
A inadimplência do crédito rural subiu para nível recorde neste ano, aumentando o risco das concessões de crédito tanto por fornecedores de insumos quanto por bancos. A safra recorde garantiu uma melhora nos ganhos dos produtores este ano, mas o cenário de recuperação dos inadimplentes ainda é incerto, considerando as previsões de queda na rentabilidade da produção de grãos na safra 2025/26.
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De acordo com estudo da L.E.K. Consulting, baseado em dados do Banco Central, a taxa de inadimplência do crédito rural concedido a pessoas físicas saltou de 0,94% em agosto de 2023, para 2,13% em agosto do ano passado e para 5,14% no oitavo mês deste ano, sendo o mmaior nível na série histórica, iniciada em 2011.
A inadimplência do crédito rural concedido a pessoas jurídicas passou de 0,33% em agosto de 2023, para 0,57% em agosto do ano passado e 0,62% no oitavo mês de 2025.
Bruno Brandi, gerente sênior na L.E.K. Consulting, diz que o aumento da inadimplência é resultado de um ciclo de margens pressionadas desde a safra 2022/23. “O pico de preços de grãos na safra 2021/22 impulsionou um movimento de investimentos em ampliação de área, renovação de maquinário e em infraestrutura. O problema é que as safras seguintes foram impactadas por custos mais altos e preços mais baixos”, diz Brandi.
Nas safras 2022/23 e 2023/24, uma parcela importante de produtores passou a operar com prejuízo. Houve uma melhora na safra 2024/25, mas insuficiente para recompor o caixa consumido pelas duas safras anteriores, especialmente onde houve rolagens com juros e postergações de pagamento, observa o especialista. A situação é mais crítica entre produtores com menor produtividade e menos tecnificados.
De acordo com o estudo, que considera a produtividade esperada divulgada via Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), a parcela de agricultores em Mato Grosso que produziram com prejuízo, chegou a 20% nas safras 2022/23 e 2023/24. Esse percentual baixou para 15% na safra 2024/25.
Em relação à segunda safra de milho, 90% produziram com prejuízos na safra 2022/23, 70% na safra 2023/24 e 65% no ciclo 2024/25.
O cenário para a safra 2025/26 indica uma redução na rentabilidade do produtor. O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP) projeta queda de 36,7% na rentabilidade da soja na safra 2025/26, e de 92% na rentabilidade do milho. A causa para a queda é a combinação de preços estáveis dos grãos e aumento nos custos dos insumos.
Brandi considera que a inadimplência em nível recorde e um cenário de margens de lucro menores na próxima safra geram dúvidas sobre quando o mercado volta ao normal. Ele também cita como fatores que dificultam a recuperação dos produtores a perspectiva de taxas de juros ainda de dois dígitos e preços dos grãos sem elevação.
“Houve uma melhora no desempenho da safra 2024/25, mas não suficiente para compensar as perdas das safras anteriores. A recuperação do setor vai demorar ainda alguns ciclos”, diz Brandi. Ele observa que produtores com mais disciplina financeira e que adotam instrumentos de proteção, como travas de preços e seguros, podem sofrer menos o impacto dos ciclos de preços baixos das commodities. “Os produtores que conseguiram ter lucro têm chance de se saírem melhor”, afirma.