestação de carrapatos pode causar. “No meu rebanho, o GMD (ganho médio diário, aumento de peso de um animal por dia) varia entre 750 e 900 gramas. Quando o animal tem carrapato, pode cair para 450 a 500 gramas. Ou seja, em 30 dias perde-se nove quilos de carne”, explica o pecuarista.
Outra estratégia recomendada é o pastejo alternado com outras espécies, como equinos e ovinos, no mesmo piquete, o que ajuda a interferir no desenvolvimento do carrapato. O manejo sanitário e a nutrição adequada também são indicados pela Emater/RS como auxiliares no combate a parasitas, fortalecendo o sistema imunológico e refletindo no cuidado que o produtor tem com os animais, o que influencia diretamente nos resultados finais para a comercialização.