
Mesmo com a abertura dos protocolos nessa quinta-feira (16/10) e o recebimento de 1,2 mil propostas de financiamentos na linha para renegociação de dívidas rurais no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em 24 horas, ainda deve demorar para o dinheiro começar a chegar nas agências bancárias e, efetivamente, aos produtores rurais para quitarem seus passivos.
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O trâmite é demorado e há complexidade nas operações por terem caráter inédito. São novos empréstimos de crédito rural para liquidar ou amortizar dívidas. Não são prorrogações ou renegociações. O Banco Central ainda não solucionou questões técnicas para registro dos financiamentos no Sistema de Operações do Crédito Rural e do Proagro (Sicor), o que está previsto apenas para segunda-feira (20/10). Procurado, o BC não respondeu. O BNDES confirmou que aprovou mais de 1 mil operações desde ontem.
Isso já era esperado pelos agentes financeiros. A preocupação, porém, é com o impacto que a demora pode ter sobre o financiamento da safra 2025/26. Muitos produtores querem “limpar o nome” e sair da inadimplência para conseguir novos empréstimos para o custeio do plantio que se avizinha. O trâmite demorado pode atrapalhar os planos.
A avaliação de executivos de bancos é que o “carimbo” de adimplente para muitos produtores só deve ficar visível para o mercado financeiro em dezembro deste ano, quando poderá ser tarde para financiar a nova safra.
“É uma falácia que essa medida será estruturante para quem está endividado voltar a acessar crédito já nesta safra”, disse uma fonte.
O caminho é longo entre envio de proposta ao BNDES, reserva de recurso, envio de código para registro da operação no Sicor, formalização do contrato com produtores, coleta de assinaturas de clientes e avalistas, registro de garantias e, finalmente, repasse de recursos pelo BNDES aos bancos e deles aos produtores para quitação de débitos. Só nesse momento as operações inadimplentes são saldadas. Ainda há um processo de comunicação ao BC para posterior publicidade ao mercado financeiro sobre o status adimplente desses agricultores. O processo pode levar mais de um mês, disse uma fonte.
O Banco do Brasil, que recebeu saldo de R$ 4,3 bilhões, ainda não começou o envio de propostas ao BNDES porque depende do Sicor para isso de acordo com o processo adotado internamente, apurou a reportagem. Várias instituições estão na mesma situação, alertou outra pessoa a par do assunto. A linha terá R$ 12 bilhões distribuídos inicialmente entre 47 agentes financeiros.
Muitos bancos ainda nem começaram a oferecer a linha nas agências, relataram produtores que buscaram o financiamento. A situação é pior no Rio Grande do Sul, Estado afetado por estiagens consecutivas e enchentes desde 2020.
A demanda está alta entre os gaúchos. O Banrisul saiu na frente. Criou uma nova esteira para recepcionar e rodar os pedidos de renegociação dos produtores rurais de sua carteira nas etapas de enquadramento técnico e de crédito, como mostrou a reportagem.
Com isso, já consegue reservar os recursos junto ao BNDES e garantir os limites de crédito do cliente, que é avaliado por CPF, algo que deve gerar concorrência entre as instituições financeiras. Quando o Sicor estiver pronto, as operações já poderão ser registradas para posterior emissão do contrato.